Sistemas irrigados são caminho para evitar perdas

Sistemas irrigados são caminho para evitar perdas

Depois das estiagens que assolaram o Estado entre 2019 e 2022, governo e entidades aproveitaram a 45ª Expointer para debater formas de reservar água e melhorar a produtividade com acréscimo da irrigação

Felipe Faleiro

Gerente regional da Emater/RS-Ascar, Elias Davi Kuck, destaca que o objetivo da programação deste ano foi sensibilizar os visitantes para este tema enquanto insumo, e sua importância para o desenvolvimento da agropecuária gaúcha

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A severa estiagem que atingiu o Rio Grande do Sul nos períodos entre 2019 e 2022, comprometendo muitas lavouras, colocou à mesa os debates a respeito da importância de manter o campo bem servido de água. Ela, que provém naturalmente da chuva, pode ser suprida por ferramentas desenvolvidas para a agricultura, como é o caso dos sistemas de irrigação. “É vital para o Estado”, resume o secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), Domingos Velho Lopes. “Todos sabemos que não há falta de chuvas no Estado. O que temos é a sazonalidade delas, e, por isso, temos que ter a possibilidade de reservar a água em nível de propriedade”, comenta Lopes.

A forte seca recente trouxe lições, especialmente no que diz respeito ao âmbito jurídico relacionado à agricultura. O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) criou, no começo do ano, o Grupo de Trabalho Políticas Públicas de Reservação de Águas, que pretende consolidar uma jurisprudência para a mediação mais célere, por exemplo, da possibilidade de reserva em Áreas de Preservação Permanente (APPs).

Entre os encaminhamentos do GT, todos baseados na interpretação da legislação vigente, está a dispensa do licenciamento ambiental para a irrigação por aspersão ou localizada em açudes cuja bacia de acumulação não ultrapasse 5 hectares. A partir deste índice, e até 110 hectares, a competência é municipal, e para locais maiores, a análise é por conta do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema). “Com isto, com certeza, estaremos resolvendo mais de 90% dos açudes a serem construídos no RS”, avalia o secretário.

De acordo com um boletim especial da Sala de Situação do governo estadual, utilizando informações da Defesa Civil, 415 dos 497 municípios gaúchos, ou 83,5% do total, decretaram situação de emergência em razão da estiagem entre 2019 e 2021. Para 2022, o número foi ainda maior, alcançando 426 prefeituras, ou 85,7%. Conforme a SEAPDR, a seca mais recente “entrará para a história, como a de maior efeito negativo para a economia do RS, até hoje registrada”. Os efeitos dela foram sentidos em aproximadamente 300 mil propriedades rurais gaúchas, deixando também “dezenas de milhares de famílias com dificuldades ao acesso à água”.

Empresas do setor, como a Valley, estão com novidades tecnológicas. A companhia levou à 45<SC120,170> Expointer um reposicionamento de sua plataforma própria de gerenciamento de irrigação. “Mesmo que o produtor não consiga manter 100% da área irrigada, mas que tenha 40% ou 50%, ainda assim consegue ter uma boa produtividade. Em anos normais, digamos, o agricultor consegue produzir de 20% a 30% mais com a irrigação correta”, afirma o supervisor de vendas da Valley no RS, Uilson Torrel. 

Segundo ele, a cultura que mais responde à irrigação é o milho. Considerando a seca mais recente, produtores que não tinham áreas irrigadas colheram de 15 a 20 sacas por hectare, índice que aumentou para até 100 sacas. Lançado em fevereiro de 2020, o Programa Estadual de Produção e Qualidade do Milho (Pró-Milho/RS) busca, entre suas diretrizes, ampliar o uso da irrigação nesta cultura. Na ocasião, apenas 15% da área cultivada no RS era irrigada. 

Dados da secretaria, a partir de informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontam que lavouras irrigadas do grão produzem, em média, acima de 200 sacas por hectare, contra 78 sacas em locais não-irrigados. Na soja, a proporção média é de 80 sacas em locais irrigados e 39 sem irrigação, e no feijão, o dobro: 42 sacas em áreas irrigadas, contra 21 em áreas não irrigadas. Hoje, o Estado é o sexto maior produtor de milho do país, considerado estratégico para as cadeias produtivas de proteína animal, como avicultura, suinocultura, bovinocultura de leite, corte e equinocultura. 

condição

“Sabemos que as secas são recorrentes, precisamos nos preparar, trabalhar com os órgãos ambientais, secretarias da Agricultura e Meio Ambiente, criando condições para preservar água, para que você a tenha para irrigar, e também para que se possa inserir mais esta atividade no Estado. Isto vai possibilitar mais grãos, e por consequência mais competitividade das indústrias avícolas, de ovos, leite, e outras proteínas que são produzidas à base desses cereais”, avalia o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

Também dentro do Pró-Milho/RS, produtores com sistemas de irrigação, seja de superfície, aspersão ou localizada, pagam taxas menores de contratação de seguro rural e do Proagro. Neste ano, o tema central da programação da Emater/RS-Ascar na 45<SC120,170> Expointer foi “Água: Uso e Preservação”. “Com isso, buscamos sensibilizar os visitantes para este tema enquanto insumo, e sua importância para o desenvolvimento da agropecuária gaúcha”, conta o gerente regional da Emater/RS-Ascar, Elias Davi Kuck.

A Emater demonstrou sistemas de irrigação no parque. De acordo com Kuck, entre os trabalhos permanentes desenvolvidos pelos escritórios do órgão espalhados pelo RS está o de proteger as fontes aquíferas e a preservação, que são únicas em cada propriedade, a depender da topografia, solo, clima e os cultivos do local. “Todas as nossas unidades estão aptas a atender as demandas relacionadas à irrigação”, comenta.


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