Menopausa: fim ou começo?

Menopausa: fim ou começo?

Adriana Haas enfatiza a importância de ampliar o olhar sobre o amadurecimento feminino

Adriana Haas
Há um mundo de oportunidades disponíveis quando paramos de tentar brigar com o tempo

Há um mundo de oportunidades disponíveis quando paramos de tentar brigar com o tempo

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Foi mais ou menos aos 40 anos que Laurie entrou no climatério. Só que, 13 anos atrás, o assunto era tabu e ela não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Sua vida virou uma montanha-russa emocional que culminou em um divórcio cheio de traumas, no afastamento de pessoas importantes e em questionamentos sobre uma vida profissional que parecia perfeita. Laurie conta que enfrentou alguns dos sinais físicos mais associados a essa fase, como os calores, a insônia e a queda na libido. “Mas era muito mais do que isso”, garante.

Embora a menopausa tenha virado trend nos últimos anos, quase tudo o que se ouve dá a impressão de que as mudanças acontecem só no corpo. É apenas sobre ele que se fala. Ou, no máximo, sobre a irritabilidade e as alterações de humor que seriam consequência do “desastre físico" que nos assola nessa etapa. Mas e se a Laurie estiver certa e for muito mais do que isso?

Quando a conheci, em outubro do ano passado, participávamos de um workshop na Modern Elder Academy (MEA), uma espécie de “escola de envelhecimento” que fica na desértica Santa Fe, nos Estados Unidos. Entre os 50 participantes, apenas três eram homens – e eu, aos 47, era uma das mais jovens.

A imensa maioria daquelas mulheres sentia no corpo os sinais da menopausa, mas estavam lá porque sabiam que era mais do que isso. Elas sentiam que o climatério lhes chegava como um convite da vida para começar uma nova dança.

Laurie, minha colega de quarto, aceitou o convite. Se preparava para deixar uma sólida carreira em recursos humanos e começar um trabalho de cuidado de pacientes paliativos. Estava em um ótimo relacionamento e conta que tudo o que aconteceu acabou sendo para melhor, mas poderia ter sido mais suave se ela soubesse mais sobre a menopausa.

Mas será que, com todas as informações que temos hoje, estamos nos preparando de verdade para o climatério? Aliás, talvez seja importante esclarecer: o climatério inclui a perimenopausa, que começa por volta dos 40, a menopausa (dia em que a mulher completa 12 meses sem menstruar) e a pós-menopausa: ou seja, o resto de nossas vidas. Reduzir tudo isso a sintomas físicos é apequenar as possibilidades que temos para viver em uma das fases com maior potencial de liberdade e criatividade.

É claro que há perdas – ainda mais se considerarmos que o que fica para trás é a tão cultuada juventude. Mas se não nos fixarmos nelas, podemos nos libertar de muitos dos “tenho que” que carregamos ao longo da vida para descobrir novas experiências que podem estar bem debaixo dos nossos narizes, prontas para serem vividas (sem que seja preciso dançar no deserto).

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Ampliar nosso olhar sobre o amadurecimento feminino é vital para que não enxerguemos nosso futuro como “ladeira abaixo”. Há um mundo de oportunidades disponíveis quando paramos de tentar brigar com o tempo e assumimos que a mudança também acontece da pele para dentro. E pode ser excepcional.


Adriana Haas é jornalista, escritora e tradutora da maturidade. Tem dois livros e uma newsletter semanal sobre o assunto, e adora reunir mulheres para conversar sobre ele – porque acredita que, juntas, as maduras são revolucionárias.


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