Retrospectiva: as palavras que marcaram 2019

Retrospectiva: as palavras que marcaram 2019

Da guerra semântica entre contingenciamento e corte, às velhas siglas conhecidas dos brasileiros como CPMF e AI-5, confira os termos que foram muito utilizados ao longo do ano

Jonathas Costa

AI-5, Flamengo, COAF, Protestos e Impeachment foram alguns dos termos muito utilizados em 2019

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Impeachment

Talvez a palavra do ano em 2016 no Brasil, “impeachment” voltou aos holofotes em 2019, desta vez tirando o sono de Donald Trump, acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso. A Câmara dos Estados Unidos aprovou, em 18 de dezembro, o pedido de impeachment contra o republicano, o terceiro presidente norte-americano a sofrer um processo desta natureza. O afastamento será decidido pelo Senado em 2020, local em que tem maioria republicana. Da América do Norte para a serra gaúcha, quem também foi alvo de um processo de impeachment foi o prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra. Ele foi afastado do cargo em 22 de dezembro, em uma sessão na Câmara de Vereadores que durou mais de 50 horas. 

Protestos

No Oriente Médio, iraquianos foram às ruas contra o governo após denúncias de corrupção e os libaneses se insurgiram quando foi anunciada a cobrança de um imposto para as ligações feitas pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. Na Europa, grandes marchas em Barcelona contra a condenação de líderes separatistas e greves e confrontos na França em reação à reforma da previdência apresentada por Emmanuel Macron.

Grandes protestos também sacudiram outras partes do mundo. As mais longas manifestações aconteceram em Hong Kong a partir de julho, quando foi anunciado um projeto de lei que permitiria a extradição de pessoas para a China. O governo local até recuou, mas os protestos cresceram assim como a repressão a eles, deixando milhares de feridos.


Philip Fong/AFP

No Chile, o aumento das passagens de metrô foram o estopim para uma série de protestos que levaram o presidente Sebantian Piñera a ceder ao pedido de uma nova Constituição. Mesmo na Argentina e Uruguai, onde a violência acabou não se materializando, a população deu o recado nas urnas, colocando a oposição no governo.


Claudio Reyes/AFP

Uma das palavras mais repetidas na América do Sul, onde o ano foi marcado por instabilidades. Mergulhado em embates entre militares, policiais e população, tanto em países governados pela esquerda quanto pela direita, o continente viu eclodir convulsões sociais na Venezuela, Chile, Equador, Colômbia e Bolívia, onde Evo Morales acabou renunciando depois de suspeitas de fraude na eleição que o reelegeria pelo quarto mandato consecutivo. 

Autoproclamado

Em uma jogada audaciosa, Juan Guaidó, líder oposicionista venezuelano, se proclamou "presidente encarregado" em janeiro, o que provocou enormes mobilizações no país. Nicolás Maduro chegou a fechar a fronteira e o Brasil acabou no olho do furacão. Apesar do apoio maciço de mais de 50 países, na prática a presidência interina de Guaidó nunca se efetivou e ele chegou ao final do ano enfraquecido. A crise na Venezuela, contudo, está longe do fim.
 


 

Atirador

Os olhos do país estiveram voltados para a ponte Rio Niterói na manhã de 20 de agosto. Um homem armado ameaçou 37 passageiros de um ônibus por quase quatro horas. Foi um atirador de elite que conseguiu dar fim ao caso quando disparou um tiro fatal no sequestrador. Nenhuma vítima ficou ferida.

AI-5

Mais de 50 anos depois de ser emitido pelo então presidente Costa e Silva, o Ato Institucional nº 5 sacudiu a política brasileira e chegou a impactar a economia brasileira em 2019. Primeiro na boca de Eduardo Bolsonaro e depois de Paulo Guedes, o termo gerou forte repercussão e foi veementemente rechaçada por representantes de todos os espectros políticos. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, aventar a possibilidade de uma reedição do mais duro golpe da Ditadura Militar afugenta os investidores e gera instabilidade no país. 

Pacote


Mauro Schaefer

Foi a palavra que ditou o ritmo das reformas ao longo do ano e todo governo apresentou um, e para chamar de seu. Paulo Guedes propôs três PECs, entre elas a que prevê a extinção de vários municípios, no que chamou de “superpacote”. Ele também conseguiu a aprovação da Lei de Liberdade Econômica e a criação da Carteira Verde Amarela e Carteira Digital. Sérgio Moro lançou o seu, batizado de anticrime, que acabou desidratado no Congresso e sancionado por Bolsonaro no final do ano. Com a Reforma da Previdência sancionada sem incluir estados e municípios, as assembleias de norte a sul do país também passaram a analisar pacotes apresentados pelos governadores. No RS, Eduardo Leite enfrentou resistência às oito propostas apresentadas. Com forte impacto na carreira dos servidores, houve grandes protestos que agitaram Porto Alegre. Apenas uma das propostas conseguiu ser aprovada e as demais ficaram para 2020. 

Drones

Considerados uma grande novidade nos últimos anos, os drones demonstraram sua capacidade destrutiva quando mal utilizados pelo homem em 2019. Em setembro, dez equipamentos carregados com bombas destruíram duas petrolíferas na Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo. O impacto foi imediato: o preço do petróleo disparou nos mercados globais e as tênues relações entre Estados Unidos e Irã ficaram ainda mais conturbadas.

Massacre


Tessa Burrows/Divulgação
 

Ataques voltaram a assombrar o mundo em 2019. Na Nova Zelândia, um supremacista branco com ideário de extrema direita entrou atirando em duas mesquitas em março. Ele matou 49 pessoas. As cenas de horror foram transmitidas ao vivo nas redes sociais. Em retaliação, sete homens-bomba ligados a grupos islâmicos do Sri Lanka realizaram uma série de explosões em hotéis e igrejas em pleno domingo de Páscoa. O saldo do ataque foi aterrorizante: 321 mortos e cerca de 500 feridos.

Segunda Instância

Em mais um ano marcado pelo protagonismo do STF na política brasileira, os ministros decidiram por 6 votos a 5 que a prisão após a segunda instância contraria o texto da Constituição Federal. Com isso, condenados na Lava Jato foram soltos no dia seguinte ao julgamento. O caso mais emblemático foi o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba em 8 de novembro, 580 dias depois de ser preso. Também foram beneficiados o ex-ministro José Dirceu, os ex-tesoureiros do PT João Vaccari Neto e Delúbio Soares, e o ex-governador de Minas Gerais pelo PSDB Eduardo Azeredo.

Vivendas da Barra

Assassinada em março de 2018 a tiros no Rio de Janeiro, Marielle Franco se manteve presente no noticiário brasileiro ao longo deste ano. Mas, desta vez, as atenções se voltaram para o condomínio residencial Vivendas da Barra, de frente para o mar da Barra da Tijuca. Foi neste endereço que o sargento reformado da PM do Rio Ronnie Lessa foi preso em março. Ele e Elcio Vieira são apontados pelo Ministério Público de serem o autor dos disparos de arma de fogo e o condutor do veículo usado na execução, respectivamente. No mesmo condomínio, o então deputado federal e hoje presidente da República tem casa. Em outubro, um depoimento falso de um dos porteiros levou a investigação até a família Bolsonaro. “Seu Jair” teria autorizado a entrada de Elcio no condomínio no dia da morte da vereadora. Bolsonaro, contudo, estava em Brasília. Dias depois o porteiro disse que errou no depoimento. Uma perícia no sistema de interfones da portaria indicou que, de fato, quem autorizou a entrada do motorista no local fora Ronnie Lessa. O caso também colocou em rota de colisão Jair Bolsonaro e Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro. 

Muzema

Comunidade carioca onde dois prédios desabaram no Rio de Janeiro deixando 24 mortos e centenas de desabrigados. As construções eram irregulares e ilegais e haviam sido interditadas duas vezes, no final do ano passado e em fevereiro deste ano.

COAF

As investigações envolvendo o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, estiveram no noticiário ao longo do ano. Dados do Coaf se tornaram públicos e o STF paralisou as investigações por quatro meses. Após ter o sigilo bancário e fiscal quebrado em junho, por decisão da Justiça do Rio, Flávio viu sua loja de chocolates ser alvo de busca e apreensão, assim como endereços ligados a Queiroz — suspeito de comandar uma “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio. O presidente criticou o Ministério Público do Rio e acusou a Justiça do Rio de perseguir seu filho.

Contingenciamento

A guerra semântica criada em junho para distinguir “contingenciamento” de “corte” balançou o Palácio do Planalto e o Ministério da Educação e promoveu as primeiras grandes manifestações contra o governo Bolsonaro. Houve reação e atos em apoio ao presidente também foram registrados, ainda que em menor número. Na prática, o congelamento de gastos acabou suspenso no final do ano, mas instituições e universidades acabaram sofrendo com o orçamento enxuto. 

Future-se


Politiz/Divulgação

Apresentado pela primeira vez em julho, o Future-se é uma proposta do governo federal para ampliar as fontes de financiamento das universidades e instituto federais. O projeto, contudo, recebeu críticas principalmente pelo fato de ser pouco detalhado e de trazer possíveis riscos à autonomia da gestão financeira das instituições. A pressão fez o MEC recuar e lançar uma versão mais enxuta em outubro.

CPMF

Ainda que muitos brasileiros não saibam o significado da sigla, na prática sabem muito bem o que ela faz: aumenta a carga tributária que incide sobre a população. E, sendo tão mal vista, bastou a mera especulação da sua recriação para gerar baixas no Ministério da Economia. Ao final do ano, os planos de recriar o imposto voltado, desta vez, apenas para transações digitais gerou nova polêmica. E o governo correu para negar, mais uma vez, que pretende aumentar impostos.

Acordo

Após 20 anos de negociações, a União Europeia e o Mercosul ratificaram o acordo comercial. Se o ato histórico foi motivo de festa para Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, para a França nem tanto. Com baixa popularidade no país, Macron tentou dar garantias aos produtos franceses. O tratado envolve temas tarifários e de natureza regulatória, como serviços, compras governamentais e comércio, além de barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual. Outro grande acordo do ano envolveu Estados Unidos e China. Depois de uma “guerra fria”, com declarações e movimentos que agitaram os mercados globais, Trump e Xi Jinping sinalizaram pelo consenso ao final do ano.

Flordelis

Não é a flor, mas a deputada federal carioca que ocupou os noticiários. Flordelis é investigada pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo de Souza, morto a tiros na madrugada de 16 de junho em casa, em Niterói. Ele foi atingido por mais de 30 tiros na garagem da casa e morreu momentos depois de chegar ao hospital. Um dos filhos da deputada - o casal possui a guarda de 50 crianças e adolescentes -, disse à Polícia que desconfia de uma possível participação da mãe e de três irmãs, além dos dois irmãos presos, na morte do pastor. As investigações continuam.

Racismo

Em pleno 2019, essa palavra ainda encontrou espaço nos noticiários. E foi no esporte que ela ecoou com mais força. Foram pelo menos 59 casos apenas em partidas de futebol realizadas no Brasil. No mundo, destaque para o ataque sofrido pelo jogador Taison na Ucrânia em novembro. Ao reagir às injúrias raciais, ele ainda acabou expulso da partida. Já o Supremo Tribunal Federal decidiu, em junho, criminalizar a homofobia como uma forma de racismo. Outro caso de preconceito que ganhou forte repercussão no país foi promovido pelo cantor MC Gui a uma criança na Disney. Mesmo após as críticas, o cantor não reconheceu o erro. Depois que contratos e shows foram cancelados ele pediu desculpas. 

Bacurau


Divulação

Em um ano difícil para a cultura nacional, o filme de Kleber Mendonça Filho e e Juliano Dornelles encantou os críticas e se tornou a primeira produção nacional a ganhar o Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Outra grande obra brasileira do ano foi Vida Invisível, de Karim Aïnouz. 

Neymar

O camisa 10 da Seleção teve um ano complicado. Além de novamente ficar fora da Copa América por lesão, teve problemas extracampo. E que problema! A modelo Najila de Souza o acusou de estupro e agressões físicas durante um encontro em um hotel em Paris. Depois de vários depoimentos, entrevistas à imprensa e vídeos vazados, a polícia decidiu indiciar a modelo por denunciação caluniosa. Ele, contudo, ficou fora dos primeiros jogos da Liga dos Campeões da Europa por lesão e suspensão. Além disso, na pré-temporada europeia tornou público seu desejo de sair do Paris Saint-Germain, o que gerou antipatia dos torcedores do clube parisiense. A volta por cima veio ao final do ano, quando retornou ao time já na reta final da fase de grupos marcando gols e sendo novamente o protagonista do PSG.

Gre-Nal 

O sonho dos gaúchos de um Gre-Nal na final da Copa do Brasil ficou pelo caminho. O Grêmio foi eliminado pelo Atlético Paranaense nas semifinais. O Inter passou pelo Cruzeiro, mas acabou perdendo na final para o Furacão, por 2 a 1, na noite de 18 de setembro, em pleno Beira-Rio. No Brasileirão, o Colorado terminou em 7º lugar e terá que disputar a Pré-Libertadores. Para brigar pelo tri da principal competição sul-americana de clubes, o Colorado trouxe o técnico argentino Eduardo Coudet. Já o Tricolor renovou com o ídolo Renato Portaluppi. Campeão como jogador e treinador, Renato ganhou, em março, uma estátua na Arena do Grêmio.

Flamengo


Marcelo Cortes/Flamengo/Divulgação

O Flamengo teve um ano quase perfeito e por pouco não foi campeão de tudo. Faturou o Carioca, ganhou a Libertadores e o Brasileirão e só não venceu a Copa do Brasil. No Mundial, perdeu a final para o Liverpool, mas por apenas 1 a 0, na prorrogação, e jogando de igual para igual com o campeão europeu. O Rubro-Negro ainda deu uma goleada histórica no Grêmio: 5 a 0 no Maracanã.


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