Como a silvicultura abrirá oportunidades aos agricultores familiares no RS

Como a silvicultura abrirá oportunidades aos agricultores familiares no RS

Indústria de celulose da CMPC, em Barra do Ribeiro, pretende implantar 80 mil hectares de eucalipto na região até 2029, com ampliação dos sistemas integrados de produção

Itamar Pelizzaro

CMPC deve injetar R$ 150 milhões na economia gaúcha neste segundo semestre

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A implantação do projeto Natureza CMPC, que tem como ponto principal a instalação de uma nova fábrica de celulose em Barra do Ribeiro, com capacidade para 2,5 milhões de toneladas anuais de celulose, ampliará a oportunidade de renda e diversificação das propriedades rurais gaúchas.

O município também é sede da Fazenda Barba Negra e de um horto, onde a empresa mantém viveiro de mudas, centro de pesquisas de aprimoramento genético do eucalipto e promove estudos sobre a fauna e flora da região.

Atualmente, a empresa administra cerca de 500 mil hectares de terras no Estado, com plantios florestais e áreas de preservação ambiental.

“Muita gente imagina que, quando entramos em uma área, há só eucalipto. Mas, mas, na verdade, temos 56% de eucaliptos e 44% de áreas de preservação”, esclarece o diretor-geral da unidade Guaíba da CMPC, Antonio Lacerda, que visitou a casa do Correio do Povo, na Expointer.

A multinacional chilena está reforçando ações do programa RS+Renda para estimular o plantio do eucalipto e garantir o suprimento de madeira para unidade. A meta é expandir sua base florestal em 15 mil hectares por ano até 2029 e chegar ao total de 80 mil hectares.

"Este ano, no segundo semestre, vamos injetar R$ 150 milhões na economia gaúcha, através das parcerias, de adiantamentos e dos novos plantios”, adianta Lacerda.

A proposta consiste em agregar a espécie arbórea em propriedades que produzam grãos, como arroz e soja e pastagens.

“O programa oferece a oportunidade ao agricultor de receber três anos adiantados de um valor que pode variar de área para área, dependendo da distância da fábrica”, explica o diretor.

Ao detalhar o programa, Lacerta exemplifica: “hoje, supondo que seja 12 sacas de soja por hectare, a gente adianta esse valor por três anos e se encarrega do plantio da área. Não podemos esperar até a colheita para rentabilizar o produtor rural”, completa.

A renda anual oferecida tem variação equivalente entre 10 e 16 sacas de soja por hectare e o plantio tem base de custo médio de R$ 10 mil por hectare. Os contratos contemplam dois ciclos florestais, perfazendo em torno de 18 anos.

Durante esse período, a empresa também se responsabiliza pelos tratos culturais necessários, especialmente contra formigas e para que gado não se alimente de mudas e rebrotes.

A recomendação da multinacional é que o agricultor inicie o cultivo de eucalipto em 40 hectares para que seja dispensado do licenciamento ambiental.

“Mas, se um grupo de agricultores se interessar e cada um deles plantar de 10 a 15 hectares, fica interessante”, afirma o executivo.

Isso porque o valor final da remuneração depende da distância da floresta plantada e da unidade industrial. “As áreas próximas facilitam a colheita e o transporte”, complementa Lacerda. A empresa oferece diferentes indexadores de rentabilidade, como o quilo vivo do gado, o IPCA ou ao preço médio da soja, divulgado pela Emater/RS-Ascar.

Os planos da CMPC de incluir novos produtores florestais em sua base de fornecedores interessa à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS). A entidade já se reuniu com a multinacional e com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado para discutir a questão.

Na Expointer, o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, novamente encontrou o diretor Lacerda e ambos sinalizaram interesse em aprofundar tratativas para encaixar a agricultura familiar no maior investimento privado da história do RS.

De olho nas exportações

A nova fábrica ampliará a força da CMPC no Rio Grande do Sul, onde a empresa investiu recentemente R$ 2 bilhões para melhorar o processo produtivo e aumentar a capacidade de produção. “Isso faz com que a gente tenha hoje uma segurança do ponto de vista ambiental ainda maior do que tínhamos”, afirma o diretor.

Os aportes resultaram em novo recorde de produção de celulose em julho, atingindo 205.460 admt (sigla em inglês para tonelada métrica seca ao ar, que corresponde a unidade de medida de celulose vendável) e de redução de consumo de água por tonelada de celulose fabricada, que ficou em 22,6m³/admt. “É o segundo mês que batemos recorde sucessivamente, o que nos leva a 2,4 milhões de toneladas de celulose anualizada”, analisa Lacerda.

A nova unidade também deve acrescentar mais 2,5 milhões de toneladas a partir de 2029. Com isso, a companhia chegará a quase 5 milhões de celulose produzidas por ano, 100% destinada à exportação.

O mercado global abrange 270 milhões de toneladas anuais e está em crescimento com a adoção da fibra de celulose em substituição a plásticos, pela maior utilização de produtos de higiene e de celulose na confecção de roupas em substituição a fibras sintéticas. “O Rio Grande do Sul é onde a gente obtém a maior produtividade de madeira do Brasil, em termos de metros cúbicos por ano, podendo chegar a até 20% acima da de outras áreas”, confirma Lacerda. Neste segmento, o Brasil supera os concorrentes globais com vantagens como biotecnologias para produção florestal, condições climáticas e disponibilidade de terras. O Estado ainda se destaca pelas condições edafoclimáticas e pela produção agropecuária. “Temos uma diversidade que outros estados não têm.l. Outro fato é que mais de 40% das áreas onde atuamos são áreas de preservação. Nos nossos 500 mil hectares, mais de 200 mil são áreas de preservação”, pontua.


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