Ondas de calor estão relacionadas a um maior risco de morte no Brasil, diz estudo

Ondas de calor estão relacionadas a um maior risco de morte no Brasil, diz estudo

Região Metropolitana de Porto Alegre foi a quarta em que as ondas de calor representaram maior aumento de mortes em quase 20 anos

Correio do Povo

Durante o período em análise, 48.075 mortes podem ser atribuídas a ondas de calor, sendo as doenças circulatórias ou respiratórias e o câncer as causas de morte mais frequentes

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Em quase duas décadas, o ondas de calor associadas a doenças crônicas provocaram 48.075 mortes no Brasil. Um novo estudo do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da UFRJ, publicado nesta quarta-feira, 24, na revista científica de acesso livre Plos One, também sugere que as cada vez mais frequentes ondas de calor no Brasil estejam exacerbando desigualdades socioeconômicas. A pesquisa indica que grupos sociais como mulheres, idosos, pessoas pretas, pardas ou com menores níveis educacionais apresentam os maiores riscos.

À medida que as mudanças climáticas avançam, as ondas de calor estão se tornando mais longas, frequentes e com altas temperaturas em várias regiões ao redor do mundo. Esses eventos podem potencializar o risco de morte por doenças crônicas, como pneumonia ou problemas cardíacos. Poucas pesquisas, porém, exploraram o papel desempenhado pelos fatores socioeconômicos e demográficos nas mortes relacionadas ao calor no Brasil.

No estudo do Lasa, os pesquisadores analisaram as taxas de mortalidade durante as ondas de calor entre 2000 e 2018 nas 14 principais áreas urbanas, que representam mais de um terço da população nacional. Eles constataram que o Brasil experimentou de três a 11 ondas de calor por ano na década de 2010. Em contrapartida, nas quatro décadas anteriores, não havia ou chegava no máximo a três, os episódios de altas temperaturas.

“Esse resultado traz a importância de que, no contexto das mudanças climáticas, a gente fale sobre racismo ambiental e justiça ambiental”, diz Djacinto Monteiro, um dos pesquisadores do estudo e integrante do laboratório.

Durante o período em análise, 48.075 mortes podem ser atribuídas a ondas de calor, sendo as doenças circulatórias ou respiratórias e o câncer as causas de morte mais frequentes. Taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor variam entre regiões geográficas do Brasil, que os pesquisadores vincularam às conhecidas desigualdades Norte-Sul relativas a indicadores socioeconômicos e de saúde, incluindo a expectativa de vida. As taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor foram maiores entre pessoas do sexo feminino, idosas, negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos.

“Muitos estudos, inclusive estudos de atribuição do qual o nosso grupo tem participado, eles têm mostrado que o principal responsável por esse aumento que nós observamos é, de fato, a mudança climática induzida pela ação humana e que está associado principalmente com a queima de combustíveis fósseis para geração de energia, para o setor de transporte e também com as emissões do desmatamento”, completou o pesquisador.

A pesquisa ainda afirma que, embora o excesso de mortalidade estimado neste estudo (48.075) seja 20 vezes maior que o número de mortes associadas a deslizamentos de terra em todo o país (142) no mesmo período, o calor extremo ainda é um desastre negligenciado no Brasil.

Mortes potencializadas por ondas de calor em Porto alegre

O estudo concluiu que a região metropolitana de Porto Alegre (POA) figura na quarta posição entre as analisadas em que as ondas de calor mais potencializam mortes. Na capital, entre 41% e 68% das ondas de calor implicaram um aumento significativo nas mortes entre 2000 e 2018. De acordo com o estudo, 3.810 mortes podem ser atribuídas às ondas de calor em Porto Alegre

| Foto: Divulgação / UFRJ / CP

Caso o excesso de mortalidade (mortes que não ocorreriam sem as ondas de calor em questão) seja calculado pela população anual e pelo número de dias sob o regime de ondas de calor, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belém, Cuiabá e Recife apresentaram as maiores taxas.

| Foto: Divulgação / UFRJ / CP

Nos últimos cinco anos (2014–2018), as regiões de Recife, Belém, Porto Alegre, Cuiabá e São Paulo aparecem como as mais impactadas, somando 2,34 a 3,01 mortes por 1 milhão de habitantes a cada onda.

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