Giovanna, a menina que perdeu casa na enchente, recebe doação de livros

Giovanna, a menina que perdeu casa na enchente, recebe doação de livros

Família do bairro Sarandi, na zona Norte de Porto Alegre, ganhou apoio a partir de reportagem publicada no Correio do Povo

Cristiano Abreu

Giovanna ficou conhecida como "a menina que lia livros"

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Milhares de gaúchos experimentaram dor e tristeza com as inundações que castigaram o Estado. Juntos da água, ausência e desolação invadiram lares, trabalhos e espaços de convivência, alguns destes transformados para sempre. Além das deixadas pela lama em ruas e paredes, restaram marcas emocionais, contudo algumas são positivas.

Esperança e solidariedade chegam de diferentes lugares para a família da pequena Giovanna. A menina, que acabou de completar 8 anos, tem paralisia cerebral e faz da leitura um meio de interação com o mundo; ela perdeu a biblioteca montada a muito custo pela mãe, a pedagoga Deise Santos Rodrigues, 52 anos. Ontem as duas ganharam um importante apoio para recomeçar.

“São dezenas de livros. Tem uma coleção inteira sobre animais, tem até bíblia infantil”, comemora Deise.

A ajuda veio da Editora Sinodal, a partir do diretor-geral Robson Luís Neu. O gestor leu a reportagem Histórias da Porto Alegre alagada: Giovanna, a menina que lia livros, publicada no Correio do Povo do dia 3 deste mês e organizou a doação. Nesta segunda-feira, além dos exemplares para a menina, a família recebeu materiais de limpeza para ajudar na volta para o lar, no bairro Sarandi, zona Norte da Capital.

“Quando li a reportagem, fiquei pensando no exemplo de superação, resiliência e dedicação. Mesmo em momentos tristes, desafiadores e de destruição, como foi a enchente, há sinais de vida, esperança, força e fé. Quando vi que os livros fazem parte desta história, é impossível cruzar os braços. Imediatamente compartilhei a reportagem com os colaboradores e as colaboradoras aqui na Editora Sinodal. A valorização da leitura faz parte da família da Giovana, parte da educação, com significado para além do que normalmente é o prazer da leitura. Por isso, naquele momento senti que podíamos e devíamos contribuir”, destacou o representante da editora, com sede em São Leopoldo, na região Metropolitana.

Sentada no chão da sala da irmã, que a acolhe até que possa voltar para casa, Deise já voltou a ler para Giovanna. De fato, como destacou Robson Luís Neu, as duas são exemplos de resiliência e recuperação tão necessários ao Rio Grande do Sul neste momento.

“Olha filha, livros para a gente recomeçar nossa biblioteca”, mostrava a mãe.

Deise revela que tem recebido bastante ajuda. Além de roupas, brinquedos e, agora, dos livros, a família acaba de ganhar a dação das telhas para consertar o telhado, e, assim que o serviço for executado, terá condições de planejar a volta à moradia.

“Depois da reportagem, recebi contato de pessoas até de fora do Brasil”, revelou. “Só tenho a agradecer o bom coração das pessoas que estão nos ajudando.”

A mãe dedicada evita lamentar o drama imposto pela enchente. Porém, das perdas materiais, talvez uma das mais importantes, a cadeira de rodas da Giovana, ainda não foi reposta. A menina nasceu prematura e com Síndrome de West, que ocasiona constantes crises epilépticas. Aos 15 dias de vida, foi diagnosticada com meningite bacteriana, que ocasionou hidrocefalia; por consequência, tem o lado direito do corpo imobilizado, não fala e não se locomove sozinha, condições que a acompanharão por toda a vida.

"Tem muita criança na fila de espera. Nós levamos dois anos e cinco meses pra ganhar a cadeira que estragou na enchente”, diz.

Para garantir o cuidado necessário à filha, Deise abandonou a carreira de pedagoga. Atualmente trabalha como diarista, o que lhe permite mais tempo ao lado da Giovanna. E em momento algum lamenta a decisão ou a crença em dias melhores.

“É como eu disse lá no dia que estava começando a retirar as coisas estragadas de dentro de casa, com fé no coração, a gente vai conseguir. Desejo tudo de bom às pessoas que cruzaram nosso caminho”, reforça.

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