Diesel mais caro pressiona custos

Diesel mais caro pressiona custos

Economista-chefe da Farsul aponta efeito cascata da alta dos combustíveis para o produtor rural

Patrícia Feiten

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Anunciado pela Petrobras na semana passada, o aumento de 8,87% no preço do diesel nas distribuidoras adicionou mais um item à lista de preocupações do agronegócio geradas pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Na avaliação de lideranças do setor, o reajuste agrava um cenário já complicado para os produtores rurais, que desde o ano passado vêm arcando com custos de produção elevados em razão da disparada de preços dos fertilizantes, e poderá afetar as próximas safras.

Na terça-feira passada, o valor médio do litro de diesel no atacado passou de R$ 4,51 para R$ 4,91. No ano, o combustível já acumula alta de 47% nas refinarias da Petrobras. Na bomba, o preço médio do diesel subiu de R$ 6,38 para R$ 6,65 no Rio Grande do Sul, de acordo com pesquisa realizada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) de 8 a 14 de maio em 241 postos de combustíveis. No caso do diesel S10, o valor médio verificado em 313 pontos de venda foi de R$ 6,73, ante R$ 6,46 da pesquisa feita na semana anterior.

O aumento acompanha a escalada das cotações do petróleo, decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia e das sanções econômicas impostas ao país euroasiático, um dos principais produtores mundiais da commodity. Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, a alta do diesel preocupa porque desencadeia um efeito cascata em diversas etapas da cadeia agropecuária. “Os combustíveis têm um caráter explosivo do ponto de vista inflacionário. O consumidor paga mais caro, e o produtor, seja o rural ou o industrial, ganha menos”, destaca.

Segundo o economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro-RS), Tarcisio Minetto, o aumento do diesel elevará o custo da safra de inverno, que começa a ser plantada neste mês em algumas regiões do Estado, e há pouco a se fazer no campo, além do uso de máquinas mais eficientes em combustível. “Não tem como reduzir (o consumo), o setor já reduziu quando saiu da agricultura tradicional para o plantio direto”, observa Minetto. Na sexta-feira passada, a FecoAgro divulgou a primeira estimativa de custos de produção para o ciclo 2022/2023. Com base em preços apurados em 1º de maio, portanto, antes do último reajuste aplicado ao diesel, o levantamento prevê queda de 20,41% e 50,25%, respectivamente, na rentabilidade das lavouras de soja e milho, mesmo que as cotações dos produtos continuem favoráveis. 

O presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs), Roges Pagnussat, calcula que a variação acumulada pelo diesel neste ano tenha resultado em aumento real de 15% no custo dos fretes do setor. Com 71 empresas associadas e 400 pontos de recebimento de grãos no Rio Grande do Sul, a entidade representa 50% da movimentação de soja, milho e trigo em todo o Estado. Segundo Pagnussat, o diesel mais caro deverá travar projetos de expansão e investimentos na rede armazenadora, que ainda administram os prejuízos causados pela estiagem às culturas de verão. “Pelo simples fato de o Rio Grande do Sul estar colhendo uma safra 60% menor do que em 2021, a redução de movimentação já é natural, não temos muito o que reduzir”, destaca Pagnussat. 

Com base no preço de pedra (valor de referência pago ao agricultor, sem prêmio) da saca de soja na região de Passo Fundo neste mês, de R$ 183, Pagnussat estima que a alta do diesel signifique um acréscimo equivalente a oito sacas no custo da lavoura. “Se o produtor gastava 20 sacas, hoje está gastando 28 para fazer o mesmo plantio e a mesma colheita”, compara. O agricultor Juarez Hoppe Trentin, que está concluindo a colheita de soja, dá um exemplo do peso do combustível. Com propriedades situadas nos municípios de Camargo e Soledade, ele plantou a oleaginosa em 700 hectares na última safra. A cada dia de trabalho no campo, ou 12 horas, sua colheitadeira consome 420 litros de diesel, afirma Trentin. “O diesel é insubstituível, e o trabalho tem de ser feito em toda a área”, comenta. 


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