Prefeituras admitem decretar calamidade por causa do leite

Prefeituras admitem decretar calamidade por causa do leite

Prejuízos sofridos pelos produtores asfixiam economia de diversos municípios do Rio Grande do Sul

Correio do Povo

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Impactados pela desvalorização do seu principal produto, municípios gaúchos que têm a pecuária leiteira como base econômica estudam decretar estado de calamidade pública. O motivo são os reflexos que a perda de receita dos produtores tem ocasionado na economia local e, inclusive, nas finanças das prefeituras. A esperança é de que o decreto fortaleça as reivindicações do setor junto à União e ao Estado, de intervenção governamental no mercado. Segundo a Emater, o preço médio do litro hoje é de R$ 0,92. Há um ano, estava em R$ 1,18.

Após reunir-se ontem com o conselho agropecuário do município, o prefeito de Tiradentes do Sul, Alceu Diel, decidiu que irá assinar o decreto na próxima semana. Além do preço baixo, ele alega que empresas deixaram de pagar os produtores, o que agravou o quadro. "Com o preço que está, os agricultores não conseguem sobreviver", afirma. Diel alega ainda que o município está há dois anos com a mesma receita, enquanto enfrenta aumentos de preços dos combustíveis e da energia elétrica.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, Cleonice Back, acredita que o decreto possa ser um instrumento que auxilie na busca pela renegociação de financiamentos de produtores que estão sem condições de pagar dívidas.

Em Mato Leitão, no Vale do Rio Pardo, a Secretaria da Agricultura e a Emater trabalham na elaboração de um diagnóstico atualizado do setor. O resultado irá determinar se a prefeitura emite ou não o decreto. A pecuária envolve quase 50 produtores, com um rebanho que soma 2,5 mil animais. Os problemas no setor são percebidos também em serviços prestados pela prefeitura. “Enquanto que pedidos para silagem e atendimento veterinário tiveram redução, os de Guias de Transporte Animal (GTA) aumentaram. Isso é sinal de que animais estão sendo vendidos”, constata o secretário da agricultura, João Carlos Machry. O prefeito Carlos Bohn ressalta que a atividade gera renda no interior e movimenta a economia. “Com esses dados teremos condições para tomar uma decisão. Claro que um decreto precisa estar muito fundamentado e seguir critérios técnicos para ser reconhecido pelo Estado e União”, disse.

No Vale do Taquari, uma das principais bacias leiteiras do Estado, o instrumento a ser utilizado pelos prefeitos deve ser uma moção pública. O presidente da Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Regional, Marcos Antônio Hinrichsen, afirma que esta foi a solução jurídica encontrada pelas entidades do setor. "Queremos, com isso, chamar a atenção para o problema existente e ter força política para fazer avançar uma pauta", explica. De acordo com ele, produtores relataram terem recebido até R$ 0,67 por litro. A pauta inclui prorrogação de dívidas e criação de uma linha de crédito emergencial.

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