Tá na Mesa discute oportunidades e ameaças ao agronegócio

Tá na Mesa discute oportunidades e ameaças ao agronegócio

Evento on-line contou com apresentação do ex-ministro Francisco Turra e do pesquisador Décio Gazzoni

Danton Júnior

Desempenho do agro durante a pandemia foi destacado pelos participantes

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As oportunidades e ameaças ao agronegócio foram o tema do Tá na Mesa da Federasul, ontem, em que em razão da pandemia de Covid-19 ocorre em formato virtual. O ex-ministro da Agricultura e presidente do conselho da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Francisco Turra, e o pesquisador Décio Luiz Gazzoni, da Embrapa, falaram sobre o desempenho do setor durante a pandemia, cotação das commodities e produção sustentável, entre outros assuntos.

De acordo com Turra, o agronegócio brasileiro ganhou uma autonomia tão grande que o país apresentou resultados expressivos como produtor de alimentos durante a pandemia. O ex-ministro ressaltou que, ao mesmo tempo, Estados Unidos e União Europeia reduziram suas produções de aves e suínos. "O Brasil teve a sorte de passar incólume, sem nenhum problema", ressaltou, destacando ainda a diversificação de produtos alcançada pelo agronegócio do país. Turra citou dados da FAO e da OCDE que apontam que 40% dos alimentos consumidos no mundo pelos próximos anos deverão sair do Brasil. "O mundo tem uma dependência muito forte do Brasil", observou.

Com relação ao maior importador de proteína animal brasileira, a China, Turra - que é ex-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal - disse que o segmento tem a segurança de que o gigante asiático deve continuar demandando a carne brasileira, mesmo com a recuperação de parte do plantel suíno daquele país, dizimado em razão da peste suína africana. "Nos próximos cinco anos não há nenhuma condição de recompor o rebanho suíno chinês e vamos continuar exportando", analisou.

Quanto à cotação das principais commodities agrícolas, Turra salientou que os estoques mundiais estão "baixíssimos" e que a tendência é permanecer dessa forma. "As commodities terão preços elevados até a recomposição dos estoques", disse. Por outro lado, alertou para a elevação de custos para a próxima safra. Uma notícia comemorada pelo ex-ministro foi a resolução que fixa o percentual da mistura de biodiesel ao diesel em 12%. De acordo com ele, a medida vai ao encontro de uma transição energética de baixo carbono, com vistas a erradicar o uso dos combustíveis fósseis. Além disso, citou que há demanda de grandes empresas por biocombustíveis.

O compromisso do governo brasileiro com a redução de gases do efeito estufa e a ampliação de recursos para o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) foi destacado durante o encontro virtual. Gazzoni, da Embrapa, observou que cada vez mais investidores estão deixando claro que buscam um agronegócio sustentável, sendo que a redução de emissões é um dos itens mais importantes. "O programa ABC ganhou corpo e hoje ocupa um espaço importante. A Embrapa tem trabalhado muito na melhoria destas tecnologias mitigadoras", disse, citando o lançamento da carne carbono neutro. Hoje a empresa de pesquisa trabalha também para concretizar a soja carbono neutro. "É isso que o mundo está nos cobrando", resumiu Gazzoni.

Mais do que a instabilidade política interna, Gazzoni ressaltou que o Brasil está exposto a outras ameaças, relacionadas à sustentabilidade. O pesquisador citou dados de desmatamento e de incêndios ilegais para destacar que a maneira como o país cuida do seu meio ambiente pode afetar a economia e, por consequência, o agronegócio. "Não basta produzir. Nesses novos tempos, é preciso ser sustentável", observou. Entre os itens que ele considera fundamentais para elevar a produção, citou a demanda firme no mercado internacional, oferta sólida, uma diplomacia comercial agressiva e investimento em marketing e comunicação, entre outros. 
 


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