MP-RS divulga nota crítica à série "Todo dia a mesma noite", sobre a tragédia da Kiss

MP-RS divulga nota crítica à série "Todo dia a mesma noite", sobre a tragédia da Kiss

Procuradoria avalia que modo como foi feita a ficcionalização "explora a dor das famílias" e pode gerar "desinformação"

Correio do Povo

Tragédia completou dez anos neste mês

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O Ministério Público do Rio Grande do Sul divulgou nota, nesta terça-feira, em que se manifesta com críticas à série "Todo dia a mesma noite". A produção do Netflix conta de forma ficcionalizada a tragédia da boate Kiss, que deixou 242 mortos em 2013.

"A série explora, para o entretenimento, a dor de centenas de famílias, ainda enlutadas, que aguardam, em longa espera, a punição dos culpados", discorre o MP-RS, antes de acrescentar fato que julga ainda mais grave: "A produção do canal de streaming expõe uma versão para a opinião pública de um caso ainda em tramitação, que poderá ser objeto de novo júri popular", avalia.

Segundo o MP-RS, as perspectivas apresentadas pela série também podem ser prejudiciais. "Ao apresentar tanto personagens quanto o Sistema de Justiça, seus ritos e regramentos de forma caricaturada em muitos momentos, a obra contribui para a desinformação e para a criação de uma memória coletiva contaminada por versões e por fatos que não ocorreram como apresentados", afirma a nota oficial.

Conforme o MP-RS, a produção não contribui para o trabalho da Justiça. Segundo a nota, a instituição "vem travando uma longa e árdua batalha para garantir a pronúncia dos quatro réus – responsáveis diretamente pelos homicídios –, a posterior condenação, ocorrida em julgamento realizado em dezembro de 2021 e, atualmente, a reversão da anulação do júri por meio de recursos aos Tribunais Superiores".

"Vale lembrar que, desde o início, a instituição vem atuando não só para a condenação, mas para garantir a prisão dos culpados", pondera o MP-RS. "Além de presos preventivamente por aproximadamente três meses em 2013, foi a partir de recurso do MP-RS apresentado ao Supremo Tribunal Federal que os quatro réus voltaram para prisão em 2022 e lá ficaram por cerca de oito meses."


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