De tempos em tempos, o assunto volta à tona: “Se é influenciador de moda, por que precisa de um stylist?” A pergunta parece simples, mas revela uma confusão recorrente sobre o papel de quem fala de moda e o que significa trabalhar com imagem de forma profissional.
Primeiro, é preciso lembrar: influenciador de moda é, antes de tudo, um consumidor de moda. É alguém que compartilha suas escolhas, preferências e vivências pessoais dentro desse universo. E tudo bem — a influência nasce da identificação. Mas quando esse conteúdo evolui para discussões mais técnicas, referências históricas, tendências e comportamento, entra em cena algo maior: o embasamento.
Falar de moda com propriedade exige estudo, repertório e, muitas vezes, formação. Moda é cultura, economia, sociologia e comunicação visual — não apenas uma vitrine de consumo. Por isso, é fundamental diferenciar o papel do influenciador que comunica estilo de vida daquele que trabalha a moda como linguagem, com olhar crítico e fundamentado.
Nesse contexto, o stylist é um aliado valioso. Ele não serve para “inventar” um estilo, mas para potencializar o que já existe, trazendo técnica, coerência estética e visão de conjunto. O stylist entende de proporções, tecidos, imagem e narrativa. Ele traduz a essência de quem veste em composições que comunicam intenção — algo que vai muito além de “combinar roupas”.
Ter um stylist não anula a autenticidade de um influenciador, assim como um editor não apaga a voz de um escritor. Pelo contrário: é um sinal de maturidade, de quem entende que crescer profissionalmente é cercar-se de outros profissionais qualificados.
- O retorno do borogodó: identidade e desejo voltam às passarelas de Paris
- Não é sobre o que você usa, mas como você usa: uma reflexão sobre estilo pessoal e identidade
- A importância das Semanas de Moda internacionais
Na moda, como em qualquer área criativa, ninguém constrói uma trajetória sólida sozinho. Evoluir é aprender a dividir funções, a reconhecer saberes e a valorizar o olhar do outro.
É hora de naturalizar essa rede de colaborações — porque a verdadeira credibilidade nasce da soma entre expressão pessoal e conhecimento técnico.
No fim, o que sustenta a influência não é apenas o gosto, mas o conteúdo. E o que sustenta o estilo não é apenas a roupa, mas a consciência de quem a veste.
Marina Käfer é formada em Design de Moda e pós-graduada em Comportamento do Consumidor e Moda, Mídia e Mercado. Já foi professora consultora de varejo em instituições como Senac e Sebrae. Tem especializações em styling, jornalismo de moda e visagismo, com experiência no mercado plus size.