Exportações de carne suína do Rio Grande do Sul e Paraná podem dar salto de 35%

Exportações de carne suína do Rio Grande do Sul e Paraná podem dar salto de 35%

A estimativa foi feita pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) considerando o reconhecimento da OIE dos dois Estados como zona livre de febre aftosa sem vacinação

Nereida Vergara

Certificado do Rio Grande do Sul foi recebido na quinta-feira pelo Mapa e enviado ao governo estadual por email

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Os Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná podem ter, até 2022, um incremento de cerca de 35% nas suas exportações de carne suína a partir do reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zonas livres de febre aftosa sem vacinação. A estimativa foi feita pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), segundo a qual 10% deste aumento poderá ocorrer ainda em 2021. O presidente da entidade, Ricardo Santin, comenta que, somente o Rio Grande do Sul, com a possibilidade de embarques de carne suína com osso e miúdos para o mercado chinês, poderá chegar no ano que vem a 350 mil toneladas exportadas, numa receita cambial estimada em 850 milhões de dólares. Ainda em 2021, diz a ABPA, o Estado poderá atingir o volume de 293 mil toneladas, 32 mil toneladas a mais que no ano passado. Juntos, Paraná e Rio Grande do Sul poderão ultrapassar a receita cambial de R$ 1,2 bilhão de dólares no ano que vem. Em análise divulgada ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as exportações de carne suína do Brasil tiveram um aquecimento de 40% no primeiro quadrimestre de 2021 comparado ao mesmo período de 2020, alcançando 346,4 mil toneladas.

O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NesPro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professor Júlio Barcellos, reconhece que o resultado imediato da certificação será mesmo para a suinocultura gaúcha. "Para a carne bovina, há um longo caminho a trilhar e passa muito mais por outras questões do que apenas pelo novo status sanitário", analisa. Barcellos observa que antes vai ser necessário o pecuarista aumentar produtividade e produção, além de ajustes que precisam ser feitos na indústria frigorífica para chegar nos mercados que não estavam habilitados. "Antes disso, viveremos de expectativas", pontua. O professor também chama a atenção para os riscos de não se vacinar. "O risco já foi quantificado, ele existe e foi reconhecido por todos os agentes da cadeia produtiva e é preocupante se não estivermos bem presentes no sentido de prevenir e mitigar situações que podem potencializar esses riscos da ocorrência de um surto, o que seria uma catástrofe", alerta. De acordo com ele, o caminho agora é trabalhar com responsabilidade, profissionalismo e conhecimento científico. "Os pecuaristas precisam estar conscientes de que o trânsito de pessoas, viagens para regiões que ainda usam a vacina, recebimento de visitas nas fazendas, agora muda tudo", completa.

Mas não serão apenas as vendas de carne que sentirão efeitos com o reconhecimento da OIE. Para o leiloeiro e diretor da Trajano Silva Remates, Marcelo Silva, a compra de genética bovina gaúcha pelo Estado de Santa Catarina, por exemplo, deve aumentar. "O fato de as fronteiras estarem fechadas há tanto tempo e só poder introduzir por embriões, vai fazer com que a procura tanto de machos quanto de fêmeas seja muito grande", projeta Silva.

O Ministério da Agricultura recebeu ainda na quinta-feira o certificado eletrônico de zona livre de febre aftosa sem vacinação do Rio Grande do Sul. O documento foi despachado por email pela pasta para o governo gaúcho, já que não houve deslocamento das autoridades até Paris, sede da OIE.
  

 


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