Oscilação da soja preocupa produtor

Oscilação da soja preocupa produtor

Apesar de freada nesta sexta-feira, queda da cotação é associada à projeção de safra e especulação nos EUA

Nereida Vergara

soja nas mãos para matéria de cotações

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A queda da cotação do bushel de soja ocorrido na quinta-feira na Bolsa de Chicago, de 14,48 dólares para 13,29 dólares, causou grande preocupação entre os produtores da oleaginosa no Rio Grande do Sul. Naquele mesmo dia a saca comercializada no Porto de Rio Grande iniciou a R$ 161,00 e fechou a R$ 152,00, num recuo de 5,68%. Nesta sexta-feira, a Bolsa de Chicago reverteu em mais da metade a retração do dia anterior, fechando a 13,96 dólares, mas no Porto de Rio Grande a saca se manteve em R$ 152,00.
Conforme especialistas, uma combinação de fatores causou o movimento de cinco dias consecutivos de baixas (que acumularam 11,87% desde os 15,08 dólares do dia 11) até quinta-feira, em Chicago. Entre eles estão a procura dos investidores por fundos multimercado, em razão de um possível ajuste da taxa de juros da economia dos Estados Unidos; a expectativa de chuvas regulares nas lavouras norte-americanas, que podem elevar a produção; e a possível mudança na política de biocombustíveis naquele país, diminuindo o índice de mistura de etanol e biodiesel na gasolina e no diesel. 
Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, a quinta-feira mostrou realmente a indefinição do momento no mercado, chegando a um nível de exagero que acabou sendo compensado em quase 70% na cotação de sexta-feira. “Até 15 de julho devemos ter um mercado muito influenciado pelas notícias do clima, pois há estoques muito baixos de soja, e houve antecipação do plantio norte-americano, o que aumenta a dose de risco”, pontua.
O professor de Economia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Nilson Costa, também avalia que o movimento do dia 17 deu a sensação de ter sido “maior do que deveria”, por isso a recomposição do valor do bushel na sexta-feira. Costa analisa que a queda expressiva ocorreu basicamente como reflexo da migração dos investidores para as aplicações em papel, de modo realmente especulativo. “O interessante é que o próprio mercado se deu conta que passou dos limites”, complementa, referindo-se à sexta-feira. Sobre a desvalorização local da oleaginosa, o especialista afirma que ela respondeu a Chicago, mas agrega a queda na taxa cambial no Brasil, que vem ocorrendo sistematicamente desde abril.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/RS), Décio Teixeira, afirma que a entidade vinha alertando seus associados nos últimos dias para as quedas consecutivas da bolsa de Chicago, que, junto com a taxa cambial, balizam o valor da soja brasileira.
De acordo com Teixeira, com o recuo também do dólar, cotado no final da semana em R$ 5,06, a situação tomou feições de “desastre” e fez com que o produtor adotasse a cautela em seus negócios.
“Na nossa opinião, o que aconteceu em Chicago foi de fato especulação, desejo dos grandes investidores mundiais de derrubarem a cotação para comprar mais barato”, avalia. “Hoje, só quem tem soja para vender é o Brasil, por isso defendo que o balizamento da nossa soja fosse desatrelado da bolsa norte-americana”, propõe o dirigente.


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