Escola do chimarrão: conheça o projeto gaúcho que empodera crianças há 25 anos

Escola do chimarrão: conheça o projeto gaúcho que empodera crianças há 25 anos

Localizado na Capital Nacional do Chimarrão, Venâncio Aires, iniciativa se propõe a divulgar o hábito para turistas e alunos de escolas

Brenda Fernández

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No mesmo chão em que tomou os primeiros goles amargos de chimarrão e acompanhou a família na lida da produção ervateira, ela hoje ensina sobre a cultura para crianças e adolescentes. Num aconchegante galpão rústico de madeira, há 25 anos Rejane Rüdiger Pastore trabalha o empoderamento e a cidadania por meio da bebida tradicional. A Escola do Chimarrão foi criada com a ajuda de familiares e amigas, mas o espaço guarda o jeito de Rejane: a organização, a foto dos pais emoldurada na parede e a cuia sempre preparada para a partilha. 

Integrando o roteiro da Rota do Chimarrão de Venâncio Aires, cidade considerada a Capital Nacional da bebida, a Escola do Chimarrão recebe entre 60 a 80 turistas por mês para uma aula de informação e preparo do mate gaúcho. O letreiro de boas-vindas na fachada em quatro idiomas – português, inglês, espanhol e alemão – atrai visitantes de vários lugares do mundo, incluindo Alemanha e África do Sul. 

“Quando fui sócia da empresa de erva-mate do meu pai percebi que no setor ervateiro explorava pouco a cultura que envolve o chimarrão, como divulgar as propriedades medicinais que a bebida tem”, explica. A partir desta identificação começou em 1998 a mobilização para apresentar o hábito sobretudo para crianças e jovens. 

Com um motorhome equipado e batendo nas portas das escolas da cidade, a Escola do Chimarrão levou o projeto itinerante “Mateando nas escolas” para os estudantes. “A criança se sente empoderada quando vê que ela tem a sua cuia a sua bomba. Ela fica feliz porque sente sua autoestima valorizada. E isso nós entendemos que é cidadania”, conta emocionada ao lembrar da ajuda da família e das amigas Liliane e Beatriz na empreitada que em seguida tomou “proporções imensas”. “Aí eu disse ‘olha, nós temos que criar uma logomarca né?’”, conta e ri. 

Ensinando 36 tipos de preparo de chimarrão 

Escola ensina 36 modelos de preparar o chimarrão | Foto: Ricardo Giusti

As mais de 30 bancadas individuais estão montadas quando os visitantes chegam para a aula agendada. Sobre a estrutura de madeira que serve como uma mesa estão os principais itens: cuia de porongo, erva-mate, bomba e a térmica. Abaixo, acessórios que vão ajudar na montagem de diferentes modelos de chimarrão. São espátulas, colher, pincel, entre outras miniaturas para darão precisão na decoração da cuia. 

Como em uma sala de aula, as bancadas são alinhadas em fileiras. As mesas individualizadas foram adquiridas durante a pandemia de covid, como forma de manter isolamento seguro entre as pessoas. À frente das bancadas, a professora da Escola do Chimarrão, Rejane Rüdiger Pastore, começa a explicar as primeiras instruções: “pegue a térmica e coloque um pouco de água no fundo da cuia.” Em poucos minutos, o ‘ronco’ que marca o término do primeiro chimarrão arranca a risada da turma. 

Dentre as 36 montagens de chimarrão ensinadas estão: o de canhoto, com a bomba do lado invertido; o de namorados, com duas bombas; o prego, usado para quem tem costume de mexer na bomba; o formigueiro, e outros diversos decorados. 

Quem acha que a aula é só sobre fazer chimarrão está enganado. Também é objetivo do projeto difundir os benefícios da erva-mate para a saúde. E para mostrar como o item pode estar ainda mais inserido na rotina do gaúcho, são apresentados produtos e receitas à base de erva-mate. Dentre elas: bolo, chá e licor de erva-mate. 

Produtos locais feitos à base de erva-mate | Foto: Ricardo Giusti

As visitas à Escola do Chimarrão são somente por agendamento. Os valores para as aulas dependem do número de pessoas por turma. Mais informações sobre visitas pelo site da escola, neste link, e pelos contatos (51) 99214-6562, rejaneescola@yahoo.com.br , pedro@escoladochimarrao.com.br 

Venâncio Aires, a Capital Nacional do Chimarrão

Com 131 anos de vida e distante 128 km de Porto Alegre, Venâncio Aires é reconhecida como a Capital Nacional do Chimarrão desde 2009, por meio de lei estadual.

O pórtico na entrada da cidade já anuncia o título que dá orgulho aos venâncio-airenses. O município situado no Centro do Estado, com pouco mais de 72 mil habitantes, conta com o Parque Municipal do Chimarrão, onde é realizada a cada dois anos a Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim) desde 1986. 

Já o Dia do Chimarrão foi intitulado em 2003, quando o então governador Germano Rigotto sancionou uma lei que instituiu o dia 24 de abril como a data do Chimarrão e do Churrasco, dois símbolos típicos do Rio Grande do Sul. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895