Greve de metroviários tem trens mais cheios e movimento próximo da normalidade em estações

Greve de metroviários tem trens mais cheios e movimento próximo da normalidade em estações

Composições circularam em intervalos de 20 minutos

Felipe Faleiro

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A paralisação dos metroviários, previamente agendada pelo sindicato da categoria, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários e Conexas do RS (Sindimetrô-RS), para ontem, durante 24 horas, não atingiu a totalidade do serviço, depois que a Trensurb obteve um mandado junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4) impedindo bloqueios das catracas, invasão de vias ou da compra de passagens por parte dos usuários. 

Em vez de parar totalmente, a Trensurb circulou as composições em intervalos de 20 minutos nas estações, o que causou reflexos no horário de pico no período da manhã. Nesta terça, o serviço volta ao normal. Trens ficaram mais cheios, mas não houve lotação nas estações, que abriram dentro de certa normalidade, enquanto a movimentação de passageiros foi também considerada próxima do habitual. Nesta segunda-feira pela manhã, o diretor de Administração e Finanças, Geraldo Luis Felippe, esteve novamente na sede do TRT4 para discutir o futuro da paralisação.

Houve, porém, quem não sabia da greve, como o eletricista Nilton Marques, morador de Sapucaia do Sul, e que estava na Estação Sapucaia aguardando para embarcar a Porto Alegre. “Trabalho à noite, e talvez por isso pediram para eu vir mais cedo. A empresa não me disse nada”, comentou ele, surpreso. Já a advogada Cristiane da Silva estava acompanhada da mãe, a doméstica Nair da Silva, ambas também rumo à Capital. “Soubemos da paralisação pelos panfletos que recebemos na semana passada”, afirmou Cristiane, se referindo ao documento entregue aos usuários pelo Sindimetrô RS nas estações terminais Mercado e Novo Hamburgo, e que informava do ato.

“Pegaríamos o ônibus, mas vimos que a estação estava aberta, então viemos para cá”, relatou ela. Muitos fizeram o mesmo que mãe e filha, refletindo no movimento nas paradas de ônibus, que também esteve próximo do normal, e até, em alguns momentos, abaixo do habitual. Na avaliação da Metroplan, estatal reguladora do transporte coletivo intermunicipal na Região Metropolitana, com os ônibus circulando com mais frequência para os mesmos destinos, para dar conta da eventual demanda, as paradas esvaziaram mais rapidamente.

Comércios não abriram as portas em estações

A abertura das estações da Trensurb contribuiu para o número menor de pessoas nelas. Ao longo da manhã, o superintendente da Metroplan, Francisco Horbe, chegou a comentar que a tabela especial dos ônibus somente se manteria caso os trens seguissem operando a cada 20 minutos. Caso contrário, a circulação seria normal. Junto a sede da Trensurb, no bairro Humaitá, zona Norte de Porto Alegre, representantes do Sindimetrô RS e outros sindicatos protestaram com um carro de som e palavras de ordem contra a privatização e demais demandas que originaram a paralisação.

Se o movimento de pessoas foi relativamente próximo da normalidade, o mesmo não se pôde dizer dos comércios dentro das estações, alguns dos quais não abriram as portas. “Tive de ligar às 5h para a Trensurb para saber se abriria ou não a estação. Fui informada de que sim. Mas hoje está o horário de domingo. 80% dos meus clientes fixos diários não vieram. Não tínhamos a certeza de que abriria. Faltou um pouco de comunicação pela companhia”, disse a vendedora de lanches de uma estação, que não quis se identificar.

Reforço da BM justificado pela “possibilidade de confronto”, disse Trensurb

A Força Tática e o Choque do 11º Batalhão de Polícia Militar (11º BPM), com, pelo menos, cinco viaturas, estiveram no local, acompanhando a manifestação de cerca de 50 pessoas, que encerrou pacífica. Os manifestantes estavam concentrados na área desde a noite de domingo. Segundo o diretor-presidente da Trensurb, Pedro Bisch Neto, a presença massiva da Brigada Militar foi justificada, primeiramente, pela própria autorização do uso da força, caso necessária, concedida pelo TRT4, e ainda possibilidade de confronto. A Trensurb pediu ainda o reforço da BM e guardas municipais junto às estações.

“Já houve, inclusive, depredação, incêndio, invasões da via. Temos um conhecimento grande sobre estes assuntos. Sabemos como uma greve começa, mas como ela se desenvolve e termina nunca se tem certeza”, comentou Neto. No começo da manhã, o presidente do Sindimetrô RS, Luiz Henrique Chagas, disse às portas da Trensurb que a adesão era de 85% dos servidores, e, em alguns setores, chegou a mais de 90%. “Esta greve é legítima, legal e a empresa deveria respeitar”, disse ele.

Segundo Chagas, a reunião de Felippe com o TRT4 poderia dar fim à greve durante o dia de ontem mesmo, sem necessidade de aguardar o prazo de 24 horas previamente estabelecido. “Se a Trensurb atender nossas demandas, encerramos imediatamente”, chegou a afirmar ele. Neto negou os percentuais de aderência à paralisação, e afirmou que a manifestação foi mais restrita à equipe de segurança operacional, cujo adicional salarial de risco de vida foi retirado pela Trensurb, segundo o sindicato. “A Justiça já pediu que estes descontos fossem suspensos até o julgamento do mérito, e estamos fazendo”, comentou o diretor-presidente.

Outra argumentação do sindicato era a retirada da Trensurb do Programa Nacional de Desestatização (PND), promessa não cumprida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia prometido eliminar o projeto. Segundo Neto, a Trensurb em si não tem gerência sobre o assunto. “Não sei dizer como será futuramente, porque é uma decisão do governo. Agora, o serviço é público por sua própria natureza. O fato de ser estatal ou concedido é um detalhe operacional. Apenas prestamos todas as informações às consultorias contratadas pelo BNDES, e inclusive a Trensurb foi a empresa mais adimplente em todos os dados solicitados”, afirmou ele.

O sindicato anunciou a paralisação marcada para ontem no último dia 28 de abril. Na sequência, a Trensurb protocolou a ação judicial, que também estabelecia multa de R$ 100 mil por dia para o sindicato em caso de descumprimento das medidas já citadas. No último sábado, houve uma primeira reunião de mediação na sede do TRT4, e o sindicato encaminhou as propostas discutidas para uma assembleia local no domingo. Na ocasião, no entanto, elas terminaram rejeitadas pela categoria.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895