Sistema "Composto Barn" exige sutilezas no manejo

Sistema "Composto Barn" exige sutilezas no manejo

A reposição de serragem e a substituição total da cama são decisivos e podem determinar o sucesso da iniciativa

Cíntia Marchi

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No Compost Barn, a qualidade do confinamento vai depender do manejo da cama orgânica. Esse é um ponto determinante para o sucesso ou fracasso da iniciativa. “O produtor tem que saber olhar a cama e avaliar se ela deve ser trocada ou não”, ressalta o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Alessandro de Sá Guimarães.

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A cama nunca pode estar compactada ou adquirir consistência pastosa. Deve, sim, se esfarelar na mão, indicando que está seca. Em regiões de clima muito úmido, os cuidados devem ser redobrados. A Embrapa também recomenda que, dependendo do clima, parte da cama seja renovada com a reposição de mais serragem a cada período de três a cinco semanas. “Ainda não há um estudo que indique de quanto em quanto tempo a cama tem que ser trocada totalmente”, comenta Guimarães.

Na propriedade de Sarah Waihrich Salles, em Júlio de Castilhos, a cama inteira só precisou ser substituída por serragem nova depois de quase dois anos da instalação do primeiro galpão. Hoje, são dois galpões com espaço para 370 vacas holandesas. “O bem-estar animal foi determinante para a nossa família optar por esse sistema”, conta Sarah, que já recebeu em sua fazenda inúmeras visitas de produtores de leite, veterinários e pesquisadores interessados em conhecer o Compost Barn.

Antes de 2015, as vacas ficavam a pasto e eram tratadas nos cochos com silagem e ração. “Em poucos meses dentro do galpão começamos a perceber melhora em todos os índices. A produção aumentou, em média, de 6 a 8 litros por vaca”, contabiliza. O esterco produzido nos estábulos é utilizado nas lavouras da propriedade, gerando um ganho ambiental.
Para o presidente da Comissão de Sanidade Agropecuária do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV/RS), Ricardo Bohrer, o Compost Barn traz vantagens quando se fala em sanidade. “No confinamento com piso de concreto as vacas apresentam muitos problemas de aprumo e lesões de casco. Com a cama orgânica isso praticamente termina. O conforto é muito grande e resulta em um aumento de 15% a 20% em produtividade”, estima.

No acompanhamento dos sistemas de compostagem já implantados no Rio Grande do Sul, o veterinário diz que observou a redução de até 90% das ocorrências de mamite (inflamação nos tetos), pelo fato de as vacas ficarem sempre em ambiente seco. “É um sistema que só traz vantagens, mas, para isso, todas as regras e procedimentos devem ser seguidos na forma certa”, alerta Bohrer.

Para o veterinário gaúcho Jonas Baroni, que trabalha na área de reprodução do gado leiteiro no Departamento de Ciência Animal da Michigan State University, outra vantagem da cama orgânica é a qualidade do ar, uma vez que o uso da serragem ajuda a diminuir a concentração de amônia e, por consequência, reduz a temperatura do ambiente. “Uma pesquisa desenvolvida pelos holandeses mostrou que a serragem libera 200 miligramas de amônia, por hora, por metro quadrado, enquanto que a areia libera o dobro”, menciona Baroni, ao destacar a importância de se respeitar a metragem exigida por animal para evitar sobrecarga e a compactação da cama. “Mas, pelo que tenho conversado com produtores no Rio Grande do Sul, existe uma grande chance do Compost Barn inovar a pecuária gaúcha. O conforto proporcionado por esse tipo de instalação propicia muitos ganhos”.


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