Porto Alegre formula decreto de situação de emergência pela estiagem, diz Defesa Civil

Porto Alegre formula decreto de situação de emergência pela estiagem, diz Defesa Civil

Com a capital, crise hídrica já afeta 10 cidades Região Metropolitana de Porto Alegre e entorno

Felipe Faleiro

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Dados da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) mostram que metade das 20 cidades da Grande Porto Alegre e entorno, acompanhadas pela entidade, já encaminharam pedidos de estado de emergência em razão da estiagem. A mais recente, Eldorado do Sul, está encaminhando hoje. Além dela, estão incluídas Cachoeirinha, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Nova Santa Rita, Porto Alegre, Taquari, Triunfo e São Jerônimo.

Já Alvorada, Arroio dos Ratos, Canoas, Charqueadas, Esteio, Novo Hamburgo, Santo Antônio da Patrulha, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Viamão não tinham esta previsão até a manhã de hoje. Na Capital, a Defesa Civil municipal informou que houve uma reunião na segunda-feira para tratar da estiagem, e que o pedido ainda está sendo formulado. A assessoria de Comunicação informou que faltam alguns complementos, e que não há previsão de envio ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) do governo federal, ou mesmo se ele será aceito.

Enquanto isto, continuam subindo de maneira consistente os níveis dos principais rios da Região Metropolitana, após a chuva de verão da última segunda-feira. Mesmo de curto período, ela impulsionou tanto a medição nas réguas quanto sua vazão, trazendo alento um pouco maior aos gestores e à população em geral. Contudo, a seca segue intensa no Rio Grande do Sul e causando prejuízos.

Na segunda-feira, em novo Informativo Especial de Estiagem, a Sala de Situação do RS, vinculada à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), orientou que prossegue o alerta nas bacias dos rios do Sinos e Gravataí, enquanto o Guaíba, em Porto Alegre, ingressou no estado de alerta. Os técnicos da Sema lançam mão de técnicas científicas para aferir se um rio ou curso d'água está ou não em baixos níveis.

Um dos principais é a curva de permanência, que faz uma relação de magnitude e frequência do dado fluviométrico (nível ou vazão), e que tem mais “certeza metodológica” da criticidade do nível baixo que a simples medição da altura da lâmina d'água em determinado ponto do mesmo. “Estes dados de acima ou abaixo do nível normal são mais informações de lembrança, de memória dos operadores. O ideal é ir sempre pela curva de permanência”, afirma o hidrólogo da Sala de Situação do RS, Pedro Camargo.

Esta curva é geralmente medida em cinco percentuais: 50%, 75%, 85%, 90% e 95%. Cada uma representa a frequência em que o rio está acima dessa cota em relação ao seu histórico de medições, valores medidos diariamente por, pelo menos, 30 anos. A cada percentual, é atribuído um valor. Por exemplo, o rio dos Sinos, no Centro de São Leopoldo, teve medição de 66 centímetros em 16 de janeiro e 72 centímetros na última segunda-feira. 

Embora tenha havido aumento, o Sinos está abaixo de 75 centímetros, valor que representa a cota N95, como é utilizado pela Sema. Ou seja, o rio está acima deste valor em 95% do tempo na série histórica de medições. Como os valores das duas semanas estão dentro dos 5% restantes, a situação é crítica nas duas. O Gravataí, na régua do Balneário Passo das Canoas, estava, na segunda-feira, em situação mais favorável. 

A medição passou de 61 centímetros do dia 16 (entre 85%, ou 71cm e 90%, ou 55cm, considerado estado de atenção) para 1,11 metro no dia 23 (entre 50%, ou 1,95m, e 75%, ou 1,05m, dentro do estado seguro). A mesma mudança entre as duas semanas foi vista no Sinos, em Campo Bom. Pela mesma lógica, o Guaíba entrou em estado de atenção. O valor medido em 23 de janeiro foi de 43 centímetros, dentro dos índices de 85% (48cm) e 90% (42cm).

Na manhã desta terça-feira, o rio Gravataí estava em 1,14 metro, em condição de estabilidade frente a tarde da última segunda, quando a chuva acumulada foi pouca, apenas 0,2 milímetro. Já no Guaíba, onde choveu somente 0,4 milímetro, o curso d’água seguia com sua trajetória oscilante, em 47 centímetros, dentro da média histórica para janeiro, considerando apenas o nível do mesmo. No Sinos, em São Leopoldo, após alcançar 93 centímetros na madrugada de segunda-feira para hoje, a medição desceu para 79 centímetros.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895