Cidade devastada de Roca Sales enfrenta o drama e caos após enxurrada

Cidade devastada de Roca Sales enfrenta o drama e caos após enxurrada

Centenas de voluntários e socorristas estão mobilizados no município, que segue sem energia elétrica, internet e abastecimento de água potável

Camila Pessoa

Acesso à cidade ficou destruído pela força das águas

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A destruição generalizada e falta de comunicação, sem energia ou internet, levam ao caos a cidade Roca Sales, no Vale do Taquari, onde as equipes de resgate - seja em carros, barcos ou helicópteros - vão tateando no escuro do lamaçal ao longo desta quarta-feira.

A água levou os pertences dos moradores até a copa das árvores. E muitas delas também tiveram troncos levados ao chão, onde a lama chega aos joelhos. A situação se repete em agências bancárias e até na própria prefeitura: tudo destruído e vazio, pilhas de madeira encharcada, e o que antes poderia ser chamado de móveis, na rua. As marcas nas paredes mostram que a água chegou perto do teto das casas - e até além - e o som das hélices passando a todo momento evidenciam a corrida para salvar os atingidos.

Além dos seis corpos já resgatados da cidade, e outros dois confirmados no final da manhã, dezenas de pessoas foram levadas para atendimento hospitalar em cidades vizinhas e mais de 200 famílias já encontram-se nos três abrigos da cidade, de acordo com a assistente social do município Gaziela Gheno. Na última enchente, cerca de 600 edificações foram atingidas em Roca Sales, mas desta vez Graziela estima que vão ser muito mais, e vão chegar mais pessoas aos abrigos.

Dentro do ginásio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) onde estão abrigadas oito famílias, um voluntário com roupas camufladas recebia atendimento médico. Ele foi mordido por um cachorro ao resgatá-lo do telhado de uma casa. Hoje trabalhador da construção civil em Roca Sales, Jader Marcelo Vieira, de 27 anos, já atuou no Exército. “Como eu tenho treinamento militar é meu dever ajudar”, afirmou.

Foto: Maria Eduarda Fortes

Vieira está integrando a equipe do corpo de bombeiros. Ele chegou a guiar helicópteros e a trabalhar na remoção de corpos e resgate de vítimas. Para ele, a mordida do cachorro não significou nada: “é natural o bicho estar assustado”, justifica. O que de fato o impactou - e que ele vai levar para toda a vida - foi o resgate de um senhor com alzheimer, imóvel em sua cama ao lado do cachorro, enquanto a casa enchia de água. “Todos diziam que ele já estava morto”, conta. O idoso estava debaixo d’água quando Vieira conseguiu, a nado, salvá-lo com vida.

Toda a cidade está como o ex-militar. Em meio ao caos, salvando o que conseguem e ajudando como podem. A polícia é instruída a manter a ordem no local, mas a organização é difícil, já que não há possibilidade de comunicação.

“Os moradores estão se mobilizando. Quem tem caminhão, quem tem trator, quem consegue trazer água de outras cidades. Tudo sem muita organização porque não tem contato, você não consegue falar com ninguém e não funciona telefone nem nada, não tem antena”, descreve Noé Schaffer, secretário da Agricultura do município. 

O Cras do município também foi inundado, mas já está abrigando pessoas e recebendo doações para suprir necessidades básicas, de saúde e alimentação das pessoas. “Agora estamos priorizando o acolhimento e a validação do sentimento de perda”, afirma a assistente social Graziela.


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