Super Toscanos: a liberdade que refinou o vinho italiano
Dos clássicos consagrados aos novos expoentes, uma degustação em Porto Alegre celebra a ousadia e a excelência da Toscana
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Os chamados Super Toscanos nasceram como uma revolução silenciosa na Itália. Produtores ousados da região da Toscana — entre Florença, Siena, Bolgheri e Montalcino — desafiaram as regras rígidas das denominações DOC e DOCG a partir da década de 1970.
Em vez de seguir normas engessadas, buscaram liberdade criativa, mesclando uvas francesas como Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah à tradicional Sangiovese. O resultado? Vinhos de personalidade marcante, estrutura robusta, elegância aromática e grande capacidade de guarda.
O termo "Super Toscano", embora não oficial, passou a representar essa elite vinícola que une inovação, terroir e excelência — muitas vezes superando os grandes Bordeaux em prestígio e preço.
Em abril, um grupo seleto de apreciadores se reuniu na Casa Vivá, em Porto Alegre, para uma degustação memorável dedicada aos ícones dessa linhagem. Foram abertos rótulos de tirar o fôlego, como Tignanello, Ornellaia, Luce, Piastraia Michele Satta, Testamatta e o raro Stella di Campalto. Cada taça revelou camadas de história, terroir e vanguarda — provando que os Super Toscanos, mais do que um estilo, são uma filosofia.
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Entre os clássicos degustados, destacaram-se rótulos emblemáticos como o Tignanello, primeiro vinho da Toscana a unir Sangiovese com uvas internacionais — um marco da vinícola Antinori e símbolo da revolução dos Super Toscanos.
O Ornellaia, elaborado em Bolgheri, trouxe sua habitual sofisticação e profundidade, com um corte elegante dominado por Cabernet Sauvignon. Já o Luce, fruto da parceria entre as famílias Frescobaldi e Mondavi, impressionou pelo equilíbrio entre Merlot e Sangiovese, resultando em um vinho de textura aveludada e personalidade contemporânea.
O Testamatta, projeto autoral de Bibi Graetz, destacou-se no painel às cegas com sua expressão pura da Sangiovese, vibrante e artística, fiel ao terroir da costa toscana. Embora não tenham sido degustados no evento, Solaia e Sassicaia completam o panteão dos clássicos, sendo referências incontornáveis em qualquer discussão sobre a elite do vinho italiano.
Mas é entre os novos expoentes que se percebe uma transformação mais sensível. A vinícola Stella di Campalto, conduzida por Stella em Montalcino, trabalha com cultivo biodinâmico e mínima intervenção, gerando vinhos puros, vibrantes e profundos. Seu Brunello — mesmo não sendo tecnicamente um Super Toscano — representa esse espírito livre e visionário que define o movimento.
Outro nome em ascensão é Michele Satta, produtor da costa toscana, em Bolgheri. Seu vinho Piastraia, corte de Syrah, Merlot, Cabernet e Sangiovese, une precisão moderna com uma alma mediterrânea. Satta, que já participou do time da Ornellaia, traz à sua vinícola a expertise adquirida junto aos grandes — porém com um toque autoral, intuitivo e voltado à expressão máxima do terroir.
A degustação na Casa Vivá foi mais do que uma jornada sensorial: foi um tributo à coragem dos produtores que redefiniram a Toscana. Clássicos e contemporâneos reunidos mostraram que os Super Toscanos seguem em constante evolução — e que seu futuro está em mãos tão talentosas quanto as que criaram seu passado.
🍷Provei e amei
Cinco rótulos para entender por que os Super Toscanos seguem ditando tendência.
1️⃣Stella di Campalto Choltempo Fiorello Toscana IGT
Vinho tinto biodinâmico de produção limitada, elaborado com Sangiovese de diferentes safras (2012, 2013, 2014 e 2016). Fermentado com leveduras indígenas e sem aditivos, amadurece por até 47 meses em carvalho neutro e descansa por quase dois anos em garrafa. Aromas delicados de frutas vermelhas, flores e especiarias. Paladar fresco, elegante e mineral. Uma tradução autêntica do terroir toscano.
2️⃣Testamatta 2019 – Bibi Graetz
Celebrando os 20 anos do rótulo, é uma expressão refinada da Sangiovese toscana, com vinhas antigas em solos pedregosos. Notas de cereja preta, framboesa, damasco e especiarias, taninos aveludados e mineralidade marcante. Complexo, elegante e envolvente.
3️⃣Tignanello 2021 – Marchesi Antinori
Ícone dos Super Toscanos, combina 79% Sangiovese, 13% Cabernet Sauvignon e 8% Cabernet Franc. Aromas de ameixas, amoras, casca de laranja cristalizada, chocolate amargo e tabaco doce. Rico e sofisticado, com taninos vibrantes e acidez intensa. Safra premiada com 98 pontos da Vinous.
4️⃣Luce 2021 – Tenuta Luce
Equilíbrio entre Merlot (50%) e Sangiovese (50%). Cor rubi intensa, aromas de frutas negras, violetas e especiarias doces. Taninos sedosos e final persistente. A safra foi marcada por clima extremo e uvas de altíssima qualidade. 96 pontos de James Suckling.
5️⃣Ornellaia 2021 – Tenuta dell'Ornellaia
De Bolgheri, reúne 53% Cabernet Sauvignon, 25% Merlot, 15% Cabernet Franc e 7% Petit Verdot. Aromas de cassis, violetas, ervas mediterrâneas e grafite. Taninos firmes, acidez vibrante e toque mineral. Considerado um dos melhores Ornellaias para guarda dos últimos anos. 100 pontos de Ian D’Agata.