Feira de Agricultura Familiar vai atender pelo sistema de drive-thru na Expointer

Feira de Agricultura Familiar vai atender pelo sistema de drive-thru na Expointer

Um dos setores mais queridos do público todos os anos, espaço foi adaptado neste ano

Nereida Vergara

Pavilhão foi adaptado para atender público a bordo dos veículos

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A palavra “reinvenção”, tão usada em 2020 para definir a adequação das atividades econômicas às necessidades impostas pelo enfrentamento da pandemia da Covid-19, atinge grande significado num dos setores mais queridos do público todos os anos, na Expointer, e que estará no Parque Assis Brasil também na edição digital que começa amanhã: a Feira de Agricultura Familiar. Da abertura até domingo da semana que vem (4 de outubro), empreendimentos especializados na produção de alimentos coloniais, como pães, massas, salames, queijos, sucos e geleias, vão atender pela primeira vez no sistema de drive-thru, das 9h às 21h, diariamente. 

Cinquenta estandes, com 55 empreendimentos (50 agroindústrias, três de flores e dois de artesanato), estarão distribuídos dentro do Pavilhão da Agricultura Familiar, de 7 mil metros quadrados, ao qual o consumidor poderá acessar gratuitamente pelo Portão 1 do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Será organizado um fluxo de veículos para que o visitante possa escolher seus produtos sem desembarcar, com as laterais do pavilhão totalmente abertas para facilitar o trânsito e garantir a circulação do ar.

O assessor de política agrícola da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Jocimar Rabaioli, adianta que, apesar do número reduzido de expositores – no ano passado foram 332 –, foi possível selecionar um mix variado de produtos e com novidades. “Vamos ter derivados de leite de cabra, ovos caipiras e alimentos sem glúten e sem lactose”, cita, como exemplos. Conforme Rabaioli, o consumidor poderá visitar o link da feira de agricultura familiar no site www.expointer.rs.gov.br para saber o que terá à disposição, mas não será necessário fazer encomenda prévia.

“A expectativa é que a feira seja bastante procurada, por ser tradicional e porque os produtos coloniais não são tão facilmente encontrados nos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre”, avalia o assessor da Fetag. Ele chama a atenção para as imensas dificuldades que as agroindústrias do Rio Grande do Sul tiveram em 2020, com os impactos da estiagem e a queda nas vendas por conta da pandemia e do cancelamento de pelo menos dez grandes feiras. 

Criatividade

As famílias que têm como principal fonte de renda o beneficiamento da produção da agricultura familiar precisaram apostar na criatividade. Márcia Gallon, da Gallon Sucos, de Bento Gonçalves, viu cair em 70% a comercialização dos 30 mil litros de suco processados pela família anualmente. A reorganização do fluxo de vendas, a busca pelo consumidor pessoa física e as entregas domiciliares fizeram com que a empresa conseguisse minimizar o prejuízo. “Nossa ida para a Expointer vai ser muito importante para retomar o ânimo e até para lançar um produto novo, o suco de uva branca”, anuncia. 

Clarice Rohr, de Picada Café, também viu os rendimentos minguarem neste ano. Em 2016, ela e o esposo, Roberto, abandonaram a produção de leite, que era a atividade principal da família, para investir na fabricação de geleias, biscoitos e chás orgânicos da marca Produtos Lilien. “O nosso movimento está basicamente nas feiras; sem elas, o faturamento caiu 80%”, calcula. Clarice diz que foram meses de muita tristeza e preocupação e que o marido precisou buscar um emprego fora da agroindústria para que a família voltasse a equilibrar as contas. “Mas o convite para participar da Expointer Digital nos alegrou e estamos em plena produção para levar o melhor à feira”, comemora a agricultora, que tem contado com a ajuda da filha Eduarda no trabalho.

Não foi somente o cancelamento das feiras que trouxe dor de cabeça aos proprietários de agroindústrias. O fechamento das escolas e a consequente suspensão das compras da merenda escolar também causaram danos. Vanderlei Paulo Bini, de Não-Me-Toque, tem duas agroindústrias: a Embutidos Bini e a Lácteos Auler. No caso dos embutidos, sendo detentor do selo Susaf, conseguiu vender parte da produção em outros municípios, fazendo promoções e entregas domiciliares. No caso dos lácteos, o processo foi mais complicado e a família teve de reduzir a produção de 300 quilos de queijo por semana e vender o leite excedente do plantel próprio para outras empresas da região. Para Bini, participar da Expointer é um privilégio e a chance de rever amigos que não vê desde março, quando o isolamento começou.

Luciano Ricardo Sandrin, da agroindústria Nona Diva, de Barão, admite que o impacto inicial da pandemia assustou. A produção de pães, cucas e massas caseiras da família, que também era destinada à merenda escolar e festas comunitárias, chegou a cair 50%. “Mas, por incrível que pareça, conseguimos equilibrar as contas usando as redes sociais para promover nossos produtos e chegar ao cliente”, conta o filho de dona Diva, inspiração para o nome da agroindústria e ainda firme na atividade.

Os empreendedores, embora animados com a existência da feira no formato drive thru, têm as expectativas de venda ajustadas à realidade e acreditam que a comercialização deve ficar em torno de 40% a 50% do que cada um vendeu em 2019, quando a feira de agricultura familiar faturou R$ 4 milhões em nove dias.

 


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