Ministério busca subsídios para a regulação dos alimentos à base de vegetais

Ministério busca subsídios para a regulação dos alimentos à base de vegetais

Preocupação de estudiosos e indústria ligada à pecuária é que produtos não sejam identificados como carne

Nereida Vergara

publicidade

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) abriu uma Tomada Pública de Subsídios (coleta de informações) para auxiliar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no processo de regulação da produção nacional dos alimentos compostos unicamente de matéria-prima vegetal, conhecidos genericamente como plant based, que buscam imitar as características nutricionais e organolépticas (olfato, sabor) de similares de origem animal. De acordo com o The Good Food Institute (GFI), o mercado global deste segmento poderá movimentar 370 bilhões de dólares até 2035.

No Rio Grande do Sul, estado do Brasil com tradição na pecuária de corte, os produtos plant based dividem opiniões. A professora Márcia Dutra de Barcellos, do Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que atua também na área de Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade do grupo de pesquisa Da Produção ao Consumo, considera o processo de regulação iniciado pelo Mapa benéfico. 

“São alimentos muito importantes para uma categoria de consumidores que procuram uma alternativa à carne, não necessariamente vegetarianos ou veganos”, afirma. Márcia não acredita que esses produtos possam concorrer diretamente com a carne, mas pontua que o uso deles por grandes redes de fast food é um sinal de que o interesse pode ir além de nicho e levar a um produto de massa.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva  da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Júlio Barcelos, o temor pelo avanço dos plant based não é pela pecuária, mas pelos consumidores, “que poderão ser induzidos a se alimentar com algo com denominação inapropriada imaginando que assemelha-se a outro produto”. 

Barcellos defende que entidades do setor, universidades e organizações da sociedade se manifestem na Tomada Pública de Subsídios para evitar riscos na denominação destes produtos. “Se da pecuária são exigidas tantas conformidades, da produção ao consumo, com as necessidades de atender requisitos ambientais, sociais e econômicos, poderá haver uma concorrência desleal”, pontua.

O presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sicadergs), Ronei Lauxen, diz que o setor não é contrário a esses alimentos, mas ressalva que eles “não podem ser denominados carne”. Admite, ainda, que se alguém está disposto a fabricar alimentos plant based e alguém está disposto a comprá-los trata-se de uma regra sagrada de mercado. Insiste, no entanto, que não se dê a eles o nome de carne pois seria “propaganda enganosa”.

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895