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Duetos e diversidade musical marcam primeiro dia do Festival Turá em Porto Alegre

Evento que retorna ao Anfiteatro Pôr do Sol contou com Armandinho, Fresno, Alcione e outras atrações neste sábado

Evento segue até a noite deste domingo, dia 26
Evento segue até a noite deste domingo, dia 26 Foto : Pedro Piegas

Após reunir cerca de 20 mil pessoas na primeira edição na capital gaúcha, em 2023, diversas sonoridades brasileiras uniram o samba, o reagge, o soul e o rock com o retorno do Festival Turá a Porto Alegre. Neste sábado, primeiro dia de evento, o Anfiteatro Pôr do Sol recebeu milhares de pessoas em um dia em clima ameno, chuva fraca e com direito a espetáculo à parte no céu ao final da tarde, com a formação de um arco-íris.

A celebração do evento é simbólica, já que ocorreria no final de maio de 2024 e precisou ser adiado por conta da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul. Há quase um ano e seis meses, o Anfiteatro estava alagado. Mesmo com a mudança na data e em algumas atrações do line-up, o público não hesitou em participar e exaltar a brasilidade da música.

Festival Turá no Anfiteatro Pôr do Sol | Foto: Pedro Piegas

A abertura ficou por conta da banda gaúcha Ultramen. O grupo, com 30 anos de carreira, trouxe sucessos como “Grama Verde”, “Santo Forte”, “Esse é o Meu Compromisso”, “Erga Suas Mãos”, “Dívida” e “General”, com a presença de Tonho Crocco (vocal), Chico Paixão (guitarra), Pedro Porto (baixo), Zé Darcy (bateria), Malásia (percussão), DJ Anderson (toca-discos), e Leonardo Boff (teclados).

Tonho Crocco comentou, em entrevista após o evento, sobre a importância de subir ao palco do Anfiteatro após a catástrofe climática. "Foi um momento que Porto Alegre parou, e que o Brasil ajudou. Tem um sentido de comoção no geral, que culmina com um desfecho disso tudo. Foram dias sem música, sem alegria. Voltar agora, dando a volta por cima, com cultura, diversidade e coragem é a melhor solução e um final feliz para essa história", diz.

"Demos o pontapé inicial no festival, e a gente está bastante feliz de ter participado e voltar para esse espaço tão bacana, que é o Anfiteatro Pôr do Sol. Nos apresentamos várias vezes aqui, nesse palco que agora está diferente", complementou o tecladista Leonardo Boff.

Os Garotin unem o soul ao pop brasileiro

Em seguida, Os Garotin contagiaram a plateia com sonoridades que unem soul, funk, pop e R&B. O grupo de São Gonçalo (RJ), formado por Léo Guima, Anchietx e Cupertino cantou hits como “Garota”, “Pique Anitta”, “Zero a Cem” e “Nossa Resenha”, parceria com Caetano Veloso.

O grupo carrega inspirações nacionais e internacionais para compor seus hits, que têm estabelecido uma nova era à musica negra brasileira. “Sou um pouco de mistura de tudo, mas ouço muito coisa internacional, e a gente apresenta muita coisa um para o outro. Ouço muito esse R&B contemporâneo, tipo Usher, mas acaba respingando também nacionalmente, Linker, na galera da banda Black Hippy, um pouco mais antiga", diz Anchietx em entrevista ao Correio do Povo. Cupertino complementa: "Essa mistura do antigo com o novo, a gente adora. A gente também mistura muito com a música brasileira, com o samba e MPB, com Jorge Ben, Djavan e Gilberto Gil”.

O grupo vem da periferia e leva ela como potência para as canções. "Quanto quanto mais dor, mais o talento prevalece, entendeu? Ele sai, ele evapora, não tem como. A gente se entrega para ela porque é a nossa alegria. A gente tem tanta incerteza, tanta dificuldade no dia a dia, e a música vira tudo para a gente", diz Anchietx. "Os três têm uma garra em comum. A partir disso, a gente soube agarrar bem as oportunidades", completa Léo Guima.

Festival Turá no Anfiteatro Pôr do Sol | Foto: Pedro Piegas

Não tem quem não goste do louco

Às 16h35hmin, foi a vez do poeta Armandinho. Quem já não estava cantando, começou ali, já que a setlist foi totalmente composta pelos sucessos dos anos 2000 e considerados atemporais, conhecidos pelos gaúchos de todas as idades, como "Rosa Norte", "Eu Sou do Mar", "Eu Juro", "Ursinho de dormir", "Pescador" e “Casinha”. No meio do show, que durou em torno de 1 hora, uma chuva fraca começou a aparecer. Mas não foi um problema: o público manteve-se firme em frente ao palco, provando que não há tempo ruim para quem quer curtir música boa. Em seu show, o artista dedicou boa parte das falas para mencionar a felicidade por estar no palco após a enchente e a importância da preservação do planeta. “o futuro da preservação é o presente, é o agora”, exclamou.

Veja também: Festival Turá: "Porto Alegre está voltando ao cenário dos festivais", celebra Armandinho

Esalba Silveira, mãe do artista, era uma das mais animadas da plateia, se embalando no ritmo da música e aproveitando o momento raro de assisti-lo, já que afirmou nem sempre ser possível acompanhar. “Adorei o show, sempre adoro. Para mim é um orgulho, um prazer e uma alegria”, afirmou. Questionada sobre a canção favorita do filho para ela, Esalba afirma: “não saberia escolher. É o mesmo que pedir pra dizer de qual filho a gente gosta mais. Gosto de todas”.

O artista também cantou “Analua”, música de 2004 em parceria com a banda Chimarruts. Armandinho contou, no palco, que a canção surgiu quando morava em um hotel na Praia Brava de Itajaí e recebeu a banda. Naquela noite, o vocalista Nê Kisiolar comentou, saudoso, que deixou sua namorada Ana no aeroporto. Uma nuvem encobriu a lua e ele disse: "Foi nessa nuvem que a Ana desapareceu". Na hora, Armandinho cantou: "por que você não sai de trás da nuvem?", a banda foi completando verso a verso, nascendo a canção. Sua apresentação foi encerrada com “Toca Uma Regueira Aí”.

‘Emocore’ com chuva e arco-íris

Por volta de 18h20min, subiu ao palco a banda Fresno, composta atualmente pelo vocalista e multi-instrumentista Lucas Silveira, o guitarrista Gustavo Mantovani e o baterista Thiago Guerra. O trio rockeiro cantou canções recentes, como “Se Eu For Eu Vou Com Você”, com a banda com NX Zero, e do novo álbum e turnê “Eu Nunca fui Embora (2024)”, como “Quando o Pesadelo Acabar”.

As mais clássicas também foram cantadas a plenos pulmões pelos emos, como “Quebre as Correntes”, do álbum Ciano (2006), canção que furou a bolha emo; e as demais “Onde Está”, “Eu Sei”, “Diga, parte 2” e “Milonga”. A chuva fraca que caía durante o show fez jus ao tom das músicas: “quem quiser, aproveita para beijar agora, porque depois vai ser só tristeza e chifre”, brincou Lucas Silveira, que trouxe “Me And You’ e “Infinito” no setlist. Às 18h40min, o espetáculo foi ao céu: o público foi surpreendido por uma arco-íris que se abriu durante o pôr-do-sol.

Dueto, samba e aclamação

Às 19h30min, o público, com o maior número presente do dia, aproximava-se do palco. Os gritos de “Marrom” já entoavam à espera de uma das atrações mais esperadas – tanto pela plateia quanto pelos artistas que passaram pelo festival. Em um vestido reluzente e com batom vermelho, Alcione entrou no palco com sua vitalidade e energia única. Começou com “Retalhos de Cetim”, canção de 2003 que une desilusão amorosa com a paixão pelo carnaval, e seguiu com seus sucessos que permeiam os mais de 50 anos de carreira, como “Além da Cama”, “Estranha Loucura”, “Sufoco” e “Juízo Final”. As canções “A Loba” e “Volta Por Cima” levantaram o astral do público.

“Acho que esses gaúchos acham que eu nasci aqui”, disse a musa. Alcione comentou que, na primeira vez que veio ao Rio Grande do Sul, uma pessoa disse a ela que poderia não ser bem recebida, já que “não gostavam de preto”. “A verdade é que nunca mais largaram essa pretinha. Obrigada pelo carinho de sempre”, declarou a cantora, sob aplausos e gritos da plateia.

Sua apresentação marcada pela voz e presença de palco trouxe mais emoção quando Alcione convidou sua sobrinha e também backing vocal Sylvia Nazareth para um dueto. As duas, juntas, cantaram “Separação”. Logo após, o público foi surpreendido com a presença de Lucas Silveira, da Fresno, interpretando junto com a cantora o sucesso de Chitãozinho e Xororó “Evidências”. BaianaSystem foi a última atração do festival, sem perder a animação do público que ficou até o final em meio ao gênero afro-pop.

Além dos artistas principais, os intervalo entre shows foram animados por blocos e DJs. Neste primeiro dia, quem dominou o palco foram o bloco Não Mexe Comigo, Espartano por Johnny420, Cortex por Gilzerax, Tieta por Joelma Terto e Neue por JF Florence. Durante todo o festival, as apresentações contaram com intérpretes de libras, que faziam uma performance à parte.

Festival Turá no Anfiteatro Pôr do Sol | Foto: Pedro Piegas

Apesar da mudança, público elogia line-up e estrutura do festival

Ainda que o line-up tenha alterado por conta das mudanças decorrentes da enchente, o público decidiu vir ao festival e apreciar a diversidade musical. É o caso de Clara Biccoli, de 32 anos, que trouxe sua mãe, Gisele Garnier, de 61, pela segunda vez ao festival.

Clara reconhece que o que a trouxe ao festival é, principalmente, a diversidade musical. Inicialmente interessadas no Djavan, nem a mudança do line-up impediu a dupla de curtir os outros artistas, como o Armandinho, a banda Fresno e a Alcione. A gente já ia vir ano passado, e por conta da enchente não deu. Já tínhamos comprado [ingresso], e a gente falou: ‘vamos continuar com a ideia mesmo que mude o line-up’, porque o ambiente é muito bom, a diversidade musical é ótima. Porto Alegre carece de tanta coisa boa, e a gente merece prestigiar mesmo assim”, diz.

A mãe também marcou presença na primeira edição, em 2023, com o ingresso que ganhou de presente da filha. "Sempre gostei muito de música e sou muito ecléctica, gosto de tudo. Festival era uma coisa que tinha um pouco de receio de ir. Mas depois que vim no primeiro, vi que não é um bicho, não tem nada de fator de idade ou alguma coisa que a gente se sinta meio fora da tribo, entende? O lugar me ganhou, achei tudo maravilhoso", comenta Gisele.

A psicóloga Isadora Lisboa, de 30 anos, veio de Rio Grande para prestigiar Alcione, Mano Brown e Ney Matogrosso. “Já conhecia Porto Alegre e passava por aqui antes de fazerem essa atualização do espaço. Me chama muito a atenção o lugar, que é muito bonito. Hoje infelizmente está nublado, mas tem um pôr-do-sol incrível”, reconhece.

Junto dela, a oceanóloga Lauren Cruz, de 24 anos, já foi em alguns festivais pelo Brasil e opina que a estrutura e a vibe do Turá é “diferenciada”. “É um festival que juntou muitas pessoas que eu gostava, então valeu a pena vir”, declara. Ela espera a última atração do último dia do festival: Ney. “É o principal para mim, porque já gostava antes, e depois do filme [‘Homem com H’] também, acho que deu uma animação a mais. E Alcione também, não tem como”, ri.

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Festival segue neste domingo

O segundo dia de festival, neste domingo, promete mais atrações diversas, como Dingo, Cachorro Grande, Nando Reis, Silva e Mano Brown. O encerramento se dá com Ney Matogrosso e a sua apresentação da turnê “Bloco na Rua”.

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