Moradores das ilhas de Porto Alegre ainda convivem com alagamentos após ciclone

Moradores das ilhas de Porto Alegre ainda convivem com alagamentos após ciclone

Dois dias após a passagem do fenômeno climático, situação faz parte do cotidiano das comunidades que moram na região

Christian Bueller

Angélica está acostumada com acúmulo de água em frente de casa

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Vera Terezinha Aires da Silva se prepara para atravessar a rua. Com a água pelas canelas, precisa puxar as barras da calça para cima antes de continuar o trajeto. Os pés molhados não são novidade para a senhora que mora há mais de 40 anos na região das ilhas de Porto Alegre. Dois dias após a passagem do ciclone extratropical que atingiu boa parte do RS, algumas ruas ainda estão alagadas, como é o caso da Ilha da Pintada.

“Quando dá enchente, a gente tem que se acostumar, rapaz!”, suspira Vera, já em trecho seco da rua Nossa Senhora da Boa Viagem. Segundo ela, era pior quando residia na Ilha das Flores. “Ainda bem que pescamos para comer, éramos esquecidos lá na Conga”, conta, citando a antiga nomenclatura do local que deu até nome a filme premiado do diretor gaúcho Jorge Furtado.

O fenômeno da última semana trouxe problemas, principalmente para quem mora em casa de madeira. Mas, segundo Joel Garcia, o ciclone de junho foi ainda pior. “Aquele foi ‘boca braba’. Lá do rio dava pra ver ele (o ciclone) derrubando as árvores”, relata.

Em frente à casa de Maria Angélica Maciel, o portão e o acúmulo de água compõem um cenário comum. “É normal, já. O alagamento não chega a entrar na porta, a não ser daquela vez que teve o tempo em 2015. Mas, de resto, até as crianças já têm o hábito de brincar ali”, comenta. Naquele, a cheia no Guaíba, que atingiu seu maior nível desde 1967 – 2,76 metros -, cerca de 2 mil moradores das ilhas precisaram sair de casa.

O marido, Régis Garcia, mais duas décadas de convivência com a realidade das ilhas, já sabe que, ao chegar o inverno, o sabe que terá de enfrentar as águas. “Estou sempre me deslocando de bicicleta, mas dependendo do nível, não dá para pedalar”, lembra. Mais do que a chuva em si, o que mais o indigna é a falta de cuidado de motoristas que trafegam por ali em dias de alagamento. “O pessoal passa correndo, aí a água que não entrou no meu pátio com o ciclone, bate na porta por causa da velocidade dos veículos que passam nas poças”, reclama.

Ilha dos Marinheiros 

Na Ilha dos Marinheiros, há poucos acúmulos de água, mas muito barro, afetando a trafegabilidade, tanto de pessoas quanto de meios de transporte. “É complicado, mas é algo que a gente sabe que vai acontecer. Demora para secar”, conta Marina Ramos. Varais lotados de roupas e, até mesmo, alguns móveis ficaram expostos ao sol que apareceu durante o sábado. “Temos que aproveitar porque, daqui a pouco, vem mais chuva de novo”, resigna-se Marina.

Os moradores das comunidades ribeirinhas das ilhas estavam com energia elétrica, mas cerca de 89 mil clientes da CEEE Equatorial ainda estavam luz até o começo da tarde deste sábado. Segundo a empresa, 626 mil clientes (88%) que tiveram o fornecimento interrompido depois do ciclone teve o serviço normalizado. Conforme informações da RGE, todas as unidades de sua área de atuação estão restabelecidos.


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