Expointer 2023: vitrine da agroindústria familiar

Expointer 2023: vitrine da agroindústria familiar

Um dos pontos mais cobiçados pelo público que visita as edições da Expointer ao longo dos anos é o Pavilhão de Agricultura Familiar, que nesta edição da feira tem o recorde de 372 expositores

Itamar Pelizzaro

Pavilhão da Agricultura familiar da Expointer de 2013, há 10 anos.

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Passagem obrigatória para os visitantes da Expointer, o Pavilhão da Agricultura Familiar chega à 25ª edição com recorde de expositores participantes. A procura de agroindústrias foi tamanha que os organizadores do evento se viram impelidos a juntar empreendimentos em um mesmo estande para criar mais oportunidades de participação. Ao entrar no pavilhão de 7 mil metros quadrados, o visitante vai encontrar 372 empreendimentos, procedentes de 174 municípios gaúchos, distribuídos em 338 estandes e sete cozinhas que oferecerão opções de alimentação no local.

Os números refletem a grandeza do segmento e da diversidade da produção familiar artesanal gaúcha, liderada principalmente por jovens e mulheres. Conforme a Secretaria do Desenvolvimento Rural (SDR), a juventude está à frente de 87 empreendimentos, enquanto as mulheres conduzem outros 148. Este ano, o espaço terá 15 agroindústrias de orgânicos, que passarão a contar com uma versão exclusiva do selo Sabor Gaúcho, que é conferido aos empreendimentos familiares legalizados pelo Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf). O lançamento do novo selo, com variação de cores para destacar os orgânicos, será realizado durante a Expointer.

Também se destacam empreendimentos voltados a artesanato rural e indígena, plantas e flores. Há várias opções em embutidos, defumados, queijos e laticínios em geral, pães, cucas e biscoitos, doces, geleias, mel, pescados, derivados da cana-de-açúcar (como as rapaduras), farinhas, vinhos, espumantes, cachaças, sucos, temperos, frutas desidratadas, ovos, licores, erva-mate, grãos e cervejas artesanais, entre outros produtos.

No artesanato, há itens elaborados com matérias-primas como lã, fibras vegetais, couro, madeira, porongos (base das cuias de chimarrão) e artigos de cutelaria ligados à tradição gaúcha. Quatro estandes oferecerão artesanato indígena das etnias Mbyá-Guarani, Kaingang e Xokleng. Entre os produtores de plantas e flores, destacam-se suculentas, orquídeas, bromélias, cactos e sementes crioulas. 

Estreante, Zampa Grigia oferta embutidos de porco moura

A agroindústria Zampa Grigia Embutidos Artesanais chega à Expointer pela primeira vez depois de se sagrar vencedora em concurso nacional de salames artesanais. O empreendimento da família Gedoz, de Carlos Barbosa, surgiu como alternativa para agregar renda à atividade de suinocultura, que estava em extinção na propriedade. O trabalho do casal Vitor e Marinez e do filho Bruno começou no resgate genético do porco Moura, raça brasileira descendente de suínos ibéricos trazidos por colonizadores espanhóis e portugueses. “Para nossa família, é uma raça que tem significado forte porque era tradicionalmente criada pelos bisavós e avós”, conta Bruno. “Inclusive uma das recordações do meu bisavô paterno é uma foto dele posando com um porco Moura.” A família recuperou também as receitas e o modo tradicional de fazer dos imigrantes italianos, que tinham nos embutidos uma maneira de conservação de carne. “Tentamos resgatar um pouco o sabor, trabalho, história e cultura dos imigrantes.”

Medalha de Prata no Prêmio CNA Brasil de Charcutaria 2023, agroindústria  comercializa na feira salames, copas, lombo e presunto cru | Foto: Zampa Grigia / Divulgação / CP.

A agroindústria foi aberta em 2019. No ano seguinte, participou do Prêmio CNA Brasil Artesanal 2023 – Charcutaria, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Para nossa felicidade, ganhamos a medalha de ouro de salames artesanais”, vibra Bruno. Agora em 2023, voltaram ao concurso e levaram a prata. “Mas ficou a certeza de que o produto tinha qualidade e que carregava todo nosso trabalho de resgate de sabor e cultura”, diz.

Para a primeira participação na Expointer, a Zampa Grigia oferecerá o salame artesanal premiado e produtos como copa, lombo temperado e presunto cru tipo culatello com 10 meses de maturação. A produção é artesanal e reduzida. “Nossa expectativa é muito boa, não simplesmente de vendas, mas de ter contato direto com o público, para contar história e ter retorno sobre produtos”, finaliza.

Martelinho e seus pescados 

A pesca artesanal de Mostardas, no Litoral Sul, vai estar representada no Pavilhão da Agricultura Familiar com a agroindústria Mar Telinho Pescados, administrada pelo casal Yanka Maria de Souza Rosa e Jusélito de Matos Rosa. Na Expointer, eles terão filés de peixes e pescados (papa-terra, traíra, linguado, tainha rosado, peixe-rei e violinha) e bolinhos de peixe e camarões congelados. “Será a primeira vez que vamos sair do município para vender nossa produção e estamos um pouco nervosos”, diz Yanka. “Queremos ser conhecidos, abrir uma porta para vender nossos produtos.”

Agroindústria de Mostardas vende pela primeira vez pescados, bolinhos de peixe e camarões congelados fora de seu município | Foto: Mar Telinho Pescados / Divulgação / CP.

O empreendimento foi uma evolução das pescarias. “A ideia surgiu de aproveitar uma peça onde limpávamos os pescados, ao lado da nossa casa”, conta Yanka. Ela conta que o empreendimento era informal e buscou adequações após ser vistoriado pela fiscalização do município. “A higienização era ótima, mas a gente não tinha aderido ao SIM (Serviço de Inspeção Municipal)”, conta. A empresa foi legalizada em 2022 e opera com mão de obra familiar. Além do casal, trabalham a prima Beatriz, a sogra Sueli, a tia Clori e a amiga Teresa.

Jeropiga, tradição da ilha

Uma tradição secular da Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande, poderá ser degustada e levada para casa em forma de garrafas. A agroindústria Costa Dias vai estar no Pavilhão da Agroindústria Familiar com a Jeropiga, uma mistura de cachaça com vinho. “A Jeropiga é um diferencial por ser um produto que somente nós produzimos. É uma bebida de origem portuguesa, feita a partir da uva sem fermentação, enquadrando-se como um vinho licoroso, para ser consumido como um aperitivo ou até digestivo”, explica Gabriel da Costa Dias, 28 anos, da sexta geração da família a produzir a bebida. O empreendimento é tocado pelo jovem e os pais, Hermes e Rosangela, e terá ainda vinho colonial com alguns rótulos de vinhos com uvas bordô, niágara, carmen e merlot, desde miniaturas a garrafas de 750 ml. Também vão oferecer quentão, com e sem álcool, vendido em copos na feira. 

Bebida é feita a partir de uvas, mas sem fermentação | Foto: Costa Dias / Divulgação / CP.

A família Costa Dias mantém parreirais em uma área de dois hectares na Ilha dos Marinheiros e produz cerca de 14 mil litros de vinhos e jeropiga por ano, entre outros produtos. “Na ilha sempre houve a tradição de produzir vinho e jeropiga. Meus avós e antecessores produziam para consumo. Porém, temos um registro de 1912 em que o tataravô do meu pai ‘exportou’ vinho, jeropiga e uva para o Rio de Janeiro”, conta Gabriel. Uma enchente em 1941 devastou os parreirais, e o foco mudou para cultivo de hortaliças e outras frutas. Em 1991, Hermes retomou a produção, em menor escala, e passou a vender para suprir dificuldades financeiras. “Deu certo, ele foi aumentando a produção e há praticamente 20 anos isso se tornou um negócio para a família”, detalha Gabriel. Na Expointer, a família terá o reforço de Samuel, engenheiro de alimentos que trabalha em Santa Catarina mas que vai se juntar ao irmão Gabriel e aos pais para atender os clientes.


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895