Leilões de outono animam a pecuária
Temporada de remates de terneiros no Rio Grande do Sul deve registrar alta entre 15% e 17% no preço do produto em relação à cotação do boi gordo, conforme projeções do coordenador do NESPro/UFRGS, professor Júlio Barcellos

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As oscilações de temperatura características do outono devem ficar restritas ao clima no campo, ao contrário da atmosfera de céu límpido para o mercado de leilões de bovinos. A temporada inicia no Rio Grande do Sul sem volatilidade acentuadas ou negativas para quem está ofertando animais. As previsões indicam liquidez e preços acima do esperado para a pecuária de corte. Na categoria de terneiros, considerada termômetro do setor, a perspectiva de comercialização é de alta entre 15% a 17% em relação aos valores do boi gordo.
Conforme o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro/UFRGS), Júlio Barcellos, a alta é motivada por uma oferta relativamente restrita.
“Não existem muitos terneiros à disposição para venda, ou seja, a crise na pecuária em 2022 e 2023 fez com que muitos pecuaristas, ao invés de produzirem terneiros, vendessem suas matrizes para a engorda e o abate, a fim de gerar mais receitas”, explicou.
Barcellos pontua que essa medida repercutiu num menor número de terneiras na primavera de 2024 e, consequentemente, na formação de um novo plantel de vacas para novas crias. Mas esse é apenas um dos aspectos para explicar a alta que se estima para a temporada. Barcellos acrescenta que, entre os motivos que o ciclo de produção da pecuária vem encurtando estão o avanço da genética, da alimentação e do manejo dos rebanhos. Conforme o professor, há dez anos o pecuarista tinha mais opções de animais magros para adquirir e recompor a venda do boi gordo.
“O produtor tinha possibilidades de fazer uma reposição com mais categorias (de exemplares). Com os avanços da pecuária, encurtamento do ciclo, produção de animais cada vez mais jovens, restam os novilhos de 18 meses e seus irmãos, os terneiros, para continuar a atividade”, detalhou.
Diante do cenário atual, Barcellos elucida que a demanda conjugada com a menor oferta repercute nos preços atuais dos terneiros nesta temporada de leilões. Entretanto, recorda que os valores estão distantes dos praticados entre os anos de 2017 a 2020, quando o terneiro chegou a valer até 40% a mais do que o preço do boi. “Nós ainda não estamos nos patamares limítrofes de preços, porque a crise e a falta de terneiros ainda não atingiu um pico que será no segundo semestre 2025 e em 2026”, ponderou.
O coordenador do NESPro observa que o preço do boi gordo está relativamente estável. “Não temos perspectivas de diminuição, porque está faltando gado no Estado, em decorrência de todos esses eventos climáticos e de uma desintensificação da atividade”, alertou. Indagado sobre uma possível migração, exclusiva para a pecuária, dos agricultores afetados pelas estiagens recorrentes, o professor afirmou que a mudança é complexa.
“Há uma exigência de capital. Ele (o agricultor) precisa de dinheiro para comprar e ou recomprar seus campos. Então, dificilmente há uma volta para a atividade (da pecuária)”, analisou.
Barcellos complementa que a maior parte dos cultivos no Rio Grande do Sul são feitos por agricultores em terras arrendadas. “Muitos migraram de forma expressiva para a Campanha e Fronteira Oeste gaúcha, regiões sabidamente de maiores riscos climáticos, especificamente para soja”, detalhou, destacando ainda que o plantio da oleaginosa na Metade Sul fez com que muitos produtores de médio porte optassem por arrendar suas terras para a agricultura.
Situação distinta estão os pecuaristas que integraram a agricultura na própria terra mesmo com as situações de risco climático e redução dos preços das commodities agrícolas, principalmente da soja no mercado internacional e do preço do arroz no mercado interno. Nestes casos, conta Barcellos, há produtores considerando reduzir os plantios de culturas, mas não excluí-las de seus sistemas.
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“Porque dentro de um processo de integração, isto tem sido positivo. O que importa é a renda da propriedade e não por atividade. Por isso, nesse somatório, a agricultura ainda tem sido favorável, mas há uma diminuição dessa expansão agrícola no Rio Grande do Sul”, comentou.
Retomando a questão da perspectiva dos remates de bovinos, Barcellos acrescenta a importância da performance da comercialização na temporada de outono no Estado, pois são os resultados desses leilões que consolidam as vendas do primeiro semestre. Segundo ele, no primeiro trimestre de 2025 os preços ficaram estáveis, mas já acima das expectativas. “Nós estamos com preços sendo praticados em torno de 10% acima do projetado para o boi gordo”, pontuou.
O presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do Rio Grande do Sul (Sindiler), Fábio Crespo, confirma otimismo tanto nas feiras de terneiros como na venda de reprodutores.
“Hoje está sendo praticado um preço melhor por quilo do boi gordo do que em relação ao ano passado”, afirmou.
Sobre qualidade, Crespo considera incontestável o trabalho do pecuarista gaúcho, destacando que, além do Rio Grande do Sul, são prováveis compradores nesta temporada os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. “A genética de carne de qualidade é bastante procurada”, assegurou. O dirigente ressalta que cada raça de bovinos tem seu nicho assegurado no setor de leilões e remates, citando como exemplos as raças Hereford, Braford, Angus e Charolês. “As nossas raças que produzem carne de qualidade com certeza tem cada uma o seu mercado”, concluiu.