Rural

Entidades se juntam para propor soluções ao agro gaúcho

Fetag/RS promoveu encontro com diferentes lideranças do agronegócio do RS para começar a discutir e estabelecer um pauta conjunta no setor

Encontro de entidades na Fetag/RS será o primeiro de vários para propor soluções a longo prazo ao agro gaúcho
Encontro de entidades na Fetag/RS será o primeiro de vários para propor soluções a longo prazo ao agro gaúcho Foto : Leandro Mariani Mittmann / Especial / CP

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag/RS) reuniu em sua sede, em Porto Alegre, diversas entidades ligadas ao agro e outras lideranças do setor, como representantes de instituições classistas e governamentais, além de parlamentares, para iniciar e encaminhar uma série de debates a fim de apresentar soluções aos problemas atuais e estruturais da agropecuária gaúcha.

A proposta é listar resoluções para o curto, médio e longo prazo aos graves problemas econômicos enfrentados pelo setor, sobretudo, pelos agricultores e pecuaristas, cujas consequências já atingem e deverão se tornar ainda mais expressivas em outros setores da economia do Estado.

Endividamento dos agricultores, a dificuldade deles acessarem o crédito para a nova safra, a queda das cotações de produtos agrícolas, sobretudo de leite, arroz e trigo, as importações de produtos que são produzidos pela agropecuária estadual, além das mudanças climáticas, foram alguns dos desafios listados e que passarão a ser discutidos em futuros encontros, e cujas propostas seguirão aos governos Federal e Estadual. “É uma reunião de trabalho para olhar a realidade do setor”, definiu o encontro o presidente da Fetag/RS, Carlos Joel da Silva. “

Estamos num momento crítico no nosso Estado”, acrescentou. Segundo ele, a discussão não tem viés partidário e, inclusive, vai fugir da “polarização política”, assim como não vai apontar eventuais culpados pelo momento.

Silva lembrou que as atuais medidas que estão sendo anunciadas para o endividamento causado pelas questões climáticas são importantes aos que conseguem usufruí-las, mas muitos agricultores não têm conseguido o acesso ao apoio. Desta forma, há produtores que nem vão conseguir plantar a nova safra, inclusive por não terem recursos até para comprar o óleo diesel.

Enquanto outros farão plantações com mínimas tecnologias, o que levará a baixas produtividades e produções. Conforme ele, já as cotações pressionadas “vão acelerar o endividamento que vai quebrar a agricultura do Rio Grande do Sul”.

O dirigente da Fetag mencionou ainda a necessidade de se discutir situações como as importações de arroz do Paraguai, leite e trigo da Argentina, que acabam por impactar os preços aos produtores gaúchos. “Temos que organizar a cadeia de produção”, sugeriu. E acrescentou que o segmento leiteiro já teve 100 mil produtores, hoje reduzido a menos de 30 mil. “Não é só o produtor, o Estado está no meio do problema”, advertiu.

“O Estado do Rio Grande do Sul precisa acordar para algumas coisas”, disse Silva. “Esse é o primeiro passo de um novo momento. Olhar para uma pauta estruturante”.

E sugeriu “copiar o que é bom de outros estados”, referindo-se a situações como a do Paraná, que tem um projeto do agro para 2050. “E nós aqui pensando no final do ano”, lamentou.

PIB ‘agrodependente’

Domingos Velho Lopes, que em janeiro assume a presidência da Farsul, lembrou que a especificamente sobre o endividamento, a Medida Provisória foi “acordada” entre diversas esferas, mas “o que tem que construir é a pauta para a frente”. Acrescentou que “comida não vai faltar” visto a produção no restante no país, mas alertou: “O que vai faltar é dinheiro no Rio Grande do Sul para tocar o Estado”.

E mencionou circunstâncias complicadas à vista, como o ano eleitoral, guerras pelo mundo, taxas cambiais e o fenômeno La Niña, sendo que, no Rio Grande do Sul, o PIB é “agrodependente”. “O setor primário vai fazer com que todos os demais (setores) não andem”, alertou. “Quase todas as cadeias estão num momento negativo”, afirmou. “A situação é muito pior que a gente imagina”.

“Agricultura do RS quebrando”

Um dos setores em maior crise é o arrozeiro, sobretudo pela redução significativa dos preços do grão. “A agricultura do Rio Grande do Sul está quebrando, não só o arroz”, definiu o advogado da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Anderson Belloli. “Um endividamento sem precedentes na história do Rio Grande do Sul”, acrescentou.

“O produtor de arroz não consegue financiar em lugar nenhum”, complementou, e disse que muitos não conseguem nem adquirir o diesel. Lembrou ainda o perigo da alienação fiduciária que os bancos estão exigindo para liberar o crédito, que pode levar o produtor a perder sua propriedade apenas 45 dias após o atraso no pagamento da dívida. “Muitos produtores não vão conseguir chegar até o final da safra”, alertou.

Entre muitas outras explanações, e o segundo encontro já está marcado para a próxima semana, na Farsul, dirigentes cooperativistas também avaliaram a situação. O diretor-executivo da FecoAgro/RS, Sérgio Feltraco, disse ser “preciso um olhar sistêmico” para toda a situação vivenciada pelo agro gaúcho. “Não vamos sair (da crise) com soluções pontuais. Vamos precisar de soluções estruturantes”, sugeriu. Já o gerente de relações governamentais do Sistema Ocergs, Tarcísio Minetto, ressaltou que a entidade está incluída na pauta de todos. “Eu não tinha visto um cenário igual há anos”, revelou.

Já o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) foi representado pelo superintendente Milton Bernardes. Ele detalhou as ações em andamento do MDA, em parceria com o Ministério da Agricultura (Mapa) e a Conab, reforçando o compromisso do Governo Federal com soluções estruturais para os desafios enfrentados pelos produtores rurais.

A participação do MDA destacou a importância da articulação entre ministérios e órgãos públicos para atender às demandas do campo de forma coordenada, mostrando que o enfrentamento da crise é fruto de planejamento e integração institucional.

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