Eleições 2024: PT define estratégia em Porto Alegre

Eleições 2024: PT define estratégia em Porto Alegre

Rosário vai ‘colar’ em Lula, retomar campanha ‘pé no barro’ e tentar se igualar a Melo no quesito liderança popular

Flavia Bemfica

Deputada é pré-candidata do PT à prefeitura da Capital e PSol ocupará vaga de vice

publicidade

Convictos de que terão uma disputa acirrada pela frente, integrantes dos comandos do PT no RS e em Porto Alegre começaram a colocar em curso a estratégia a ser adotada na campanha da deputada federal Maria do Rosário para a prefeitura da Capital. Além da antecipação em vários meses na definição da chapa majoritária que terá o PSol na vaga de vice, o núcleo de articuladores já estabeleceu o que vai destacar na imagem da pré-candidata perante o eleitorado.

Também definiu os pontos a serem atacados com prioridade na administração do prefeito Sebastião Melo (MDB), que concorrerá à reeleição. Esquematizou, a partir dos mapas de votações das eleições de 2020 e 2022, quais as regiões de Porto Alegre precisarão de mais atenção. E, por fim, trabalha para desidratar as conversações entre PSDB e PDT, articuladas pelo governador Eduardo Leite, e que visam a formação de uma chapa encabeçada pelos tucanos na Capital, com os pedetistas de vice.

“De fato, acreditamos que há muito tempo não dávamos início a um ano eleitoral tão bem organizados em Porto Alegre”, admite a presidente do diretório municipal petista, a deputada estadual Laura Sito. A organização tem uma espécie de ponto de partida após a confirmação da aliança entre as federações PT/PCdoB/PV e Psol/Rede. É o trabalho para, de um lado, consolidar a imagem de Maria do Rosário como uma liderança popular, que busca alta inserção nas periferias da cidade, retomando o conceito das campanhas ‘pé no barro’. E, de outro, afastar índices de rejeição em fatias significativas do eleitorado que serão explorados pelos adversários políticos.

Veja Também

A estratégia fervilha nas redes sociais, onde a pré-candidata vem acentuando, em vídeos com linguagem simples, gírias e expressões de fácil entendimento, sua relação com a Capital e as periferias, e reforçando pautas importantes para o eleitorado feminino. Faz parte do pacote, por exemplo, o material que mostra ela desfilando no Porto Seco no Carnaval deste ano, ou tomando café da manhã com recicladoras no 8 de março. O objetivo é claro: fazer frente a Melo, que tem uma imagem fortemente vinculada aos subúrbios e sempre se autodefiniu como um político que conhece ‘vila por vila’.

Campanha terá disputa acirrada pelo voto das periferias

Na disputa pelo voto das periferias, a campanha a ser colocada na rua pela futura chapa PT/Psol já tem até slogans informais, como o de que o prefeito Sebastião Melo (MDB) ‘esqueceu do povão e agora só anda com a turma do Parcão’. A frase é uma alusão clara à aproximação do emedebista com o bolsonarismo, ao seu desempenho em bairros de classe média alta e alta, e à dobradinha com o vice Ricardo Gomes (PL). Que, apesar de alguns dissabores internos, vai se repetir em 2024.

Para além do discurso político, a estratégia de PT/Psol vai focar em problemas enfrentados pela atual administração, entre eles o escândalo de corrupção na secretaria da Educação, as demandas não atendidas na educação e na saúde e a qualidade do transporte público. Serão retomadas questões de infraestrutura e zeladoria que geram desgaste, como as polêmicas em torno das interrupções no fornecimento de água e energia elétrica em algumas regiões, e o avanço da especulação imobiliária.

Ao mesmo tempo, Rosário já trabalha para se ‘colar’ às realizações do governo Lula e se mostrar como alguém que dialoga com lideranças nacionais. O movimento poderá ser observado diretamente na próxima sexta-feira, quando ela acompanhará agendas do presidente em sua viagem ao RS.

Mesmo que ainda de forma discreta, os articuladores de Melo estão atentos aos movimentos. E vão arrancar na corrida explorando a rejeição. “A deputada, com todo o respeito, reapareceu agora na cidade. Antes, era só Brasília, Brasília, Brasília. Ela não é popular. Tanto, que sua candidatura não é consenso nem dentro do seu partido. E a simpatia que tenta mostrar é tão verdadeira quanto uma moeda de 2 reais”, elenca uma das lideranças emedebistas.

Mapas de votações ajudam a decidir movimentos

Os mapas de votações sobre os quais PT e PSol embasam parte de sua estratégia para as eleições municipais na Capital ajudam a explicar a rapidez com que as siglas chegaram a um entendimento, a convicção de que sua chapa será competitiva e a insistência na vinculação com o presidente Lula. Elas tomam por base, por exemplo, o fato de que, em 2022, Lula venceu Bolsonaro em Porto Alegre tanto no primeiro quanto no segundo turno. E que a chapa PT/Psol ao governo fez, naquele pleito, no primeiro turno, na Capital, 258.063 votos. Foram cerca de quatro mil a menos do que Eduardo Leite (PSDB), que havia renunciado ao governo, mas seguia no imaginário da população como governador enquanto disputava novo mandato.

Os mapas das eleições municipais de 2020, por sua vez, mostram uma disputa parelha entre o hoje prefeito Sebastião Melo (MDB) e Manuela D’Ávila (PCdoB), para quem o PT havia indicado o vice na chapa. Apesar de toda a rejeição que os adversários sempre atrelaram à ex-deputada. Aos estrategistas políticos, a análise dos números do segundo turno de 2020 aponta que Manuela e Melo acabaram por dividir os 136.063 votos que, no primeiro, haviam sido destinados ao então prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB).

Mas a análise dos dados mostra também que, do primeiro para o segundo round daquela disputa, Melo cresceu não apenas em números, como geograficamente. Ele obteve mais votos no primeiro turno em seis das 10 zonas eleitorais de Porto Alegre. No segundo, ampliou para nove. Manuela baixou de quatro para uma. Isto importa porque mostra a capilaridade dos candidatos junto a diferentes parcelas do eleitorado. Agora, para se ter uma ideia, o extremo norte já está demarcado como uma das prioridades geográficas do PT para a corrida.

Além do foco inicial em Melo, o PT aguarda pela decisão do PSDB para fazer alterações em sua estratégia. Lideranças petistas admitem abertamente que ela precisará ser adaptada caso a deputada estadual Nadine Anflor dispute a prefeitura, e preocupam as negociações dos tucanos para que o PDT indique um vice para Nadine. Os petistas consideram que a deputada atrapalha seus planos na briga por fatias do eleitorado de centro. E, pior, que pode capturar a preferência de setores flutuantes localizados na centro-esquerda.

Essa flutuação ajudaria a explicar a divisão dos votos de Marchezan em 2020. E, depois, em 2022, as marcações de Leite. Ele recebeu 262.770 votos no primeiro turno na Capital. No segundo, com Pretto fora da corrida, mais do que dobrou o score: fez 556.254 votos.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895