Falta de luz no RS gera apreensão em quem depende de equipamentos vitais

Falta de luz no RS gera apreensão em quem depende de equipamentos vitais

Sem energia desde terça-feira, muitas famílias passam por transtornos para manter respiradores funcionando

Felipe Nabinger

Moradora do bairro Tristeza, em Porto Alegre, Silvia Maria Pacheco Hervella, 61, depende de equipamentos por conta da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

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A falta de energia elétrica desde o vendaval da última terça-feira vem causando prejuízos e levando aflição a quem conta com familiares usuários de equipamentos vitais à preservação da vida. Moradora do bairro Tristeza, em Porto Alegre, Silvia Maria Pacheco Hervella, 61, depende de equipamentos por conta da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), desde abril de 2022. Sem luz há mais de 68 horas, a família conta com no breaks, que atuam como bateria auxiliar, trocados periodicamente por uma empresa especializada, para manter o respirador e o aspirador de secreções, além de cilindros que substituem o concentrador de oxigênio.

“Tentamos contato desde o primeiro momento (com a CEEE Equatorial), mas o 0800 não funcionava. Falar com uma pessoa conseguimos somente ontem (quinta-feira)”, explica a filha de Silvia, Giovanna Hervella, 38, advogada.

Ela detalha que a transferência da mãe poderia trazer riscos. “Em um primeiro momento até cogitamos transportar até um hospital, porém na situação dela não seria indicado, pois teria que descer seis andares com todos os aparatos e isso seria muito prejudicial para o estado dela”, diz.

A lotação dos hospitais também foi um fator para mantê-la no apartamento, obtendo os cilindros que precisam ser recarregados, gerando um custo extra para a família. Com a energia normalizada, segundo Giovanna, o concentrador de oxigênio estaria operante, não sendo necessária a recarga.

Na tarde desta sexta-feira, equipes da CEEE Equatorial estavam na Rua Dr. Pereira Neto, onde fica o condomínio no qual está o apartamento da família, mas a luz ainda não havia retornado. Giovanna diz que a falta de energia, somada à ausência de um devido retorno pela concessionária vem gerando “um grande desgaste e transtorno”.

Moradora do bairro Tristeza, em Porto Alegre, Silvia Maria Pacheco Hervella, 61, depende de equipamentos por conta da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) | Foto: Maria Eduarda Fortes

Medo de ficar sem comunicação

Já em Cachoeirinha, na região Metropolitana, Priscila da Silva, 36, não teve como manter a filha Ana Júlia, 8, que precisa dos equipamentos para a respiração por conta da situação congênita da atrofia muscular espinhal, em casa. Sem luz desde terça-feira em sua residência na Vila Silveira Martins, Priscila diz que o no break resistiu cerca de 24 horas, mas que na quarta-feira, por volta das 20h, levou Ana Júlia para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município.

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“Preciso trazer todos os equipamentos e meu maior medo era ficar sem sinal de celular para contatar a equipe para trazê-la para a UPA”, afirma. Ela diz que aguardou o retorno da energia, acompanhando a projeção da empresa. Em Cachoeirinha, a concessão é da RGE. Segundo Priscila, a cada dia era dada uma nova projeção, que não se cumpria. Na tarde desta sexta-feira, familiares que residem com ela informaram ainda estarem sem o restabelecimento da energia.

Com dedicação exclusiva com os cuidados da filha, Priscila iniciou no final do ano passado a produção de doces sob encomenda em casa, mas com a falta de luz e a necessidade de ficar com Ana Júlia na UPA não pode dar andamento. Ela aguarda o retorno da energia para voltar com a filha para a casa, onde conta com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, o que não ocorre na UPA.

"Era muito difícil faltar energia onde moro. Desde 2020 começou a faltar por mais tempo”, diz. Ela lembra que, antes desse período sem luz, chegou a ficar sem energia por dois dias em 2021.

Os usuários que necessitam de equipamentos para manutenção da vida são amparados pela Resolução Aneel nº 1000/2021, que estabelece as regras para a distribuição de energia, e garante o cadastro de contratos onde estão pessoas que utilizam esses equipamentos ligados à energia elétrica. Nos dois casos, as famílias garantem ter o registro junto às concessionárias.


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