Soja toma área até da cultuada melancia no RS

Soja toma área até da cultuada melancia no RS

Estado, que já foi o maior produtor da fruta no Brasil e que em 2011 chegou a ter 18 mil hectares plantados, cultivou em 2021 menos de 11 mil hectares

Por
Lucas Keske*

O Rio Grande do Sul já foi o maior produtor nacional de melancia, fruta conhecida pela grande quantidade de água e vitaminas que contém e, por isso, muito consumida no verão para refrescar as altas temperaturas. Mas, nos últimos anos, o produtor e o consumidor viram essa produção diminuir, afetada pelo clima e a rentabilidade dessa e de outras produções. De acordo com o levantamento de Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o agora detentor da maior produção nacional é o estado do Rio Grande do Norte, com mais de 15 mil hectares plantados em 2021. O Rio Grande do Sul já teve produções maiores que a do homônimo do norte, com quase 18 mil hectares plantados em 2011 e cerca de 16 mil em 2016, mas, em 2021, a área plantada em solo gaúcho não chegou a 11 mil hectares. 

Os números que evidenciam a diminuição da produção da melancia podem ser explicados pelo crescimento exponencial da principal cultura de grãos do Estado, a soja. Em 2011, o Estado contava com pouco mais de 4 milhões de hectares de soja, número que cresceu para mais de 5 milhões de hectares em 2016 e que, em 2021, ultrapassou os 6 milhões. Ou seja, nos mesmos 10 anos em que a área de melancia diminuiu 38,96%, a de soja subiu 49,86%. Em muitos casos, os produtores de melancia optaram por arrendar suas terras para a produção da oleaginosa. 

Contudo, essa redução de área plantada pode ser identificada em diversas outras culturas, ou seja, a melancia não foi a única a perder espaço quando produtores buscaram maior rentabilidade com o plantio de soja. Nesse mesmo entendimento, o extensionista rural agropecuário da Emater/RS-Ascar, Luís Bohn, destaca a recente estiagem como outra razão para a redução da produção da fruta. “Essa estiagem fez com que o produtor tirasse o pé da produção de melancia”, afirma.

Luís ressalta que, de acordo com os indicativos que a Emater observa, é possível que haja uma valorização do preço final pago pelo consumidor. Isso porque, ainda segundo ele, é muito provável que ocorra uma nova quebra de safra aqui no Rio Grande do Sul. Dessa forma, mesmo que a quantidade de frutas produzida seja menor, estas devem apresentar boa qualidade, o que pode ajudar a aumentar o preço. Mas ainda segundo ele, os preços neste verão vão depender muito da demanda de estados centrais do Brasil, como São Paulo e Goiás, já que a concorrência com a produção destes estados é influente nos preços finais. No Informativo Conjuntural da Emater da última semana, o preço pago ao produtor pelo quilo da fruta no Estado ficou em R$ 2,50, mas nos supermercados, dependendo da variedade, pode chegar a R$ 6,00 o quilo pago pelo consumidor.

Por fim, Luís cita que algumas iniciativas ainda tentam manter a tradição da melancia no Estado. Segundo ele, cerca de 15% da produção na região de Porto Alegre já ocorre com auxílio de irrigação e que existem tratativas para aumentá-la. Além disso, destaca a variedade Pingo Doce, produção que funciona em um sistema semelhante ao “integrado”– comum à produção de carne de frango – em que rígidos protocolos de padronização e qualidade entregam uma melancia “fashion”, como chama a própria marca. Esse produto costuma ter maior valor agregado e pode dar previsibilidade e rentabilidade ao produtor. A melancia Pingo Doce tem poucas sementes e polpa mais consistente que a melancia comum, tendo inclusive um tempo de conservação maior.

Nas regiões produtoras do Estado existem diferentes estágios de colheita da melancia. Os municípios dos Vales do Caí e do Taquari são os com maior produção e área consolidada neste ano de 418 hectares. A produtividade média deve ser menor este ano devido ao tempo frio ocorrido no final do inverno e no início da primavera.

O produtor da cidade de Triunfo, Tiago Martins, afirma que essa safra foi a pior dos últimos anos pois, em sua produção, a quebra chegou a 50%. Segundo ele, no ano passado houve uma perda menor que chegou a 30%, ou seja, ocorreu uma grande quebra depois de sucessivos anos de produção difícil. “Foi bem pior que o ano passado, principalmente por causa da seca”, afirma. 

Thiago, que plantou 45 hectares de melancia nesta safra, pretende reduzir pela metade a área dedicada à fruta para a próxima colheita, buscando reduzir o prejuízo. No seu caso, deve consorciar a outra metade de suas terras com o plantio de eucaliptos ou acácia-negra.

*Sob supervisão de Nereida Vergara

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895