Juíza que aceitou liminar suspendendo obras do Parque Harmonia foi "ludibriada", diz GAM3 Parks

Juíza que aceitou liminar suspendendo obras do Parque Harmonia foi "ludibriada", diz GAM3 Parks

Em processo, concessionária administradora do espaço chamou de "manipulação" imagens feitas por drone mostrando suposta devastação

Felipe Faleiro

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A GAM3 Parks, concessionária administradora do Parque Harmonia, em Porto Alegre, encaminhou um recurso direcionado à presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) contra a decisão da 3ª Câmara Cível do Tribunal do próprio tribunal que manteve a liminar suspendendo as obras de revitalização do parque. A empresa, representada pelos advogados Flávio Luz, Carine Aneli Martins e Francisco Jansen Ferreira, foi derrotada duas vezes na 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, pelas juízas Gabriela Dantas Bobsin e Letícia Michelon.

Na peça processual, a GAM3 Parks, à qual deverá se somar a Associação dos Piquetes do Parque da Estância da Harmonia e do RS (Aspergs), alega que Gabriela foi “ludibriada”, e que as imagens feitas por drone mostrando suposta devastação no parque foram manipuladas. “Trata-se de manipulação de imagem em ângulo/corte maliciosamente pensado para passar um cenário de terra arrasada e retirada de árvores de grande porte”, diz o documento, relatando ainda que, em 2020, antes da concessão, os mesmos vegetais já não estavam no local.

A suspensão ameaça a realização do Acampamento Farroupilha, que ocorre em setembro, mas cujas obras de infraestrutura estavam previstas para iniciar no último dia 1º. Sobre o evento, a empresa alega no agravo que o mesmo “é inviável” sem a montagem da infraestrutura “nos próximos dez dias”, como montagem dos piquetes, finalização da rede elétrica subterrânea, rede de esgoto, drenagem, acessos para ambulância e Corpo de Bombeiros. 

Cita também o show do grupo musical Sorriso Maroto no local, no próximo domingo, com mais de nove mil ingressos já vendidos. “Eventual manutenção da decisão liminar implicará em enormes prejuízos, não somente à concessionária, mas aos trabalhadores, comerciantes, produtores, artistas, frequentadores, consumidores e à imagem da cidade”, relata a empresa. A Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Procuradoria-Geral do Município (PGM), prepara recurso semelhante, que deve ser interposto até esta sexta-feira. 

A ação originalmente foi proposta no final de julho pelo Movimento Salve o Harmonia, formado por mais de 30 entidades ligadas a área ambiental, que alega, entre outros aspectos, o corte já realizado de mais de cem árvores das 432 previstas inicialmente, prejudicando a fauna e flora do local, e a alteração do projeto original sem as devidas autorizações. Procurada para comentar a questão, a GAM3 Parks, por meio de sua assessoria, disse que “é literalmente, aguardar”, e espera que o julgamento de seu agravo ocorra no TJRS “o mais rápido possível”.

O professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Coordenador-Geral do Instinto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), Paulo Brack, um dos defensores do movimento, disse novamente que os ambientalistas não se opõem à realização do Acampamento Farroupilha, mas afirmou que a eventual aprovação parcial da continuidade das obras para o evento é “delicada”. “O conjunto de obras que estava em curso e causava grande impacto extrapolava isso”, salientou ele.


Correio do Povo
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