Dias após embate com governo, Congresso instala comissões para análise de medidas provisórias

Dias após embate com governo, Congresso instala comissões para análise de medidas provisórias

Textos discutem salário mínimo, reajuste de servidores, obras, imposto de renda e alimentação de trabalhadores

R7

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O Congresso Nacional vai instalar nesta terça-feira cinco comissões mistas, com senadores e deputados, para a análise inicial de mais cinco medidas provisórias do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O começo dos trabalhos ocorre 12 dias após a aprovação do texto da reforma da Esplanada dos Ministérios.

O Senado aceitou a MP no último dia do prazo de vencimento, depois que a Câmara dos Deputados votou a matéria no penúltimo dia do limite. Caso a medida não fosse analisada a tempo, os 37 ministérios atuais voltariam ao número da gestão de Jair Bolsonaro (PL) — 23.

O susto mostrou a falta de articulação do governo Lula com o Legislativo. Horas antes de a Câmara aprovar a MP, os deputados sequer sabiam se o texto seria colocado na pauta do dia. O líder do PT na Casa, Zeca Dirceu, chegou a sugerir mudanças na relação entre Executivo e Congresso, capitaneada pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

"O governo está com decisões acertadas, mas faltam velocidade, amplitude e visibilidade. O governo decidiu fazer um governo amplo, negociar e dialogar com o Congresso sem impor nada, dar oportunidade de deputados influenciarem na execução orçamentária. As pessoas têm de saber o que vai acontecer e isso não esta sendo constante, desde a nomeação de terceiro escalão, passando por liberação de emendas e chegando aos anúncios que ministros fazem que nem Lula sabe. Isso é avaliação minha", afirmou Zeca Dirceu a jornalistas antes da votação.

"Minha sugestão é fortalecer mais o ministro da articulação política, independentemente de ser o Padilha, porque ele é preparado. Se o governo der mais força, seja a quem for, a articulação funciona melhor. Isso tudo gera apreensão e incerteza aqui dentro [do Congresso] e leva o governo a tomar atitudes", completou.

Medidas provisórias que começam a ser analisadas nesta terça 

As reuniões de instalação das comissões mistas serão a partir das 14h30min. Os encontros iniciais marcam a eleição do presidente de cada comissão.

• Salário mínimo (MP 1.172/2023): elevou o salário mínimo para R$ 1.320. O reajuste corresponde a um aumento de 1,38% em relação ao valor vigente em abril (R$ 1.302) e de 8,91% em relação ao de dezembro de 2022 (R$ 1.212). O novo valor entrou em vigor em 1º de maio, Dia do Trabalhador. Especialistas ouvidos pelo R7 apontam que o aumento vai injetar aproximadamente R$ 10 bilhões na economia do país. Por outro lado, o governo gastará mais R$ 7 bilhões por ano.

• Reajuste para servidores (MP 1.170/2023): deu reajuste linear de 9% a todos os servidores federais civis, inclusive, aposentados e pensionistas. O auxílio-alimentação também teve aumento (43%) e passou de R$ 458 para R$ 658 mensais. O valor do reajuste foi definido após acordo entre o governo e entidades representativas dos servidores na mesa de negociação permanente, que estava suspensa desde 2016.

• Ampliação da faixa de isenção no Imposto de Renda (MP 1.171/2023): ampliou de R$ 1.903,98 para R$ 2.112 a faixa de isenção do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) a partir de 1º de maio de 2023. O texto prevê ainda a possibilidade de um desconto adicional de R$ 528 sobre os valores retidos na fonte. Dessa forma, a faixa de isenção poderá chegar a R$ 2.640 — o equivalente a dois salários mínimos.

• Programas de alimentação do trabalhador (MP 1.173/2023): prorrogou em um ano, até 1º de maio de 2024, o limite para a regulamentação dos programas de alimentação do trabalhador. Em 2022, o Congresso Nacional havia dado prazo até 1º de maio de 2023 para o governo federal regulamentar a lei que determinou destinação exclusiva do auxílio alimentação (ou vale-refeição) para pagamento em restaurantes e similares ou de gêneros alimentícios comprados no comércio. No entanto, o Ministério do Trabalho e Emprego argumentou que o tempo para regulamentar a lei foi curto, devido à complexidade do tema. A regulamentação deverá tratar, entre outras coisas, da portabilidade e da operacionalização dos programas de alimentação do trabalhador.

• Retomada de obras e serviços paralisados na educação (MP 1.174/2023): instituiu o Pacto Nacional pela Retomada de Obras e de Serviços de Engenharia Destinados à Educação Básica, para concluir mais de 3.500 obras de infraestrutura escolar paralisadas ou inacabadas em todo o país. A MP prevê investimento de quase R$ 4 bilhões, entre 2023 e 2026.

Tramitação

A medida provisória é um instrumento do Poder Executivo e começa a valer imediatamente após a publicação no Diário Oficial da União. No entanto, para continuar valendo, a Câmara e o Senado precisam votar a proposta do governo e aprová-la. Essas regras têm prazo de validade inicial de 60 dias, mas podem ser prorrogadas por mais 60.

Primeiro, os textos passam por uma comissão mista, composta de deputados e senadores, que vai debater o tema. O colegiado elege um relator, que apresenta um texto com as sugestões à proposta do governo, que pode ser aprovada ou não pelos outros membros da comissão. No caso de aprovação, o relatório vai à votação no plenário da Câmara e, em seguida, no plenário do Senado. Passando pelas duas Casas, o texto vai à sanção do presidente da República.

No início do ano, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entraram em embate sobre o rito de tramitação das medidas provisórias. Enquanto Pacheco defendia a ideia de que as proposições fossem analisadas pelas comissões mistas, Lira brigava pela permanência de um rito simplificado, que foi adotado pelas Casas durante a pandemia de Covid-19.

O impasse foi um dos fatores determinantes para a demora na instalação das comissões mistas das primeiras MPs editadas pelo governo Lula, entre elas, a MP de reorganização da Esplanada e a MP que retomou o Bolsa Família. Essas duas medidas foram analisadas nos plenários da Câmara e do Senado no último dia do prazo de tramitação, o que expôs o estresse entre Lira e Pacheco e a falta de articulação do governo Lula com o Legislativo.


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