Greve dos ônibus da região Metropolitana segue após mediação no TRT sem acordo

Greve dos ônibus da região Metropolitana segue após mediação no TRT sem acordo

Patronal sinalizou com reajuste salarial de 6% quando a passagem subir, mas Sindimetropolitano recusou a proposta

Fernanda Bassôa

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Muitos usuários do transporte público metropolitano foram surpreendidos na manhã dessa quinta-feira (29) pela greve deflagrada pelos trabalhadores rodoviários, com circulação de ônibus reduzida pela metade entre sete cidades da região - Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Glorinha, Gravataí, Nova Santa Rita e Viamão. O movimento da categoria é em protesto à proposta de 4,5% de reajuste salarial ofertado à categoria, dividido em duas parcelas de 2,25%, que foi rejeitado em assembleia do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários Intermunicipais da Região Metropolitana (Sindimetropolitano).

Uma nova proposta, de 6% para quando houver aumento de tarifa dos ônibus, também foi rejeitada. Uma mediação com o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4) aconteceu ainda na tarde dessa quinta para que uma solução fosse encontrada. Entretanto, não houve avanço nas negociações e a greve segue sem data para encerrar. Por determinação da Justiça, nos horários de pico, das 5h30min às 9h e das 16h30min às 19h, devem ser mantidos 50% dos serviços, enquanto nos demais horários, 30%. 

O secretário do Sindimetropolitano, Alex Araújo, informou que 3 mil trabalhadores do transporte coletivo estão sendo afetados e que não voltarão aos seus postos de trabalho até que uma nova proposta seja apresentada. “Não queremos vincular nosso reajuste ao aumento de tarifa. Não concordamos com esta prática. Ainda corremos o risco de ficarmos sem plano de saúde.”

Passageiros reclamam de atrasos

Morador de Sapucaia do Sul, Marco Antônio de Souza Barros, que trabalha em uma padaria dentro de um mercado em Canoas, no bairro Mato Grande, chegou depois das 10 horas nesta quinta-feira.

"Nem imaginava que tinha greve dos ônibus. Minha esposa que me ligou horas depois de eu ficar aguardando impaciente na parada. Quase fui demitido e ainda tive que gastar minhas últimas economias do mês pagando um carro de aplicativo para me levar até o trabalho", reclamou ele, que conseguiu o emprego no mês passado. A vendedora que mora em Esteio e trabalha em Nova Santa Rita, Jussara Sampaio, também não sabia da greve e ficou por mais de duas horas na parada. 

Com consulta marcada em um dentista, em Gravataí, a moradora de Cachoeirinha, Cibeli Machado de Almeida, 32 anos, acabou perdendo o horário e teve que remarcar para a próxima semana o procedimento que aguardava há meses. "Fiquei horas esperando na parada, até que alguém me informou da greve, um outro usuário que também esperava o ônibus e que resolveu olhar na internet. Não tinha ideia que não havia ônibus."

Apesar do sufoco, Cibeli acha justa a mobilização dos trabalhadores por salários mais dignos. O aposentado Paulo Gerghem informou que aguardava o ônibus por mais de meia hora. "Eles estão passando aqui e não estão parando. Vou ter que optar por outra linha que me larga mais longe de casa. Não sabia da greve", disse ele, bastante descontente.

A movimentação de embarque e desembarque nas estações de trem estava mais movimentada do que de costume. Na estação Canoas, a situação não era diferente. Um vai e vem de passageiros apressados. Entre eles, Amanda Silveira da Costa Duarte que costuma ir de Esteio a Canoas de transporte público porque é mais próximo da sua casa, hoje precisou optar pelo trem por conta da paralisação. “Soube pela rádio e fui direto para a Estação do trem. Me atrasei uns minutos, mas deu tudo certo." 

Patronal diz que proposta é "o que a realidade permite"

O Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários no Estado do Rio Grande do Sul (Setergs) informou que vem, há meses, em permanentes conversas com o Estado, representado pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) e pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedur), alertando sobre o tema da defasagem da tarifa do serviço público de transporte metropolitano, bem como vem negociando com o Sindimetropolitano, na tentativa de atender os anseios da categoria e evitar a greve. O Setergs informou que a proposta feita pela patronal “é o que a realidade permite fazer, diante da situação vivida pelo serviço público de transporte metropolitano de passageiros".

A entidade ressalta que o sistema, além da defasagem tarifária, enfrenta graves prejuízos provocados pela queda de passageiros em relação ao verificado antes da pandemia e pelos sucessivos aumentos de insumos. "Além disso, não houve o pagamento pelo Estado dos valores referentes ao Programa Emergencial de Compensações do Serviço Público Delegado de Transporte Metropolitano Coletivo de Passageiros e dos Aglomerados Urbanos do Estado do Rio Grande do Sul, criado pela Lei 15.908, de 21 de dezembro 2022, que visa justamente a amenizar a grave situação já referida”, informou.

A Sedur, por meio da Metroplan, lamenta a greve e informa que está fazendo todo o esforço possível para auxiliar na superação do impasse entre trabalhadores e empregadores. Buscando o mais breve possível o pleno restabelecimento do sistema de transporte público metropolitano.

Esclarece ainda que vem empregando todos seus esforços no sentido da melhoria e sustentabilidade do transporte metropolitano, e na manutenção de uma tarifa módica para o usuário. “Informamos que em 2021 o Estado aportou no Sistema de Transporte Metropolitano Coletivo de Passageiros e dos Aglomerados Urbanos do Estado do Rio Grande do Sul, mais de R$ 88 milhões e, em 2022, R$ 80,6 milhões, dos quais já foram pagos R$ 37,8 milhões, restando ainda R$ 42,8 milhões, que já foram autorizados pelo governo, por meio do Decreto 57051 de 31 de maio de 2023, e que ainda não foram repassadas às empresas beneficiárias, devido uma ação judicial, que contesta a legitimidade das mesmas.”


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