Posto à prova, sistema de contenção de cheias de Porto Alegre apresentou falhas
Apesar de evitar o pior, houve vazamentos nas vedações e rompimento de comporta
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Porto Alegre viveu mais um dia histórico. Nesta terça-feira, o nível do Guaíba atingiu o patamar de 3,46m no Cais do Porto às 8h e renovou a maior marca desde a grande enchente de 1941. Foi um dia para pôr à prova o sistema de contenção de cheias da cidade. E houve falhas.
Todo o complexo se estende da freeway à avenida Diário de Notícias e conta com mais de 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 23 casas de bombas. O fechamento dos portões foi acionado na segunda-feira pela manhã, pela terceira vez no ano, e ocorreu em um momento em que a água do Guaíba já invadia pontos do 4º Distrito. Após enfrentar problemas para fechar a comporta de número 12, todo o sistema ficou vedado por menos de quatro horas. Ainda durante a tarde de segunda-feira, a comporta de número 13 não conteve o fluxo a passagem da água, cedeu e gerou o colapso do sistema na região.
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Diante da força da água, o portão localizado na região do Parque Náutico, abriu parcialmente e sobrecarregou o conduto forçado, projetado para reduzir alagamentos e ocasionou a inundação no 4º Distrito. Sem a proteção atuando conforme projetada, a água também invadiu os trilhos da Trensurb.
URGENTE
— Jonathas Costa (@jonathasac) November 21, 2023
Comporta cede à pressão da água e arrebenta. Vários quarteirões do 4⁰ Distrito estão inundados e há até um carro ilhado de baixo da ponte do Guaíba.
Mais informações em instantes no site do @correio_dopovo pic.twitter.com/vPFppqx77A
De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), a vedação com sacos de areias não havia sido realizada na comporta que falhou, como procedido nas demais aberturas do Cais Mauá, ocasionando o extravasamento para as vias do entorno. Uma operação especial foi montada desde às 22h de segunda e avançou pela madrugada e manhã desta terça-feira. A intenção era diminuir o vazamento de água, que durante à noite chegava a criar correnteza na avenida Voluntários da Pátria e deixou um carro parcialmente submerso.
Operação montada para tentar conter vazamento na comporta começou por volta das 22h e deve avançar a madrugada@correio_dopovo pic.twitter.com/eb9x2M0QAu
— Jonathas Costa (@jonathasac) November 21, 2023
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A contenção foi reforçada durante a tarde e, segundo expectativa do Demae, em não havendo uma elevação súbita do nível do Guaíba, o conduto forçado voltará a atuar em condições normais, reduzindo gradativamente o acúmulo de água nos trechos afetados. “Estamos montando uma estrutura, um ‘mini dique’ para represar a água o máximo possível. Os demais portões estão estáveis no momento e será realizado o reforço com sacos de areia para evitar um eventual aumento no nível do Guaíba”, explicou a diretora de operações do departamento, Isabel Costa. “As casas de bombas estão ativas e devolvendo a água para o Guaíba, reduzindo o impacto para a população”, reforçou o diretor-geral Maurício Loss.
Operação ao longo desta terça-feira tentou isolar vazamento em comporta | Foto: Mauro Schaefer
Vedações vazaram
Mesmo com o auxílio da barreira formada com lonas e sacos de areia, a água começou a invadir a Avenida Mauá, no Centro Histórico, a partir de vazamento na comporta de número 3, próximo ao Tribunal de Contas do Estado. O portão não impediu um fluxo contínuo, mesmo que ainda pequeno, sobre a via. Como as galerias de drenagem pluviais do entorno estão dando conta, não havia acúmulo de água no local suficiente para causar transtornos ao trânsito de veículos.
Comporta de número 3, na avenida Mauá, tem pontos de vazamento@correio_dopovo pic.twitter.com/AlvfNsoAUM
— Jonathas Costa (@jonathasac) November 21, 2023
O mesmo ocorreu em um dos maiores portões de todo o sistema de diques da cidade, o de número 12 na altura da avenida Cairú e que dá acesso da Voluntários da Pátria à Castelo Branco. Na segunda-feira a estrutura estava fora dos trilhos, escorada na parede. Após uma grande operação envolvendo guindastes e soldadores, o portão foi fechado. Na tarde desta terça-feira, o acúmulo de água que passava pela estrutura tomava por completo o túnel e avançava em direção à Voluntários da Pátria.
ATENÇÃO
— Jonathas Costa (@jonathasac) November 20, 2023
Sistema de comportas na altura da Ponte do Guaíba está fora dos trilhos. Equipes do Demae chegam ao local agora para avaliar como será o fechamento do portão.
Água do Guaíba segue avançando para a cidade@correio_dopovo pic.twitter.com/j0k94IsT3S
Porto Alegre em emergência
No início da tarde, o prefeito Sebastião Melo, acompanhado de integrantes da Defesa Civil e da Brigada Militar sobrevoaram a região das ilhas, área da Capital mais afetada pela cheia do Guaíba. O reconhecimento aéreo, que durou aproximadamente uma hora e meia, contribui para a definição de medidas que serão adotadas pelo município no apoio às famílias atingidas e a posterior recuperação dos estragos causados pela inundação. “É uma situação muito dolorosa. Todas as cinco ilhas em grande dificuldade, não tem uma casa que não tenha sido atingida, e a projeção é que não vai melhorar nos próximos quatro ou cinco dias”, projeta Melo.
Outras regiões monitoradas são Guarujá e Serraria e o limite com Cachoeirinha, na zona Norte, onde os pontos de atenção são o bairro Sarandi e o dique do Arroio Feijó, próximo da Fiergs. Melo também comentou sobre os alagamentos no 4º Distrito e reforçou confiança no sistema de prevenção de cheias e alagamentos. “O conduto Álvaro Chaves é uma dos sistemas mais importantes, atende a 14 bairros e conduz a água com grande velocidade, mas como o Guaíba está muito cheio, ocorrem problemas. E as bombas de drenagem estão trabalhando conforme previsto, o que minimiza os alagamentos”, completa Sebastião Melo.
Durante reunião no Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA), Melo anunciou a edição de um decreto colocando a Capital em situação de emergência. A medida foi publicada no Diário Oficial de Porto Alegre (Dopa) e pretende simplificar as contratações necessárias para minimizar o impacto da cheia à população.
*Com informações dos repórteres Cristiano Abreu e Rodrigo Thiel