Foi concluído, nesta terça-feira, o inquérito sobre a suposta eutanásia em massa de cães e gatos na Secretaria de Bem-Estar Animal de Canoas, na Região Metropolitana. De acordo coma Polícia Civil, a ex-titular da pasta, Paula Lopes, foi indiciada por maus-tratos, falsidade ideológica e associação criminosa. Ela nega ter cometido qualquer crime.
De acordo com apuração da 3ª DP de Canoas, os casos teriam ocorrido entre janeiro e agosto, período em que a investigada esteve à frente da Secretaria. “O objetivo seria reduzir gastos da pasta e, também, abrir espaço físico [para mais acolhimentos]”, avaliou a delegada titular Luciane Bertoletti.
Além de Paula Lopes, uma veterinária também foi indiciada pelos mesmos delitos. Já o companheiro da ex-secretária, apontado na investigação como braço direito dela, foi indiciado por associação criminosa.
As suspeitas ensejaram a chamada Operação Carrasco, deflagrada em setembro, quando foram apreendidos documentos, computadores, registros de entrada e saída de animais e informações sobre microchips implantados nos pets. Após as diligências, uma funcionária do Bem-Estar Animal procurou os policiais e entregou um caderno com teóricas anotações sobre eutanásias.
Também segundo a 3ª DP de Canoas, as notificações indicavam 478 óbitos de animais sob os cuidados da pasta. Os registros eram escritos à mão e seriam referentes a procedimentos que teriam acontecido em abrigo e em áreas externas.
O advogado Gilson R. R. de Araújo, que representa a ex-secretária, destacou que ainda não foi notificado sobre o indiciamento. “Mais uma vez a defesa foi pega de surpresa, sem ter sido notificada ou ter acesso integral aos autos. O conhecimento acerca dos fatos, para este defensor, é sempre através da imprensa”, disse.
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Ex-secretária nega acusações
A ex-titular do Bem-Estar Animal de Canoas nega ter autorizado eutanásias de forma irrestrita durante os sete meses em que esteve à frente da pasta. Ela afirma que o procedimento não poderia ter sido feito sem acompanhamento e autorização de terceiros, incluindo profissionais da área e tutores. As declarações foram dadas ao jornalista Ricardo Azeredo, em entrevista veiculada na Record Guaíba.
“Baseado em quê eles [denunciantes] alegam que as eutanásias eram feitas de forma indiscriminada? Eu respondo: com base em denúncias anônimas ou em pessoas que ouviram falar ou que ouviram dizer”, afirmou Paula Lopes.
Também disse que não era responsável por procedimentos do tipo. “Se houve matança de bichos, os que deveriam ser investigado são veterinários. Essas pessoas, que supostamente fizeram isso, precisam ser investigadas. Quem faz eutanásia são os médicos veterinários. Também vale lembrar que, para isso, é necessário a presença do tutor ou do responsável do animal. Há três consultórios na Secretaria do Bem-Estar Animal, com veterinários. Ali, quando é um caso extremo, o veterinário pode sugerir que seja feita eutanásia, em concordância com o tutor. Além disso, tudo isso é documentado.”
A ex-secretária também negou ter autorizado eutanásia como forma de economizar recursos. “Isso nunca houve. Os recursos são fixos. Dizer que eutanásia é mais barato do que castração é um grande erro. Tanto que nossos números de castrações são altíssimos. Não existe isso de querer economizar. Esses animais não iam para dentro da Secretaria do Bem-Estar. Então, qual seria o interesse em fazer eutanásia em um animal que tem um tutor?”, destacou.
Paula Lopes também rebateu a alegação da Polícia Civil sobre um caderno com registros de quase 500 supostas eutanásias. Ela disse que, antes de assumir a gestão, entre 2023 e 2024, a pasta registrou 920 atendimentos e 28 eutanásias mensais, com média de eutanásia de um animal por dia. Em sua gestão, foram 1.747 animais atendidos e 62 eutanásias por mês, média de duas eutanásias por dia.
"Falar que 500 animais foram mortos é um absurdo. Quando se vende essa informação solta, obviamente isso gera revolta e comoção [...] também é preciso entender que os animais não chegam na Secretaria para cortar unhas ou curar uma otite. Esses animais muitas vezes foram atropelados ou sofreram até o último seguindo, sendo o único recurso a eutanásia”, avaliou Paula Lopes.
Ela ainda negou ter enriquecido com a causa animal, ao contrário do que havia sugerido a Polícia Civil. "A riqueza que eu tenho são os meus animais. Quatro patinhas e um rabinho balançando, essa é a riqueza que ganhei”, pontuou.