Solos devastados trazem brecha para reorganizar o sistema produtivo do RS
Estratégias de recuperação da terra em áreas devastadas pelas enchentes devem prever condições para que a água infiltre e a biologia aconteça
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Estudos do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)mostram que a recomposição do solo do Rio Grande do Sul, impactado pela catástrofe climática no mês de maio custará R$ 6,6 bilhões.
Porém, não será apenas dinheiro que irá reestruturar os aspectos físicos, químicos e biológicos perdidos, nem, tampouco, devolverá a fertilidade às terras.
“As análises espaciais da Seapi (Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação) apontaram para cerca de 3,2 milhões de hectares com solos impactados, em alguma medida, pelas enchentes de maio”, destacou o diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura, Ricardo Felicetti, durante painel sobre o tema promovido na Expointer. Já as perdas monetárias dos produtores estão estimadas em R$ 11,5 bilhões.
Em um cenário atual e vindouro de grandes dificuldades financeiras, especialistas apontam que o primeiro passo, neste resgate, é recuperar conhecimento e promover ações dentro e fora das porteiras. Porém, de forma não só a reestabelecer a fertilidade das áreas, mas de conservar o solo e a água.
O professor Dr. de Física do Solo da UFRGS Michael Mazurana defende uma reorganização gradual do sistema produtivo. Isso porque a destruição evidencia tanto solos encobertos por sedimentos e detritos como completamente lavados, restando apenas o chão duro.
“São dois cenários diferentes, de deposição e de lavagem, dentro da propriedade rural e além dela, para a questão da bacia hidrográfica”, diz.
As diferentes extensões e profundidades dos danos faz com que Mazurana alerte para a necessidade de se adotar estratégias e ações segmentadas.
“Dinheiro também vai ser um caminho, mas vai passar muito por conhecimento. Cada propriedade vai ter uma ação diferente, cada município vai ter uma concentração mais intensa”, analisa.
Apesar de a maior preocupação, por ora, ser a fertilidade, o especialista lembra que a prioridade é “dar uma condição física para que a fertilidade atue, que a água infiltre e que a biologia aconteça”, embora seja um processo bastante demorado.
Somente em terras de arrozeiros, na Região Central do Estado, a quantidade de cascalho e areia em terras baixas e várzeas encheria 3 milhões de caminhões, exemplifica o gerente de Extensão Rural do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Luiz Fernando Siqueira.
“Isso vai impactar não só nesta safra, mas nas próximas”, alerta.
As análises do solo já realizadas na região não apontaram, no entanto, uma perda imediata de produtividade pela deposição de areia, mas a remoção superficial de solo foi um dos principais problemas. Técnicos do Irga deve retornar aos locais em outubro para novas coletas nas mesmas áreas, para acompanhamento.
“Com o passar dos dias, a tendência é de haver lixiviação dos nutrientes e empobrecimento do solo”, diz ele.