Elisa Fernandez

A chatice de lidar com pessoas difíceis

Elisa Fernandez reflete sobre por que ninguém mais tem paciência para gente difícil

Foi-se o tempo de normalizar a presença constante de pessoas difíceis no trabalho, na família ou nas relações afetivas
Foi-se o tempo de normalizar a presença constante de pessoas difíceis no trabalho, na família ou nas relações afetivas Foto : Freepik

Cara leitora,

Acho que ando meio intolerante, ou simplesmente sem paciência, mas existe algo mais chato do que lidar com pessoas difíceis? Ando refletindo muito sobre isso, sobre aquelas frases que muitos de nós crescemos ouvindo: “ah, fulano(a) é difícil, tem que saber lidar com ele(a)” ou “fulano(a) é complicado(a)”, e por aí vai. Preguiça, viu? Para mim, é inadmissível que ainda hoje tenhamos que lidar com isso.

E, pensando no assunto, me veio em mente a analogia entre as pessoas difíceis e o lençol com elástico. Você já ouviu a frase: “fulano(a) é mais difícil que dobrar lençol com elástico”? Eu adoro. Dobrar um lençol com elástico é um desafio universal: a gente estica, ajeita, torce e, no fim, sobra sempre uma ponta que se recusa a colaborar.

Pois é: algumas pessoas são exatamente assim. Mais difíceis de lidar que aquele lençol rebelde recém-saído do varal. E se for passar o infeliz, então?

A diferença é que, enquanto com o lençol a gente pode simplesmente enfiar no armário e fingir que está tudo bem, com pessoas complicadas não dá para fazer isso. Durante muito tempo fomos treinados a pisar em ovos com pessoas difíceis. Engolíamos comportamentos tóxicos, egos inflados e manias sem fim como se fossem parte obrigatória do convívio.

Mas o mundo mudou. Hoje, com a vida acelerada, saúde mental em alerta e pouco espaço para dramas desnecessários, já não faz sentido gastar energia com quem insiste em ser um manual de instruções ilegível. Não acha?

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Lembrei de um filme incrível, Melhor é Impossível (1997), com a maravilhosa interpretação de Jack Nicholson, um retrato icônico das pessoas difíceis. Ele interpreta Melvin Udall, um vizinho rabugento, cheio de manias e preconceitos, insuportável em cada gesto, mas ao mesmo tempo fascinante. O filme nos lembra que até os mais complicados escondem fragilidades, mas isso não significa que, na vida real, devamos nos sacrificar para suportá-los.

Porque se na ficção cabem finais redentores e frases como “você me faz querer ser uma pessoa melhor”, na vida prática a regra é outra: ninguém precisa aguentar um Melvin só porque “ele é assim”. Reconhecer fragilidades é bonito, mas reconhecer limites é vital. Afinal, já não temos tempo de desperdiçar energia tentando “dobrar” pessoas que insistem em permanecer tortas.

A verdade é simples: você é difícil? Problema é seu. Se vire, se trabalhe, se olhe no espelho. Já passou da hora de deixar claro: ninguém mais tem obrigação de traduzir humores indecifráveis, tolerar narcisismos ou dobrar gente torta só para caber na gaveta da boa convivência.

Conviver deveria ser mais sobre somar do que sobre suportar. Foi-se o tempo de normalizar a presença constante de pessoas difíceis no trabalho, na família ou nas relações afetivas. É hora de reconhecer que leveza também é escolha, e que cada um é responsável pela forma como se apresenta ao mundo. Pense nisso!


Elisa Fernandez é mãe, empresária e acumula experiências como executiva em entidades empresariais e nas áreas de comunicação, gestão, marketing e publicidade.