Eleições 2024: segue indefinição no PSDB sobre lançar Marchezan para corrida em Porto Alegre

Eleições 2024: segue indefinição no PSDB sobre lançar Marchezan para corrida em Porto Alegre

Ex-prefeito se reuniu com Marconi Perillo, que define candidatura na Capital como estratégica e reafirma Leite como o nome do partido para a disputa presidencial de 2026

Flavia Bemfica

O ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior pode entrar na disputa à prefeitura de Porto Alegre

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As negociações para que o PSDB apresente uma candidatura à prefeitura de Porto Alegre tiveram mais uma etapa na manhã desta quinta-feira. O ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) se reuniu com o presidente nacional do partido, Marconi Perillo, para tratar da questão. Perillo trabalha para convencer Marchezan a concorrer. O ex-prefeito, por sua vez, tenta encontrar aliados e quer garantias de um apoio sólido do partido.

Após o encontro, Perillo informou que Marchezan está bastante disposto a ingressar na disputa, mas precisa finalizar tratativas locais. O dirigente classificou a candidatura na Capital gaúcha como “absolutamente estratégica.” “Em primeiro lugar, porque nosso pré-candidato à presidência da República em 2026 é daí do RS, é o Eduardo (o governador). É importante então que tenhamos uma candidatura robusta. E, se possível, e vamos trabalhar para isto, fazermos o prefeito da cidade.” Perillo deverá vir ao Estado na próxima segunda-feira, para dar andamento às negociações antes da convenção, marcada para 4 de agosto.

A candidatura própria em Porto Alegre é considerada importante para o grupo do governador Eduardo Leite, porque demonstra força e serve de vitrine a ações do Executivo gaúcho. O contrário, por sua vez, é visto, tanto internamente como por adversários, como um fator de desgaste, já que, entre líderes políticos, o entendimento corrente é o de que, se as administrações vão bem, o caminho ‘natural’ é crescer e ser competitivo na Capital. E o PSDB, além de comandar o Estado pela segunda vez consecutiva, está à frente de três dos cinco maiores colégios eleitorais.

Apesar disto, a candidatura tucana em Porto Alegre enfrenta dificuldades em diferentes níveis. Na esfera municipal, a polarização da disputa que se anunciava desde o ano passado afastou nomes com boas perspectivas. E a demora em encontrar uma liderança disposta a encarar o desafio atrapalhou a busca por aliados. Hoje, esta é tida como uma das principais travas para que a candidatura se consolide. Sozinhos, os tucanos possuem um tempo exíguo na propaganda eleitoral no rádio e na TV.

“Dependemos de conseguir formar uma aliança. Alguns partidos ainda não bateram o martelo. Há resistências internas para cá e para lá, e um movimento de incerteza. É nisso que nos baseamos para ter a expectativa de poder contar com a candidatura do Marchezan. Entramos um pouco tarde, mas o que importa é a linha de chegada”, aponta a presidente estadual da legenda, a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas.

Marchezan procurou por lideranças do Republicanos. E Paula conversou na semana passada com a pré-candidata do PDT ao Paço, a ex-deputada Juliana Brizola.

“Pedi a ela que, se conseguíssemos viabilizar a candidatura, mantivéssemos uma porta aberta”, diz a presidente. Os tucanos nutrem esperanças em relação a dissidentes no PP, aliado ao prefeito Sebastião Melo (MDB), que tentará a reeleição. Mas o que o PSDB precisa, uma coligação formal, os descontentes do PP, no momento, não podem dar.

As articulações locais esbarram ainda em descontentamentos de lideranças municipais sobre como os caciques estaduais conduziram as tratativas. As desavenças frequentes do mandato anterior de Marchezan são lembradas com frequência.

E há dúvidas sobre o engajamento concreto do Cidadania, que é federado com o PSDB, já que a deputada federal Any Ortiz, expoente da sigla, é aliada do prefeito Melo.

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Candidatura em Porto Alegre interessa nacionalmente

Nacionalmente, interessa ao PSDB a candidatura própria em Porto Alegre, mas o comando partidário está às voltas com uma questão bem maior: a definição do cenário em São Paulo. Os tucanos lançaram na capital paulista a pré-candidatura do apresentador José Luiz Datena. Porém, há muita incerteza sobre se ele manterá o nome. Uma ala do partido é aliada do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que disputará a reeleição.

Datena vem concedendo entrevistas exigindo respaldo total para se manter na corrida. A convenção, em São Paulo, será no próximo sábado, 27. Se o apresentador for mesmo candidato, sua campanha será prioridade, conforme já anunciado, porque a sigla acredita que a reconquista da prefeitura lá a auxilia a se reerguer e retomar pelo menos em parte o protagonismo que já teve no passado. Isto significa que a cidade deve receber a maior fatia de recursos do fundo eleitoral.

Nesta quinta, Perillo reafirmou que Datena será candidato em São Paulo, e que uma longa reunião ontem não deixou mais dúvidas sobre esta questão. “Não tem volta”, resumiu. Ele afirmou ainda que o partido assegurará valores para Marchezan, com parcimônia. “Temos que disponibilizar os recursos necessários. Vamos repassar parcimoniosamente a cada candidato de Capital, e das cidades mais importantes, o necessário para que façam campanhas dignas, sem abusos e sem excessos. Tem recursos sim para Porto Alegre.”

A presidente estadual, Paula Mascarenhas, destaca que já existe um acerto para que Porto Alegre receba recursos do fundo eleitoral, independente do cenário em São Paulo. Conforme ela, a intenção do partido é ter candidaturas com viabilidade, não só para marcar posição, e por isto candidatos com potencial, como Marchezan, estão sendo estimulados pela direção nacional. “Os movimentos na capital paulista não constituem qualquer impedimento aqui”, resume.

O problema é que, em função do encolhimento que sofreu nos últimos anos, o PSDB não tem um volume expressivo de dinheiro para distribuir, o que pode atrapalhar ainda mais Marchezan. Dos R$ 4,9 bilhões do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o chamado fundo eleitoral para o pleito municipal de 2024, os tucanos terão R$ 147,9 milhões. A cifra equivale ao que receberá o PSB, por exemplo. Mas está bem abaixo do que terão PL, PT e União Brasil, os três maiores beneficiados. É menos da metade do que terá o Republicanos. E inferior aos valores do Podemos e do PDT.

O fundo é distribuído de acordo com o número de deputados federais e senadores eleitos em 2022. Naquele pleito, o PSDB elegeu 13 deputados (dois do RS), nove a menos do que em 2018. No Senado, não elegeu ninguém. Até o início de 2023, a bancada no Senado tinha quatro representantes. Três deixaram o partido e hoje a representação na Casa se resume ao senador Plínio Valério, do Amazonas.

Durante a janela partidária deste ano, a sigla também deixou de ter vereadores em 12 das 26 capitais do país. Já não possuía representantes no Rio de Janeiro, Curitiba, Boa Vista, Aracaju, Maceió e Vitória. Somaram-se a elas São Paulo, Belo Horizonte, São Luís, Recife, João Pessoa e Florianópolis. Em Porto Alegre a bancada tucana na Câmara de Vereadores é composta por três integrantes. Na Assembleia Legislativa, a legenda tem atualmente cinco deputados.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895