Supersafra brasileira e demanda estável pressionam cotação da soja em Chicago
Colheita histórica nacional e valorização do dólar impulsionam exportações mas retraem os preços

publicidade
Oferta abundante e demanda moderada impactam os preços atuais dos contratos futuros da soja por bushel na Bolsa de Chicago. A avaliação do cenário é do economista-chefe da Alta Vista Investimentos, Guilherme Jung Bittencourt. Ele acrescenta que a valorização do dólar frente ao real também torna o grão nacional mais competitivo no mercado internacional.
“Vivemos um momento de grande oferta global. O Brasil colhe uma safra histórica, enquanto os Estados Unidos também elevaram sua produção. Por outro lado, a demanda chinesa segue firme, mas sem mostrar crescimento expressivo. Isso segura os preços”, pontuou o economista, detalhando que os contratos futuros estão girando em torno de 10,08 dólares por bushel.
Bittencourt ressalta que o Brasil é o maior exportador mundial de soja, seguido pelos Estados Unidos, e que a China é o maior importador do grão. Os produtores brasileiros devem colher, segundo o mais recente levantamento divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o maior volume na história da cultura no país. A instituição projeta uma produção de 167,9 milhões de toneladas da oleaginosa, resultado 20,1 milhões de toneladas superior à safra passada. Desse total, a região produtora destaque é Centro-Oeste, que deve registrar um novo recorde na produtividade média das lavouras com 3.808 quilos por hectare.
“O Brasil praticamente dobrou sua produção de soja, enquanto os Estados Unidos continuaram com o mesmo nível”, afirmou, comparando as mudanças de cenários no transcorrer dos anos de 2017 a 2024. No início desse intervalo de tempo, conforme o economista, os norte-americanos representavam 35% das importações de soja feitas pelos chineses e o Brasil 51%. “Agora o país é responsável por mais de 60% e os Estados Unidos representam 20%, ou seja, o Brasil se tornou o maior produtor de soja por conta desse desvio de comércio", explicou.
Neste segundo capítulo de tarifas do presidente estadunidense, Donald Trump, para a China, anunciado no decorrer de abril (em seu primeiro mandato também implementou a medida), o economista apontou a possibilidade dos chineses praticamente substituírem as aquisições do grão norte-americano pelos do Brasil.
“Com uma condição de oferta maior para o nosso país que está produzindo mais, atendendo essa demanda, os preços podem vir a cair também. Existe um um movimento diferente do que tínhamos lá atrás, em 2017/ 2018, quando a economia global cresceu muito e demandava muito. Os preços também tinham certa pressão naquele período, em ascendência, e agora o momento é um pouco distinto”, destacou.
Ele alerta que a China vem apresentando uma desaceleração da sua economia, com crescimento abaixo de 5%, e estabilizando seu volume de compra da soja mas que o Brasil pode se beneficiar com um volume maior de exportação apesar da queda nos preços e os chineses pelo câmbio atual que tornam a commodity mais barata para eles.
O economista, entretanto, aponta que câmbio é a variável mais difícil e complexa de se projetar. Tem fatores comerciais de exportação, de importação e financeiros que influenciam na definição do seu valor.
“O que trouxe esse dólar para esse patamar? Foram fatores domésticos. O gasto do governo aumentando, a inflação subindo, a incerteza em honrar os títulos públicos, com o equilíbrio fiscal, aumentou o medo do investidor que tirou seu capital do Brasil”, finalizou.