Dólar fecha cotado a R$ 5,18, o maior valor desde fevereiro com "crise da Petrobras"

Dólar fecha cotado a R$ 5,18, o maior valor desde fevereiro com "crise da Petrobras"

Pedido de demissão de José Mauro Coelho da presidência da estatal provocou estresse no mercado desde o começo do dia

AE

Dólar fechou em alta

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O dólar iniciou a semana em alta no mercado doméstico de câmbio e fechou no maior patamar desde meados de fevereiro, na contramão do sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Analistas atribuem a perda de fôlego do real sobretudo à percepção de aumento de risco político e fiscal, em meio a investidas do governo e de seus aliados no Congresso para tentar conter os preços dos combustíveis. Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmaram que medidas como mudanças na Lei da Estatais, taxação de exportações de petróleo e aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) estariam na pauta em reunião de líderes na Câmara marcada para o fim da tarde de hoje.

O estresse no mercado de câmbio começou pela manhã com a notícia do pedido de demissão de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras, na esteira de ataques do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ambos falaram em instalar uma CPI para investigar a política de preços da companhia após anúncio de reajuste na sexta-feira. A saída de Coelho deixa o caminho livre para o novo indicado pelo governo ao comando da Petrobras, Caio Paes de Andrade, egresso da equipe do Ministério da Economia. Em reação à escalada do preço do diesel, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, atacou Bolsonaro e disse que "o país vai parar naturalmente por não ter mais como rodar".

Com esse pano de fundo negativo, investidores preferiram aumentar as posições defensivas. Afora quedas pontuais e bem limitadas na abertura dos negócios e no início da tarde, o dólar trabalhou em alta. Entre mínima de R$ 5,1375 e máxima a R$ 5,1902, registrada na reta final do pregão, encerrou com avanço de 0,81%, cotado a R$ 5,1862 - maior valor de fechamento desde 14 de fevereiro (R$ 5,2185). Assim, o dólar passa a apresentar valorização de 9,12% em junho. A liquidez foi reduzida em razão do feriado nos Estados Unidos, que deixou o mercado sem a referência das Bolsas em Nova York e dos Treasuries. O contrato futuro de dólar para julho, termômetro do apetite por negócios, movimentou menos de US$ 10 bilhões.

Segundo o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a saída de Coelho, embora já esperada, aumenta o prêmio de risco e as pressões sobre o dólar, que pode romper o patamar de R$ 5,20 nas próximas semanas. "O acirramento político e institucional tende a se agravar. Mesmo sendo pouco provável, não se pode descartar um cenário de intervenções do governo na ponta de preços administrados ou aumento dos gastos públicos na medida que se aproxima o calendário eleitoral", afirma.

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas - teve um dia de alívio, após a escalada recente com a aceleração do ritmo de alta dos juros nos EUA pelo Federal Reserve na semana passada. A moeda americana caiu frente à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities. Em relação aos pares do real, o desempenho foi misto, com baixa frente ao peso mexicano e alta na comparação com o peso chileno e o rand sul-africano. As cotações do petróleo tiveram avanço tímido, com o tipo Brent, referência para a Petrobras, ao redor dos US$ 114 o barril. O minério de ferro caiu quase 11% no mercado futuro em Dalian e fechou com recuo de 8,18% no porto chinês de Qingdao, na China, cujas siderúrgicas estão reduzidos as operações.

Para o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, após resistir até de certa forma bem à alta maior dos juros nos EUA, o mercado local parece, de fato, olhar novamente para "coisas ruins" do ambiente doméstico, o que ajuda a explicar o desempenho fraco do real. "Mas acredito que o mercado vai acabar relevando esses problemas. Os números fiscais estão melhores e não é só o Brasil que está tentando segurar os preços dos combustíveis, apesar de se falar muito aqui da pressão política e dos motivos eleitorais", diz Jolig.

O gestor vê o dólar ainda forte em relação a divisas pares, em meio ao processo mais acelerado de alta de juros nos EUA. Ele destaca, contudo, que moedas emergentes de países com taxas de juros elevadas, caso do Brasil, se mostram bem defendidas contra a maré externa. "O real pode voltar a operar perto de R$ 5 nas próximas semanas se o setor externo não adicionar muito risco. O CDI fala mais alto", diz Jolig, que, por ora, não vislumbra um quadro desfavorável para commodities, vistas pelos investidores como proteção contra a inflação. "Por enquanto, só o Fed está fazendo o trabalho duro. Os outros bancos centrais desenvolvidos estão atrás. Enquanto não houver uma alta generalizada e mais forte dos juros, o quadro para commodities segue ok".

Ibovespa

O bom desempenho das ações de bancos e a mudança de sinal em Petrobras, de negativo para positivo na sessão, contribuíram para que o Ibovespa respirasse um pouco neste começo de semana, chegando a recuperar a linha dos 100 mil pontos após ter fechado a sexta-feira no menor nível desde 4 de novembro de 2020, no que foi também a pior semana (-5,36%) desde outubro passado. Hoje, sem a referência de Nova York, em feriado, mas com retomada nas praças europeias, o índice da B3 fechou em alta, mas perdeu força na reta final e subiu apenas 0,03%, aos 99.852,67 pontos, entre mínima de 98.408,88 e máxima de 100.481,11, saindo de abertura aos 99.824,25 pontos.

Enfraquecido pelo feriado americano, o giro financeiro ficou em R$ 22,6 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa cede 10,33%, levemente acima das perdas de abril (10,10%), até aqui as piores desde a queda de 29,90% no auge da aversão a risco pela pandemia, em março de 2020. Nas duas últimas sessões, a mínima do dia ficou em torno dos 98,4 mil pontos. E, no ano, as perdas acumuladas pela referência da B3 estão agora em 4,74%.

"A região de 98,5 mil é um suporte que tem certo peso. A depender do fluxo de notícias no curto prazo, se não conseguir segurá-lo, pode ir para os 94 mil pontos, e permanecer pela faixa dos 94 aos 98 mil como visto por um bom tempo durante o segundo semestre de 2020", diz Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos.

Da sessão de hoje, ele destaca a recuperação parcial em Petrobras (ON +0,87%, PN +1,14%), com o mercado parecendo ter interpretado que a saída antecipada de José Mauro Coelho da presidência da companhia, após a recente queda de braço entre a estatal e o governo sobre os preços dos combustíveis, pode ter sido uma compensação, uma troca, para impedir a instalação de CPI.

No começo do pregão, a confirmação da saída de Coelho, em fato relevante divulgado pela empresa, resultou em suspensão temporária das ações da Petrobras, pela manhã, em dois momentos. Também em fato relevante, a estatal informou que a presidência será ocupada interinamente pelo diretor executivo de Exploração e Produção, Fernando Borges.

"Não existe bala de prata para resolver a inflação, na canetada, com uma matriz de transporte, no Brasil, baseada no rodoviário. O custo de diesel é alto e impacta toda a cadeia, gerando inflação, o que não é nada bom em ano eleitoral. Por isso, volta-se ao tema Petrobras e preço dos combustíveis. Mais do que jogar a culpa na empresa, é uma questão conjuntural", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, citando também fatores externos, como o efeito da guerra no leste europeu sobre as cotações do petróleo e as limitações globais em capacidade de refino, considerando a demanda corrente. "O impacto é sentido em todas as economias", acrescenta.

No quadro mais amplo, a semana reserva uma série de dados domésticos que tendem a contribuir para o mercado ajustar a curva de juros, com respeito aos próximos movimentos do Copom. Destaque, amanhã, para a ata do Copom e, na quinta-feira, para a coletiva do presidente do BC, Roberto Campos Neto, antes do anúncio do IPCA-15 de junho, na sexta-feira. Lá fora, destaque na semana para as leituras preliminares sobre índices de atividade de junho, os PMIs.

"Recentemente o Ibovespa emendou oito perdas diárias, algo que não se via há um bom tempo. Houve grande correção e, depois dessa realização, costuma vir a busca por descontos. Após a saída vista em maio (R$ 6,1 bilhões), ocorreu ingresso (R$ 3 bilhões) de recurso estrangeiro na primeira metade de junho (até dia 15). Chega uma hora em que o mercado começa a cansar da correção, de ajustar pra baixo, e as oportunidades (de compra) vão surgindo. Mas há também a busca por renda fixa, com os juros subindo pelo mundo", diz Hashimoto, da Venice.

Na ponta do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para Magazine Luiza (+8,40%), WEG (+5,56%) e Itaú (+4,35%). No lado oposto, Natura (-7,61%), Pão de Açúcar (-6,54%) e Totvs (-4,96%). Entre as blue chips, além de Itaú PN destaque também para as ações de outros grandes bancos, como Bradesco (PN +2,65%) e Santander (Unit +2,13%), enquanto Vale ON fechou o dia em queda de 2,47%, respondendo à correção no minério de ferro, em retração de 8,18% em Qingdao, China, no menor nível desde dezembro passado.

Juros

Os juros futuros terminaram a segunda-feira, 20, em queda, apesar da piora do câmbio e do avanço nos preços do petróleo, numa sessão marcada pela liquidez bastante fraca. Com os mercados fechados em Nova York, o contexto local deu o tom aos negócios, mas as oscilações, de modo geral, foram contidas, também pelo compasso de espera pela ata do Copom amanhã. O noticiário envolvendo a Petrobras chegou a puxar um pouco para cima as taxas na abertura. O pedido de demissão de José Mauro Coelho da presidência da estatal inicialmente trouxe volatilidade aos ativos, mas ao longo do dia o efeito foi superado com a leitura de que sua saída tende a controlar a pressão do governo sobre a companhia no curto prazo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou em 13,58%, de 13,553% no ajuste de sexta-feira. Normalmente o mais líquido, este DI girava hoje pouco mais de 240 mil contratos no fim da sessão regular ante média diária de 512.650 nos últimos 30 dias. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 12,465%, de 12,519%, e o DI para janeiro de 2027, com taxa de 12,38%, de 12,449%.

A considerar as notícias relacionadas à estatal desde sexta-feira, a sessão prometia ser de forte tensão. Apesar do reajuste da gasolina abaixo do esperado ser um fator favorável do ponto de vista da inflação e, logo, à continuidade do alívio nos prêmios da curva, a reação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente Jair Bolsonaro, com ameaças de abertura de CPI e taxação sobre exportações da companhia, durante o fim de semana, acirrava as preocupações sobre ingerência política. Com isso, o mercado de juros abriu corrigindo o movimento de queda anterior, com taxas em alta moderada, mas depois do pedido de demissão de Coelho os ânimos se acalmaram. As taxa passaram a oscilar perto dos ajustes, engatando queda no fim da primeira etapa.

"O dia foi muito fraco por causa do feriado nos EUA, mas com a saída de Coelho, que teve clara relação com a ofensiva de Lira, as coisas se acalmaram. Isso tira um pouco da pressão vinda do fim de semana monotemático em Petrobras, até que se decida o que vai fazer", afirmou a economista-chefe da MAG Investimentos Patricia Pereira. "Mas sabemos que isso é só até a página 2, a margem de manobra do governo é pequena em ano eleitoral", disse, citando outras fontes de pressão sobre o governo, como uma possível paralisação dos caminhoneiros. A categoria, segundo o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, vai ter que parar por falta de dinheiro para abastecer caminhões.

Até porque, mesmo após o pedido de demissão de Coelho, Lira manteve na agenda a reunião com líderes partidários para discutir a política de preços da empresa nesta segunda. "Não há o que comemorar nos fatos recentes envolvendo a Petrobras. Não há vencedores, nem vencidos", disse.

A falta de parâmetro imposta pelo feriado nos EUA, que afetou a liquidez, também serviu de argumento para aqueles que preferem esperar a divulgação da ata do Copom, amanhã, para montar posições. O mercado buscará no documento mais detalhes sobre o timing para fim do ciclo de aperto da Selic e o papel de 2024 no plano de voo do BC a partir de agora.

 


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