Cara leitora,
Domingo à noite tem um sabor agridoce.
Aquela sensação de melancolia que se instala antes do início da semana, quase um ritual coletivo. O que o domingo à noite desperta em você? Ansiedade, nostalgia ou apenas uma pausa silenciosa antes do recomeço?
Foi numa dessas noites de domingo que percebi estar assistindo TV sem saber o que assistia. Até que uma cena me fisgou: um criminoso com um refém, e do outro lado, o negociador. O esperado seria ver argumentos lógicos, tentativas de convencimento, promessas de redenção. Mas não. O negociador fazia o contrário. Parecia concordar, entender, quase apoiar o criminoso.
E foi assim, nesse movimento inesperado, que o homem se rendeu.
No final da cena, o negociador explicou que usara a técnica da persuasão paradoxal. E pronto, lá estava eu, num domingo qualquer, mergulhada em reflexões sobre a mente humana e nossas formas tortas de decisão.
A persuasão paradoxal é justamente isso: convencer sem convencer. Em vez de empurrar uma ideia, você cria o contexto para que o outro se convença sozinho. É quando a resistência se torna o próprio caminho da aceitação.
O paradoxo está aí: quanto mais tentamos controlar alguém, mais resistência geramos. Mas quando abrimos espaço e deixamos a pessoa sentir que está decidindo por conta própria, a mente se rende.
Afinal, todos nós queremos ter o controle, mesmo que, muitas vezes, ele seja apenas uma ilusão.
Essa técnica, conhecida como persuasão paradoxal, é usada em negociações, terapias, relacionamentos e até em liderança. E, se pensarmos bem, usamos versões intuitivas dela o tempo todo. Quando queremos que alguém mude de atitude, mas sabemos que, se pedirmos diretamente, a resposta será “não”. Então, mostramos outro caminho, plantamos uma dúvida, deixamos a ideia amadurecer até que ela floresça como se fosse do outro.
É o “convencer pelo contrário”, um jogo sutil entre liberdade e influência.
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Mas o que mais me fascina é que a persuasão paradoxal espelha algo profundo em nós: a eterna contradição humana.
Sabemos o que é melhor, mas insistimos em repetir os mesmos erros.
Queremos mudar, mas nos agarramos ao conforto do conhecido, mesmo que ele nos doa.
E não é falta de razão. É hábito, medo, inércia emocional. É aquela velha crença de que “dessa vez vai ser diferente”, mesmo quando tudo indica o contrário.
O paradoxo é cruel e bonito ao mesmo tempo: resistimos à mudança, mas é justamente essa resistência que, em algum momento, nos empurra para ela.
A vida está cheia de exemplos assim. Nos convencemos de que estamos no controle, quando na verdade estamos sendo guiados por padrões invisíveis, por hábitos antigos, por vozes internas que repetem roteiros de sempre.
Talvez o segredo esteja em perceber o que nos move e o que nos prende. Talvez possamos usar a persuasão paradoxal em nós mesmos: acolher nossas resistências, compreendê-las e, a partir delas, criar espaço para a mudança.
Convencer o outro é arte, mas convencer a si mesmo é evolução.
E talvez seja isso que a tal melancolia dos domingos venha nos lembrar: que toda semana traz uma nova chance de negociação, entre o que fomos e o que queremos ser.
Elisa Fernandez é mãe, empresária e acumula experiências como executiva em entidades empresariais e nas áreas de comunicação, gestão, marketing e publicidade.