Um tribunal na Argentina condenou o brasileiro Fernando Sabag Montiel a 10 anos de prisão nesta quarta-feira (8), após considerá-lo culpado pela tentativa de assassinato da ex-presidente Cristina Kirchner em 2022. O tribunal de Buenos Aires também condenou a então namorada de Montiel, Brenda Uliarte, a oito anos de prisão por cumplicidade. O caso dramático, que chocou o país, teve um terceiro acusado, Nicolás Carrizo, absolvido. Cabe recurso em todos os casos.
O ataque ocorreu em 1º de setembro de 2022, quando Montiel abriu caminho em meio à multidão do lado de fora da casa da ex-presidente, apontou uma arma carregada para o rosto dela e puxou o gatilho. A arma, no entanto, falhou e não disparou, deixando Cristina, então vice-presidente, ilesa.
Provas e perfil dos condenados
Durante o julgamento, a promotoria apresentou como provas conversas no WhatsApp sobre a arma de fogo e evidências de que o ex-casal visitou a casa de Cristina antes do ataque para observar suas rotinas. Na sentença, o tribunal rechaçou o pedido da defesa para considerar Montiel inimputável (incapaz de ser responsabilizado).
Fernando Sabag Montiel, cidadão argentino nascido no Brasil, confessou o crime no tribunal. Ele descreveu a tentativa de assassinato como um meio de fazer justiça pela suposta corrupção de Cristina. Montiel, que vivia na Argentina desde 1993 e trabalhava como motorista de aplicativo, tinha antecedentes criminais e supostas ligações com grupos extremistas. Após o atentado, a polícia apreendeu cem munições de calibre 9 milímetros em um endereço ligado a ele. A imprensa local também noticiou que Montiel seguia páginas de grupos de ódio e possuía tatuagens alusivas a mitologias viking e germânica, frequentemente usadas por grupos neonazistas.
Brenda Uliarte, condenada por cúmplice, negou qualquer envolvimento no planejamento do crime.
Contexto político de Cristina Kirchner
Cristina Kirchner, de 72 anos, que cumpriu dois mandatos como presidente (2007-2015), é uma figura profundamente polarizadora na América Latina. No início de 2025, ela foi condenada por corrupção a seis anos de prisão por supostamente direcionar contratos de obras públicas, mas cumpre a pena em prisão domiciliar em Buenos Aires, citando sua idade avançada e temores de segurança desde o ataque de 2022.
Embora proibida de concorrer a cargos públicos, a ex-presidente continua a se manifestar abertamente contra seu adversário político, o presidente libertário Javier Milei, publicando críticas nas redes sociais e recebendo visitas de alto escalão, como o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em julho de 2025. Na época do atentado, em 2022, Cristina estava sendo julgada por corrupção, e multidões se reuniam regularmente em frente à sua casa em solidariedade.