A eficácia das práticas conservacionistas na recuperação do solo

A eficácia das práticas conservacionistas na recuperação do solo

Intervenções mecânicas e ações simples reduzem a energia da gota da chuva e seguram a velocidade do avanço da água não infiltrada

Itamar Pelizzaro

Gargalos estruturais são tão complexos que requerem um trabalho integrado entre o campo, o poder público e a população urbana

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Intervenções mecânicas com escarificador são necessárias no processo de recuperação do solo. No entanto, devem ser associadas a práticas conservacionistas e a ferramentas que o produtor já dispõe. É o que indica o professor de Física do Solo da UFRGS Michael Mazurana, que se refere a ações como, por exemplo, utilizar plantas de cobertura, para reconstruir a física do solo e formar palhada.

“É isso que vai ser a primeira mecânica para reduzir a energia da gota da chuva e, depois, vai segurar a velocidade de avanço da água que não infiltrou”, orienta Mazurana.

O acadêmico também menciona a possibilidade de o produtor adotar o plantio mínimo, com preparo reduzido do solo, e o ajuste da carga animal sobre o pasto.

“Temos que resgatar práticas, pegar pesquisas feitas nas academias e colocar no campo. Se 10% daquilo que a gente pesquisa nas universidades fosse aplicado, nós teríamos um resultado muito grande”, compara.

Ele defende a construção de curvas em nível ou em desnível nas propriedades e a adoção de políticas para que o sistema de microbacia contenha o excesso de água fora da porteira.

“Aquilo que sobrou tem que ser disciplinado”, ressalta.

Inicialmente, diz, o processo pode se dar por terraceamento, o que não precisa ser nos moldes antigos, a cada cinco, dez metros.

“Pode ser um, talvez, a cada cem metros, intercalado com práticas que possam ser uma escarificação entre eles”, explica.

As soluções, entretanto, perpassam a vontade e o trabalho do produtor rural. Os gargalos são tão complexos que requerem articulação do poder público e com áreas urbanas.

“Não há como pensar em soluções apenas da porteira para dentro. A parte externa da propriedade precisa ser incluída na conversa: as bacias e microrregiões hidrográficas, a construção de terraceamentos para manter a água na lavoura, os planos para melhor uso e preservação do solo”, frisa.

Faz-se necessário também abordar a necessidade de armazenar água, dados os frequentes verões vividos sob estiagem no Estado. Segundo o professor, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que RS teve estiagens em 24 de 48 safras analisadas. Com a água armazenada, abre-se a possibilidade de construir um perfil de solo e criar melhores condições para o desenvolvimento das raízes, o que aumenta a “caixa d'água” no solo e propicia resiliência às culturas, com menor perda de grãos e biomassa em situação adversas. “Esperar só por ações governamentais, em qualquer escala, não vai acontecer na velocidade que se precisa”, alerta.


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