Manejo simples na criação de gado pode contribuir com redução de gases de efeito estufa

Manejo simples na criação de gado pode contribuir com redução de gases de efeito estufa

Pesquisa feita no Rio Grande do Sul indica que a altura adequada das pastagens pode mitigar os efeitos na agropecuária

Danton Júnior

Agropecuária impactou negativamente no PIB gaúcho

publicidade

Apontada com frequência como uma das responsáveis pelo aquecimento global, a criação de gado pode contribuir com a mitigação de gases de efeito estufa por meio de um manejo simples, baseado na altura das pastagens. A conclusão integra artigo científico publicado recentemente por pesquisadores do Rio Grande do Sul. O estudo será encaminhado ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), para que os dados de emissões relacionados à pecuária brasileira sejam atualizados. 

A principal conclusão do estudo, que teve como base o sistema de integração lavoura-pecuária, é que a adoção em larga escala de pastagens com altura entre 23 e 30 centímetros teria o potencial de alcançar até 14% da meta de mitigações de todo o setor agrícola estabelecida pelo governo brasileiro no Acordo de Paris. Considerando apenas a meta relacionada à fermentação entérica do setor pecuário, esta redução é calculada entre 22% e 25%. “Nossa pecuária feita em base de pasto acumula muito carbono. Quando fazemos a conta do que foi emitido com o que foi armazenado, estamos tendo uma emissão muito baixa ou até neutra de carbono”, afirma a pesquisadora Cristina Genro, da Embrapa Pecuária Sul, uma das coautoras do artigo. O texto foi publicado por um dos periódicos internacionais de referência na área de produção limpa, o Journal of Cleaner Production. 

A pesquisa foi desenvolvida pela Embrapa no âmbito da rede Pecus, que avalia a dinâmica de gases de efeito estufa e o balanço de carbono nos seis biomas do país, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). O IPCC calcula uma emissão de 56 a 70 quilos/ano de metano por animal da categoria de novilhos em terminação, enquanto que o desempenho calculado pela pesquisa é de 54 quilos em campo nativo puro e 48 quilos em sistemas melhorados. A emissão é medida por meio de um tubo colocado próximo ao focinho dos animais. “Estamos provando que o que está publicado no IPCC está superestimando as emissões brasileiras”, avalia Cristina. De acordo com ela, a pecuária brasileira é retratada pelo órgão internacional com números baseados em outros sistemas de produção. Um exemplo é o fator de emissão para a urina dos animais, que é calculado pelo IPCC em 2%, enquanto o estudo apontou 0,1%. 

A avaliação levou em conta a emissão do metano entérico por meio da respiração e eructação (mecanismo que o animal utiliza para regurgitar o alimento e mastigar novamente) dos ruminantes. Embora tenha sido feita em sistema de integração com a lavoura, a pesquisa também observa experimentos com campo nativo, inclusive com introdução de espécies exóticas como azevém e trevo vermelho. Nestes casos, há uma mudança na indicação da altura recomendada, que passa a ser de 8 a 12 centímetros na região da Campanha. O potencial, segundo Cristina, é de uma redução de mais de 30% na emissão do metano entérico. Para que a altura da pastagem esteja dentro do ideal também é necessário controlar o número de animais por hectare. “Se a lotação for muito alta, os animais vão ter baixo desempenho e muita emissão de metano por área”, explica Cristina.

A pesquisa não indica um parâmetro de cabeças por área, mas recomenda a observação da altura do pasto também para verificar a necessidade de colocar ou retirar animais. 
Em 2012, o governo federal lançou o “Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura”, conhecido como Plano ABC. Um dos compromissos do Brasil no Acordo de Paris foi o de fortalecer este programa, considerando-o “como a principal estratégia para o desenvolvimento sustentável na agricultura”.

A meta cita a restauração adicional de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e o incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) até 2030. “Ampliar a visão de sustentabilidade e implementar técnicas de baixo carbono podem gerar vários benefícios sociais, econômicos e ambientais para o setor, através de inovações tecnológicas que propiciem o aumento da produção de alimentos, gerem emprego e renda nas áreas rurais e protejam e conservem os recursos naturais, como a água e as florestas”, observa a gerente de clima do instituto WRI Brasil, Viviane Romeiro. O Ministério da Agricultura trabalha, atualmente, com a meta de reduzir a emissão de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030, em relação aos níveis de 2005. O Acordo de Paris começa a vigorar em 2020. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895