Na Expointer, Uruguai afasta possibilidade de Brasil taxar lácteos do Mercosul

Na Expointer, Uruguai afasta possibilidade de Brasil taxar lácteos do Mercosul

Ministro da Agricultura do país vizinho, Fernando Mattos, indicou a ampliação do consumo de leite na merenda escolar para escoar oferta interna brasileira

Thaise Teixeira

publicidade

O ministro da Agricultura do Uruguai, Fernando Mattos, afastou a possibilidade de o Brasil taxar a importação de lácteos do país. “Não podemos estabelecer regras de restrição porque estamos no Mercosul integrado, não podemos aplicar aspectos legais que vão contra o espírito de livre circulação de bens e de pessoas. Seria, portanto, uma contradição o Mercosul pedir liberalização de mercados e estabelecermos regras restritivas internas”, argumentou, durante visita à casa do Grupo Record RS na Expointer.

A certeza provém também de reunião com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, realizada na sede da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), após encontro com o setor lácteo gaúcho, nesta quinta-feira, na Expointer.

De acordo com Mattos, a reunião com Fávaro resultou na designação de dois pontos focais de trabalho para “evitar o aviltamento da oferta (de leite) na próxima primavera de acordo com todas as normas de transparência”. “Vamos propiciar, dentro dos acordos empresariais, que as empresas possam dialogar entre si para que haja regras claras e o comércio contribua ao correto abastecimento ao mercado brasileiro”, afirmou.

Isso porque o país vizinho é tradicional fornecedor de leite ao Brasil que, segundo Mattos, não supre a própria demanda interna. “O Brasil precisa de fornecedores confiáveis. Não podemos levantar o dedo acusador a quem tem sido, historicamente, o grande fornecedor para esse déficit. É também a importação que regula o mercado, evita a disparada dos preços e evita que a pressão inflacionária ocorra quando a produção brasileira diminui”, disse.

Outro foco está no desenvolvimento de campanhas de estímulo ao consumo de leite no Brasil, a exemplo do que, há 80 anos, ocorre no Uruguai, onde as escolas têm no leite e nos lácteos produtos insubstituíveis na merenda escolar. Além de regular o mercado interno, a oferta às crianças cria hábitos que perduram de geração a geração, fortalecendo uma cultura de consumo. “Transmitimos ao Fávaro que o Uruguai consome quase 50% a mais de leite per capita que o Brasil, na proporção de 240 litros per capita/ano para 160 litros per capita/ano. Essa poderia ser uma estratégia para desafogar o produtor e enriquecer a alimentação das crianças com alto valor nutricional, melhorando, inclusive, seu desempenho cognitivo e escolar”. argumentou.

Além do que chamou de busca por “soluções construtivas por meio do diálogo para que ambos os países tenham uma mútua compreensão de suas realidades, inclusive na questão social”, Mattos revelou que pediu interferência de Fávaro para solucionar entraves relativos à certificação de qualidade do leite uruguaio nas fronteiras brasileiras. Disse que, por meio de um compromisso pessoal do ministro brasileiro, ouviu o compromisso de criar um grupo de trabalho para estabelecer critérios comuns de avaliação e certificação no Mercosul para garantir a transparência e a confiabilidade das operações comerciais.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895