Apreciadores do chimarrão buscam erva-mate com sabor equilibrado

Apreciadores do chimarrão buscam erva-mate com sabor equilibrado

Preocupação em aprimorar o cultivo da planta tem ocupado os pesquisadores

Correio do Povo

Rio Grande do Sul produziu 276 mil toneladas de folhas verdes de erva-mate em 2016

publicidade

Os apreciadores de um bom chimarrão buscam que a erva-mate tenha um sabor equilibrado, nem muito suave, nem amargo em demasia. No Rio Grande do Sul, onde são consumidas anualmente cerca de 100 mil toneladas, segundo cálculo do Ibramate, a preocupação em aprimorar o cultivo da planta tem ocupado os pesquisadores e deu subsídios para a formulação do Programa Gaúcho para a Qualidade e Valorização da Erva-mate.

Num cenário em que muitos produtores avaliam deixar a atividade porque a remuneração vem caindo desde 2013, quando o setor viveu seu melhor momento e a arroba chegou a R$ 32,00, Machadinho, na Região Nordeste do Estado, despontou no mercado com uma variedade que agrada tanto a bebedores do mate quanto a agricultores: a Cambona 4. A cultivar, hoje predominante nos municípios produtores de erva-mate no Estado, foi desenvolvida a partir do cruzamento de uma planta nativa originada na propriedade de Theodoro Mendes Fonseca, conhecido como Seu Dorinho, já falecido, e que ficou famoso em Machadinho pelo mate de excelente qualidade.

O agrônomo da Emater/RS, Ilvandro Barreto de Melo, trabalhou na seleção e cruzamento de 26 plantas retiradas da propriedade de Seu Dorinho que resultou na progênie estabilizada Cambona 4. “Desde 1994 estamos estudando a Cambona. Os cruzamentos foram feitos com base nas características macho e fêmea da planta. Descobrimos que a polinização ocorria em 82% do machos, o que garante a suavidade e a boa bebida”, explica Ilvandro. Hoje, em Machadinho, 115 agricultores cultivam 240 hectares da variedade.

Enquanto a erva-mate comum resulta numa produção média de 575 arrobas por hectare (8,6 toneladas), a produtividade da Cambona pode chegar a 1.800 arrobas por hectare (27 toneladas). “A produtividade varia de acordo com a idade da planta, que precisa ter em média quatro anos para o primeiro corte. Depois disso, a poda comercial será feita a cada 18 meses. Em Machadinho, a média alcançada pelos produtores é de 1.400 arrobas por hectare (21 toneladas), o que coloca a produção do município em 5 mil toneladas de folhas da variedade”, diz o agrônomo, lembrando que a produção é totalmente absorvida pela indústria ervateira local e remunerada 20% acima da erva comum, que hoje é comercializada à razão de R$ 10,00 por arroba.

O município também produz todas as sementes e mudas da Cambona 4 propagadas para o Estado e para Santa Catarina e Paraná. “Só um produtor, Clairton Fonseca, filho do Seu Dorinho, produz em sua propriedade as sementes da Cambona 4, num pomar de 14 árvores” destaca Barreto. Em outra etapa, um núcleo de três viveiristas organizado dentro da Associação de Produtores de Erva-Mate de Machadinho (Apromate) chega a produzir anualmente de 600 mil a 700 mil mudas.

Em 2016, o Rio Grande do Sul produziu 276 mil toneladas de folhas verdes de erva-mate, em 36 mil hectares plantados, dos quais 30 mil em estágio produtivo. Do total produzido, 35% são destinados à exportação, para países como Uruguai, Paraguai e Síria. O Estado é o segundo colocado na produção nacional, atrás do Paraná e à frente de Santa Catarina. A produção gaúcha já liderou o ranking, mas acabou perdendo espaço para a paranaense. “O Paraná nos vence por ter mais ervais nativos e áreas de floresta sombreada, o que é muito importante para a cultura. Mas a política que está sendo lançada pode reverter esse quadro, pois temos produtividade e genética para competir”, acrescenta Barreto.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895