Municípios do Vale do Taquari vivem dia caótico com enchente histórica

Municípios do Vale do Taquari vivem dia caótico com enchente histórica

Um homem morreu eletrocutado em Estrela; nível do Rio Taquari superou capacidade de medição das réguas

Felipe Faleiro

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O Vale do Taquari viveu um dia caótico nesta terça-feira (5), com esta que pode ser a maior enchente da história da região, de acordo com a Coordenadoria Regional da Defesa CIvil. De tão alta a água, as réguas de medição dos municípios e do Serviço Geológico do Brasil (SACE/CPRM) não puderam mais realizar registros ainda a partir da noite de segunda-feira, quando a chuva já havia acumulado centenas de milímetros e a água nem tinha entrado nas casas. Isto aconteceu principalmente a partir do começo da manhã de terça, quando cidades como Lajeado, Estrela e Arroio do Meio, regiões mais baixas do rio, mas principalmente Santa Tereza, Muçum e Roca Sales, no alto do vale, começaram a enfrentar problemas.

A enchente causou ao menos uma morte, de um homem de 58 anos em Estrela, identificado como Moacir Engster, e que foi vítima de uma descarga elétrica. A água invadiu ruas, avenidas, rodovias, estabelecimentos comerciais e casas, obrigando pessoas a sair destes locais, assim como cobriu placas de trânsito e engoliu automóveis. A força era tamanha que impressionou os moradores. Nas ruas do município, os habitantes relataram que esta era visivelmente a maior enchente da história, superando as tormentas de 1941 e 2020. Às 12h15 da terça-feira, o Taquari em Estrela havia atingido 29,39 metros, a partir de medições manuais.

Em ruas das cidades do Vale do Taquari, moradores só conseguem se deslocar de barco. Foto Ricardo Giusti

O problema foi visível já nas primeiras horas do dia. A BR 386, principal via de acesso de Porto Alegre ao Vale do Taquari, ficou congestionada por horas, e na altura do acesso sul de Estrela, para quem se dirigisse a Lajeado, motoristas foram obrigados a desviar para o outro lado, na contramão, por um acesso temporário feito pela CCR ViaSul, concessionária administradora da rodovia. Ou, ainda, para permanecer em Estrela, ingressar por um acesso secundário, que, por volta das 11h, foi tomado pela água, ilhando os dois lados.

A Defesa Civil regional montou um posto de comando avançado no Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS) em Lajeado. "Não temos acesso terrestre em muitos destes locais mais afetados, e há vários ilhados. Este é um fato histórico. Assim que o rio começar a baixar, começaremos a ter uma ideia das proporções do que isto se tornou", comentou o comandante regional da Defesa Civil da região dos Vales, o coronel Everton de Souza Dias, para quem a elevação do Taquari foi "uma das maiores dos últimos anos". "Nossa prioridade no momento é em salvar vidas".

Também em Estrela, o consultor de vendas Airton Wermann, morador do bairro Cristo Rei, olhava desolado para sua residência de dois andares, na rua Júlio de Castilhos, que corta grande parte do município. Segundo ele, a água começou a entrar na casa por volta das 9h de ontem, e rapidamente tomou conta do primeiro piso. "Eu já fiz a minha casa mais para cima, mas desta vez, não teve jeito. Erguemos móveis, porém não adiantou. Agora, vamos na casa de uma amiga aqui no município, e esperar baixar um pouco. Foi muito além do que estamos acostumados", observou ele, com pesar. Airton estava acompanhado do filho Diogo, 17 anos, da nora, a designer Ana Letro, 30, e da mãe dela, Cássia Fonseca, que havia vindo de Ipatinga/MG, para passear em Estrela, mas quando chegou, se deparou com a enchente.

Outros bairros bastante afetados no município foram Moinhos e das Indústrias. O aposentado Hilário Carlos Daltoé, proprietário de dois condomínios na rua Coronel Müssnich, importante área comercial do município, estava observando a enchente tomar conta das calçadas e estabelecimentos, assim como faziam outras pessoas. "Vários comércios já removeram tudo aqui. É preciso ter muito cuidado com as pessoas que moram na beira do rio, porque a água pode subir ainda mais", comentou ele ontem pela manhã. A correnteza saía forte dos comércios como mercados e padarias, enquanto funcionários faziam o que podiam para remover produtos e colocá-los em veículos mais altos.

O secretário municipal de Administração e Segurança de Estrela, César Augusto Silva, disse que por volta de 200 famílias foram afetadas. Os desalojados foram encaminhados ao ginásio da Prefeitura. "Começamos a retirar as pessoas de casa ainda na noite de segunda, mas estamos enfrentando alguma resistência. Estamos buscando dar um mínimo de conforto para elas", disse. A Prefeitura está recebendo doações, especialmente materiais como itens de higiene pessoal, cobertores, colchões e alimentos não-perecíveis.


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