Supersafra americana pressiona preços futuros da soja

Supersafra americana pressiona preços futuros da soja

Além de bons resultados na América do Norte, Brasil e Argentina tendem a ampliar a área dedicada à cultura da oleaginosa

Poti Silveira Campos

Preços para contratos futuros da soja desceram aos patamares praticados em 2020

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Negociada abaixo de 10 dólares o bushel, os preços futuros da soja caíram aos valores praticados há quatro anos. A queda nos contratos negociados na Bolsa de Chicago, balizadores das cotações internacionais, decorre, principalmente, de condições climáticas favoráveis à cultura da oleaginosa nos Estados Unidos e da possibilidade de uma supersafra naquele país, conforme avalia o consultor de Safras & Mercados Luiz Fernando Gutierrez Roque.

A abordagem do consultor está em harmonia com a interpretação apresentada, nesta semana, por pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, que apontaram a expectativa da oferta mundial superar a demanda como principal fator do movimento baixista. Dados do Departamento de Agricultura dos EUA revelam que “a produção global da oleaginosa deve passar de 395,12 milhões de toneladas na safra 2023/24, para 428,72 milhões de toneladas em 2024/25, ambos volumes recordes”, conforme divulgou o Centro de Estudos. “Embora as transações internacionais e o consumo global apontem crescimento, os estoques de passagem também podem ser recordes, estimados em 134,3 milhões de toneladas para 2024/25, quantidade 19,5% superior às 112,36 milhões de toneladas na temporada 2023/24”, informou a entidade.

Considerações semelhantes foram indicadas durante o 5º Visão Agro, evento promovido pelo Itaú BBA, em São Paulo, no dia 8 de agosto. Na oportunidade, o consultor Francisco Queiroz alertou sobre a combinação de “grandes safras trazerem conforto à oferta e pressão sobre os preços”. De acordo com Queiroz, além de favorecidos pelo clima, os produtores americanos aumentaram a área dedicada à soja para 2024/25. Tanto Queiroz quanto Roque acrescentam ainda a perspectiva de área maior na Argentina e no Brasil.

Dois cenários

De acordo com Roque, uma análise de eventuais consequências do momento atual devem considerar dois cenários. O primeiro considera à safra 2023/24, “o mercado disponível à soja que temos na mão, que vai até dezembro ou janeiro”. Neste quadro, o consultor prevê que o mercado não deverá perder “muito mais força” do que o registrado até agora. No primeiro semestre de 2024, segundo Queiroz, a redução em Chicago, atingiu 19,2%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. “Em Sorriso (MT), Rio Verde (GO) e Paranaguá (PR), a desvalorização apresentada no semestre foi de 16,7%, 18,1% e 17,6%, respectivamente”, diz o consultor do Itaú BBA.

Roque inclui os prêmios de exportação como um fator que “pode trazer um ambiente um pouco mais positivo para os preços no Brasil, até dezembro”. Ao mesmo tempo em que o Brasil acumulou perda produtiva na soja em 2024, reduzindo a oferta, o consumo, a exportação e o esmagamento se mantiveram “fortes”. “Isso vai resultar em estoques mais baixos, estoques brasileiros mais apertados até o final do ano, e tende a trazer um ambiente positivo para os prêmios de exportação, que devem continuar subindo, ajudando na formação do preço, trazendo algum suporte ou até mesmo melhorando a conta”, explica Roque.

Safra nova

O segundo cenário percebido pelo consultor é o da “safra nova, que são os preços referentes à produção que vamos começar a plantar, no Rio Grande do Sul, a partir de outubro”. Neste contexto, “a tendência é negativa. Temos essa supersafra americana, que pesa desde já, e, ali na frente, vamos ter plantio na América do Sul. Se o clima for positivo ao longo de outubro, novembro, dezembro e janeiro, vamos colher uma safra maior na América do Sul do que a gente colheu em 23/24. Isso vai trazer mais oferta de soja no mundo”. Uma melhoria nos preços em 2024/25, de acordo com Roque, poderia ocorrer diante de “algum problema climático na América do Sul que leve a corte de produção”.

Por fim, o consultor de Safras & Mercados recomenda “atenção especial em relação à questão cambial, que está bastante volátil, principalmente com o juro americano. Existe a possibilidade de o banco central americano começar a reduzir a taxa de juro, já agora em setembro. Isso acontecendo, pode ser que o câmbio perca um pouco de força, o dólar fique mais fraco frente ao real, e isso pode atrapalhar a formação do preço”.

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