Chuva provoca destruição em sete cidades no Litoral Norte do RS e deixa uma vítima fatal

Chuva provoca destruição em sete cidades no Litoral Norte do RS e deixa uma vítima fatal

Mais de 15 pessoas precisaram ser resgatadas pelos bombeiros nos trabalhos desta terça-feira

Felipe Faleiro

Mais de 15 pessoas precisaram ser resgatadas pelos bombeiros nos trabalhos desta terça-feira

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Uma pessoa morreu e ao menos 15 foram resgatadas depois da forte chuva que atingiu a região do Litoral Norte entre a tarde e a noite de segunda-feira. Nesta terça, as precipitações foram menores, e foi dia de reconstrução. Segundo o governo do Estado, sete municípios foram os mais atingidos pelas precipitações: Maquiné, Três Forquilhas, Três Cachoeiras, Itati, Terra de Areia, Dom Pedro de Alcântara e Morrinhos do Sul. O governador Eduardo Leite esteve reunido na terça pela manhã no Palácio Piratini, em Porto Alegre, com o vice, Gabriel Souza, e o secretário-chefe da Casa Militar e coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, coronel Luciano Boeira, para avaliar os estragos. 

No início da tarde, Gabriel e Boeira sobrevoaram de helicóptero a região e mais tarde estiveram com os municípios em reunião na Prefeitura Municipal de Três Forquilhas, onde permaneceram por cerca de 30 minutos. "Estamos aqui em solidariedade a estas famílias de gaúchos e gaúchas que infelizmente tiveram este grave acontecimento, esta tragédia, que inclusive vitimou uma pessoa", disse o vice-governador. No Twitter, Leite também lamentou a morte. As cidades decretaram situação de emergência.

A vítima fatal do temporal foi identificada como Maria de Fátima Hertzog Pereira, de 55 anos. Ela se dirigia sozinha rumo a sua residência, em Três Forquilhas, conduzindo um automóvel Audi A3, quando tentou atravessar o rio Depósito pela rua Felipe Pedro Justin, ainda em Terra de Areia. O carro de Maria de Fátima foi arrastado pela força da correnteza e tombou em um banhado, por onde ainda foi levado por alguns metros. Os parentes relataram seu desaparecimento às 18h de segunda-feira, e o corpo foi localizado às 6h20 de terça, cerca de um quilômetro de onde ela morava.

Também em Três Forquilhas, onde choveu 134 milímetros em 24 horas até 21h de segunda-feira, o dia de precipitação mais intensa, além de 162 milímetros em 96 horas, de acordo com a MetSul Meteorologia, o rio Três Forquilhas subiu de seis a sete metros. Pontos do asfalto da ERS-417 cederam. Crateras foram criadas em meio aos pedregulhos. As localidades de Boa União, Morro Quente e Barreiro, no interior, além da sede municipal, foram as mais atingidas. Em Boa União, barrancos cederam e, em alguns pontos, a travessia pela rodovia ficou restrita a veículos leves. Árvores também foram arrancadas pela raiz. 

Lavouras de milho, aipim e batata-doce foram as mais afetadas. "Foi uma loucura", resumiu o secretário de Turismo, Flávio Lippert de Andrade. Segundo a Defesa Civil estadual, 100 pessoas ficaram desalojadas no município. Arames que impediam a saída do gado de propriedades rurais cederam, e animais fugiram. Uma ponte pênsil que separa Três Forquilhas do Centro de Itati sobre o rio virou, impedindo o cruzamento de pedestres.

Embora construída há mais de 50 anos, pelo menos, ela havia sido recentemente reformada. Próximo da estrutura, vive o casal de aposentados Oswaldo Germana da Rosa e Nelga Henge da Rosa. "Ouvimos um barulho muito forte. A água subiu bastante, mas que bom que ela não chegou a entrar na nossa casa", relatou Nelga. Conforme Lippert, a queda parcial da ponte amplia a travessia entre os municípios em cerca de seis quilômetros.

Maquiné

Já em Maquiné, que registrou o maior volume do Litoral Norte em 24 horas até a noite de segunda, com 147 milímetros, bem como 256 milímetros em 96 horas, segundo a MetSul, os maiores prejuízos aconteceram no interior do distrito de Barra do Ouro, onde, de acordo com o secretário Municipal de Desenvolvimento, Luciano de Almeida Alves, cinco comunidades ficaram isoladas e quatro pontes foram danificadas. Entre elas, uma ponte pênsil, caminho mais curto a uma pousada local, e outra passagem para veículos, ambas sobre o rio Forqueta, que estava com o nível cerca de quatro metros acima do normal pela manhã.

“Esta é a única ligação às cascatas Encantada, do Garapiá e Forqueta. Agora é preciso aguardar a água baixar”, afirmou o subprefeito de Barra do Ouro, Cesar Trevizan. “Houve perdas muito grandes nas hortaliças e na cultura do milho, o qual está no período de colheita para a silagem. Há locais em que nem conseguimos chegar ainda para contabilizar os estragos”, disse Alves. O único caminho entre a sede e o distrito é a ERS-484, via estadual com más condições de tráfego, mas que está em vias de asfaltamento.

Moradores vizinhos à estrada também trabalhavam no escoamento da água. No pátio da aposentada Luiza Fagundes, na localidade de Linha Fagundes, a chuva movimentou as plantas aquáticas por cerca de dez metros. “A água subiu uns três metros em meia hora”, disse ela. No município de Itati, que teve 137 milímetros de chuva em 24 horas até 21h de segunda e 180 milímetros em 96 horas, 60 pessoas ficaram desabrigadas, afirmou a Defesa Civil.

Casa de madeira despenca

Uma casa de madeira despencou e ficou dependurada em um barranco na Estrada Geral Bananeiras, localidade de Bananeiras, próximo ao rio Bananeiras. Nela, moram o carpinteiro Mário Lemes dos Santos, a esposa Débora Selistra da Silva, dona de casa, e os dois filhos, Mário Júnior, 15, e Amanda, 9. Todos estavam em casa quando houve a ocorrência, por volta das 18h de segunda. "Estava no trabalho, e minha esposa me ligou por volta das 13h, dizendo que estavam rolando pedras. Me preocupei e vim para casa. Estávamos tomando chimarrão na área, na parte de baixo. Ouvi um barulho na garagem, na parte de cima. Fui ver e logo depois chamei todos para sair para a rua", relatou Santos.

Segundo ele, a família está recebendo muitos apoios, tanto da Prefeitura, quanto de amigos, parentes, comunidade e até do colégio onde estudam os filhos. "O material conseguimos recuperar. Ao menos nenhuma vida foi ceifada", disse ele. Nesta terça, a casa era sustentada por dois troncos de madeira junto ao barranco e um cabo de aço na parte de cima, instalada por Mário e outros moradores. Também em Bananeiras, parte de outro morro desmoronou.

Houve também prejuízos nas localidades de Arroio Carvalho, Rio do Pinto, Serra Velha e Arroio do Padre, afetando de 50 a 60 famílias, estimou o secretário Municipal de Obras e Meio Ambiente, Cléver de Quadros. "Acredito que em 24 horas todas as comunidades terão acesso liberado, mesmo que precário", avaliou pela manhã o prefeito Flori Werb, em tom de otimismo. Em Dom Pedro de Alcântara, um decreto de segunda-feira do prefeito Alexandre Model Evaldt suspendeu as aulas na tarde do mesmo dia, e o transporte escolar na tarde e noite de segunda, além do turno integral. Em Morrinhos do Sul, a Prefeitura relatou danos a plantações de arroz.

O Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS) atuou nos resgates aos moradores. Segundo o major Vinicius Leal, subcomandante do 9º Batalhão de Bombeiro Militar (9º BBM), responsável pelo Litoral Norte, a maioria dos moradores retirados das residências pela corporação foi na área rural dos municípios. "Seguimos atentos à previsão do tempo e estamos sempre prontos para auxiliar. Aos moradores, é preciso evitar construir casas em locais baixos, próximos a rios, para que situações como esta não aconteçam", comentou ele.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895