Ibovespa cai e dólar sobe com temor de atrasos e alterações na Previdência

Ibovespa cai e dólar sobe com temor de atrasos e alterações na Previdência

No pior momento do dia Ibovespa chegou a marcar -2,12%

AE

Moeda norte-americana fechou com alta de R$ 0,069 (+1,3%) nesta terça-feira

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A dificuldade de articulação do governo que levou ao adiamento da votação do relatório da Previdência na CCJ da Câmara impôs perda firme ao Índice Bovespa nesta quarta-feira. A possibilidade de o texto sofrer alterações já na fase de admissibilidade renovou os temores de que a reforma seja mais difícil que o esperado - e que ao final traga impacto fiscal muito aquém do necessário.

Com isso, a ordem no mercado de ações foi reduzir a exposição ao risco, o que levou o Ibovespa a uma queda de 1,11%, aos 93.284,75 pontos. "O mercado esteve mais cauteloso e resolveu tirar o pé do risco, por conta da apreciação da constitucionalidade da reforma da Previdência", disse Pedro Paulo Silveira, da Nova Futura Corretora. Para ele, a percepção do cenário político é de que há uma ladeira a ser superada, mas governo e parlamentares ainda estão discutindo se ela é mesmo uma ladeira. "O problema é saber quanto tempo levará até que se chegue ao topo", afirma.

A votação do parecer sobre do deputado Marcelo Freitas (PSL-MG) foi adiada para a próxima terça-feira para que fossem avaliadas sugestões de mudanças. Após reunião de parlamentares com o secretário especial de Previdência do Ministério da Economia, Rogério Marinho, o governo aceitou negociar alterações no parecer da reforma na CCJ. Marinho evitou dizer que há acordo fechado sobre pontos específicos. "O mercado segue convicto de que haverá reforma da Previdência, mas a reação negativa ocorre quando aumentam as dúvidas sobre ela. O grande X da questão é qual reforma passará no Congresso e quando ela será aprovada", disse Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora.

No pior momento do dia, no início da tarde, o Ibovespa chegou a marcar mínima em 93.337,54 pontos (-2,12%). A melhora das ações da Petrobras foi fator decisivo para uma desaceleração das perdas do índice no fechamento. Segundo operadores, pesou o mercado o silêncio da companhia após a entrevista coletiva de terça à noite. Minutos antes do final do pregão, a petroleira anunciou entrevista coletiva para as 18h para falar sobre política de preços. A informação tirou os papéis da companhia do terreno negativo, para um fechamento próximo da estabilidade, com altas de 0,10% (ON) e 0,11% (PN).

Entre as demais blue chips do mercado, também foram destaque os papéis do setor financeiro, com Santander (-3,06%), Itaú Unibanco PN (-1,55%) e Banco do Brasil ON (-1,32%) entre as mais significativas. O volume de negócios somou R$ 26,560 bilhões, incluindo o movimentado no exercício de opções sobre o índice.

Dólar

Temores de desidratação precoce da reforma da Previdência e de uma tramitação morosa da proposta do governo no Congresso desencadearam uma corrida ao dólar na sessão desta quarta-feira. Como a liquidez no pregão de quinta deve ser reduzida, por conta do feriado na sexta-feira, investidores preferiram adotar uma postura defensiva e zerar posições vendidas na moeda americana.

Afora uma leve queda no início dos negócios, na esteira de valorização de divisas emergentes após dados positivos da economia chinesa, o dólar passou o dia inteiro em alta e, com máxima de R$ 3,9471, encerrou os negócios com valorização de 0,85%, a R$ 3,9354 - maior preço de fechamento desde 27 de março deste ano.

O estopim para a corrida ao dólar foi o malogro na votação da admissibilidade do parecer do relator da PEC na Comissão e Justiça da Câmara (CCJ) da Câmara, após a oposição e partidos do Centrão demandarem retirada do texto de pontos não ligados diretamente à Previdência, como fim da multa do FGTS para quem já é aposentado, possibilidade de alterar a idade máxima dos ministros do Supremo Tribunal (STF) Federal por meio de lei complementar, restrição a abono salarial e a prerrogativa de apenas o Executivo alterar regras do sistema previdenciário.

Após reunião com líderes partidários à tarde, o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, disse que o governo aceita negociar alterações na proposta ainda na CCJ, mas foi enfático ao dizer que ainda não há acordo em relação aos trechos que serão suprimidos. "Só teremos acordo se for na sua integralidade", disse. A expectativa é que seja possível costurar um acordo para reformulação do parecer até a próxima terça-feira, quando está marcada a próxima reunião da CCJ da Câmara e, em tese, seria possível votar a admissibilidade da PEC.

Um experiente gestor de recursos de uma asset independente diz que o amadorismo do governo na articulação política assusta os investidores e leva à percepção de que a economia com a reforma ficará muito aquém do R$ 1 trilhão em dez anos almejado por Guedes. "A tramitação ainda nem bem começou e o governo já acumula várias derrotas. Não se contatava com a possibilidade de mudanças no texto já na CCJ", diz.

Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, se houver a aprovação na CCJ na semana que vem, pode haver um alívio no mercado de câmbio, com o dólar voltando a trabalhar abaixo de R$ 3,90. "O mercado já não dá mais o benefício da dúvida para o governo. Todo mundo acredita que a reforma vai sair, mas qualquer problema já leva os agentes para posições mais defensivas", diz Galhardo.

A preponderância do componente doméstico na alta do dólar é incontestável, já que a moeda americana perdeu força em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, após dados positivos da economia chinesa mitigarem temores de desaceleração da economia mundial. O PIB chinês cresceu 6,4% no primeiro trimestre, acima do esperado por analistas (6,3%). Operadores destacam que há também uma movimentação dos estrangeiros no mercado futuro de dólar que pressiona as cotações no mercado à vista. Segundo dados da B3, na terça-feira os estrangeiros elevaram em US$ 1,4 bilhão as posições compradas em dólar futuro, que ganham com a valorização da moeda americana.

Taxas de juros

As preocupações do mercado com a reforma da Previdência no Congresso ganharam reforço nesta quarta-feira, com o adiamento da votação da admissibilidade da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para a semana que vem e a sinalização negativa trazida pela disposição do relator Marcelo Freitas (PSL-MG) em alterar seu parecer. Os juros futuros de médio e longo passaram o dia em alta, também pressionados pelo avanço do dólar para perto dos R$ 3,94, enquanto os curtos ficaram estáveis.

No fim da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 passou de 6,536% na terça no ajuste para 6,540% e a do DI para janeiro de 2021 subiu de 7,102% para 7,12%. A taxa do DI para janeiro de 2023 avançou de 8,252% para 8,31%. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou em 8,84%, de 8,762%.

O mercado na terça já contava com a possibilidade de adiamento da votação, mas como no fim da noite a CCJ encerrou a fase de discussão da proposta e marcou para esta quarta a votação, resgatou alguma expectativa. Porém, os sinais de que seria difícil votar o parecer nesta quarta-feira já eram percebidos desde manhã, dada a obstrução da oposição na CCJ para tentar a postergação, colocando as taxas em alta.

A "oficialização" de que a votação foi adiada para a próxima terça-feira veio no começo da tarde, levando as taxas a ampliar o avanço. O relator pediu mais tempo para avaliar sugestões de mudanças no parecer que, embora não sejam de mérito, vão atrasar a tramitação. Além disso, a leitura é de que a disposição em mexer no texto tão precocemente - mudanças eram esperadas apenas na comissão especial - resulta de mais uma inabilidade dos líderes governistas para evitar a desidratação do texto.

Deputados do Centrão pressionam para que sejam excluídos pontos como o fim da multa do FGTS; exclusividade da Justiça Federal do Distrito Federal para julgar processos contra a União; alteração da idade para aposentadoria compulsória no Supremo Tribunal Federal; e condição para que só o Executivo faça mudanças no sistema previdenciário. O secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, no entanto, afirmou que ainda não houve um "acordo", mas sim uma primeira conversa. "O que foi é que conversamos sobre temas. Não posso anunciar que houve avanço em um ponto ou outro, só quando houver acordo total", afirmou.

Diante da movimentação das taxas nos últimos dias, Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, vê o mercado dando peso excessivo a informações de "varejo" e deixando de olhar o "todo". "Temos de entender que é um processo e que ora haverá notícias piores ou melhores. É preciso de olhar o sistema e não ficar reagindo à informação mais recente", disse. Nesse vaivém de notícias boas e ruins para a Previdência, as taxas curtas pouco se mexem.

A despeito de várias instituições estarem alterando sua expectativa de estabilidade da Selic para corte ainda este ano, essas revisões ainda não aparecem na curva a termo, que segue precificando manutenção do patamar de 6,5%.


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