Rio Grande do Sul terá programa de qualificação da produção da erva-mate

Rio Grande do Sul terá programa de qualificação da produção da erva-mate

Estado espera retomar a liderança na produção, que perdeu para o Paraná há cerca de dez anos

Nereida Vergara

Rio Grande do Sul comercializa o maior volume de erva-mate do país, de 100 mil toneladas por ano

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Maior processador e maior consumidor de erva-mate do Brasil, o Rio Grande do Sul terá um programa de qualificação da produção da folha, com regras específicas, cursos e organização da cadeia produtiva. Com isso, espera retomar também a liderança na produção, que perdeu para o Paraná há cerca de dez anos.

Apesar de ter reduzido seu consumo em 30% nos últimos três anos, o Rio Grande do Sul ainda comercializa o maior volume do país, de 100 mil toneladas por ano, segundo técnicos do Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate) e da Emater/RS. É também o maior processador de erva-mate, contando com cerca de 250 empresas que industrializam a produção de folha verde local, estimada em 276 mil toneladas em 2016. Para chegar a esse volume, parte da matéria-prima é adquirida no Paraná.

Lançado pela Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) na terça-feira (21), durante a Expoagra Afubra, em Rio Pardo, o Programa para a Qualificação e Valorização da Erva-Mate será executado pela Emater com apoio de entidades do setor e vai tentar revitalizar a cadeia produtiva nos 219 municípios onde a cultura está presente. “Nossa ideia é, nos próximos cinco anos, organizar a cadeia por meio da interação com a pesquisa, as boas práticas de plantio e industrialização e o treinamento de produtores e tarefeiros, aqueles trabalhadores que atuam na poda da erva. A Emater vai promover cursos para que o produtor perceba as possibilidades que a cultura oferece, não só para a diversificação da produção em suas propriedades, mas também como uma alternativa de renda. Nós temos mercado e queremos investir na qualidade da matéria-prima”, resume o titular da SDR, Tarcísio Minetto.

O projeto vai abranger os cinco principais polos produtores de erva-mate no Rio Grande do Sul: Planalto e Missões, Alto Uruguai, Nordeste, Alto Taquari e Vale do Taquari. O secretário da Agricultura, Ernani Polo, diz que o cultivo pode ser levado para áreas de reflorestamento permanente.

Para o presidente do Ibramate e superintendente da Emater em Erechim, Valdir Zonin, mais do que buscar liderança na produção, a cadeia quer regras. Ele explica que hoje não há qualquer lei que discipline a produção, nem estabelecendo padrões de qualidade e nem exigências técnicas, como o cadastramento de cultivares ou processos. “Hoje, se uma indústria quiser adicionar 30% de açúcar à sua erva-mate, para torná-la mais suave, pode fazê-lo. Mas a erva com açúcar não é erva de qualidade”, adverte. Segundo Zonin, o Rio Grande do Sul vem perdendo espaço porque tem 80% dos seus ervais plantados enquanto o Paraná tem 80% de ervais nativos, mantidos em áreas de sombreamento de florestas, com poda a cada três anos e níveis de maturação mais adequados que a erva-gaúcha. “Por isso, nem mesmo com o acréscimo do frete as ervateiras estão deixando de buscar matéria-prima fora daqui”, afirmou.

Zonin disse ainda que o setor está em busca de uma lei nacional que crie parâmetros de controle para a produção e industrialização do produto no país. O Brasil tem 70 mil hectares de erva-mate e produção anual de quase 600 mil toneladas de folhas.Os produtores são os três estados do Sul e o Mato Grosso do Sul.

Programa gaúcho para qualificação e valorização da erva-mate

• Proposta da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR-RS), em parceria com a Emater/RS-Ascar, no intuito de contribuir para o desenvolvimento rural sustentável da cultura da erva-mate.

• É um conjunto de ações de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters), que será executado pela Emater, voltado para a cadeia produtiva da erva-mate, em sintonia com as alternativas que integram a diversificação da produção de alimentos, a manutenção dos agricultores no campo e a conservação ambiental.

• Considera as características da cadeia produtiva da erva-mate, desde os sistemas extrativistas em florestas nativas, passando por sistemas agroflorestais, até sistemas de produção de erva-mate a pleno sol.

• Prevê a articulação com parcerias de produtores rurais, indústrias, instituições de ensino e de pesquisa, sindicatos de trabalhadores rurais, além de agentes públicos e privados, que possam contribuir para a qualificação e valorização da cadeia produtiva dos pontos de vista ambiental, sanitário e de certificação de produtos.

• Propõe ações de capacitação e assistência técnica em boas práticas agrícolas de produção de erva-mate para agricultores, tarefeiros e viveiristas, bem como a implantação e o monitoramento de Unidades de Referência Tecnológica Social (URTS) para aplicação e avaliação de resultados.

• O público-alvo do programa são os atores da cadeia produtiva da erva-mate no Rio Grande do Sul, formada pelos agricultores, tarefeiros e viveiristas, além das industriais que beneficiam a matéria-prima.

• A área de abrangência do programa será o Rio Grande do Sul, com foco nos cinco polos ervateiros definidos pela própria cadeia produtiva: Planalto e Missões, Alto Uruguai, Nordeste, Alto Taquari e Vale do Taquari.

• O programa tem duração de cinco anos, de 2017 até 2021, podendo ser mantido posteriormente como uma política pública permanente.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895